“De Volta a” é uma nova rubrica mensal em que eu me dedico a jogar de novo algo que analisei ou deixei de jogar há pelo menos 3 meses. Ver se tenho saudades de jogar, se ainda tenho a mesma opinião do jogo e se foram feitas actualizações que o transformaram. Para fazer a viagem inaugural voltei a Sea of Thieves.

Na altura, no que parece ser há muito tempo atrás fiz dois artigos sobre este jogo fantástico mas pouco apreciado da Rare, um primeiro no seu lançamento e outro meio ano depois. Algures nos inícios de 2019 por várias razões mas maioritariamente por causa da vida e adultar deixei de jogar, e recentemente peguei em Sea of Thieves outra vez e…

Tenho adorado voltar ao leme da Áries, a minha pequena embarcação que me tem feito chegar às costas mais belas e perigosas das ilhas de Sea of Thieves, transposto os mares mais turbulentos ou velejando nas águas mais calmas. Tem sido glorioso! Tal como as vistas do pôr do sol enquanto pesco.

Quando foi lançado, Sea of Thieves teve uma recepção pouco calorosa da crítica e do público e depois aos poucos foi aumentando o seu conteúdo tornando-se cada vez mais um jogo altamente recomendável a quem tem o GamePass da Microsoft para Xbox ou PC já que o jogo é cross platform. De um sandbox aparentemente vazio em que os jogadores na sua maioria só podiam lutar uns contra os outros para terem alguma emoção tem agora vários modos de jogo inclusive um exclusivo para quem quer apenas PvP, apesar de o jogo clássico continuar a ter essa vertente, existem agora mais missões, mais ilhas, mais coisas para fazer, até existem missões que podemos ir fazendo. Nestas, jogamos 20 minutos hoje, mais 15 amanhã e 3 horas no dia seguinte para completar as tarefas, já não tem aquela obrigatoriedade de um jogo multiplayer online no qual quando se começa algo tem que se levar até ao fim. Sea of Thieves de hoje permite várias opções aos jogadores.

Mas o melhor deste jogo agora é a comunidade, tudo bem que continuam a existir trolls e jogadores cujo intuito é mais agressivo mas por outro lado existe um sentido de irmandade nos mares, antes jogava bastante com o meu irmão mas agora cada vez mais me agrada jogar sozinho. Nada contra o meu irmão, só não temos tido oportunidade de o fazer. No jogo, há alguns momentos de tensão, às vezes não sabemos se quem encontramos nos vai propor uma aliança, vai trocar bens ou vai atacar. No final de contas continua a ser um mar cheio de piratas mas no geral são piratas amigáveis. Vou dar dois exemplos que me aconteceram recentemente no jogo que requerem algumas explicações prévias para quem não conhece o jogo.

Uma aventura com um baú muito desejado:

Ocasionalmente em Sea of Thieves vemos uma espécie de pluma verde e vermelha a erguer-se no horizonte cuja posição também está assinalada no mapa. Todos os piratas sabem que está ali um Reaper Chest. Algo muito desejado por todos porque a sua recompensa é doubloons. O que equivale aos créditos pagos de jogo. Basicamente, podemos ganhar créditos das microtransações sem gastar dinheiro real. Isto é óptimo mas tem o seu revés. Estes baús só podem ser entregues numa ilha específica portanto quando alguém vê a marca a mexer no mapa há uma tendência de perseguir esse barco ou “fazer uma espera” em Reaper’s Hideout onde tem que ser vendido. Na internet, nos Reddits e Twitters entregar Reaper’s Chests é considerado dos feitos mais complicados porque é literalmente colocar um alvo nas nossas costas. Portanto o que é que Capitão Machado decide fazer quando vê a marca a algumas milhas de distância?

Vamos lá buscar o baú e assim conta a minha história épica: 

Cheguei ao local do naufrágio e parei a Áries. Nem a ancorei só deixei com as velas recolhidas para ela não ir muito longe enquanto eu mergulhava para recuperar o baú e poder fugir rápido. Olhei em volta para garantir que não tinha velas a aproximar-se no horizonte. Tudo aparentemente tranquilo e eu mergulhei, procurei o baú e trouxe-o de volta para o barco deixando vários outros tesouros para trás já que só podia carregar um item de cada vez. Estendi as velas e apontei para Reaper’s Hideout. E pensei… “F***-**! Vou contra o vento! Estou completamente F*****!”

Lentamente fui avançando olhando em volta, corrigindo lentamente a direcção até à ilha tentando aproveitar as rajadas laterais para mover-me um pouco mais rápido que um caracol. A viagem era de mais de metade do mapa, fi-la com canhões carregados e pronto para a luta mas sempre com aquele temor, aquele aperto na barriga que me dizia “Se apanhas uma aliança ou até só um galeão bem tripulado não tens hipótese”…

Ao fim de uns minutos vejo a ilha, que era desconhecida para mim… em algumas eu sei onde estão as lojas e os representantes das guildas mas ali não, nunca lá fui. Aproximo o barco do que me parece ser uma praia e olho em volta. “Nem uma vela? Nem um barco à vista?”

Não quis arriscar e encalho a minha nau. Corro com o baú nos braços à procura de não sei o quê, “Onde é que tenho que entregar esta m****?” penso enquanto uma gota de suor me escorre pela cara. Vejo uma tenda com um NPC, levo o baú, vendo-o e suspiro de alívio. E um pouco de desilusão também. Decido beber um pouco de grogue e tocar umas músicas.

Enquanto o Capitão Machado cambaleia embriagado pela praia chega um galeão ao pé do meu barco.

“Chegaram tarde seus palhaços!” gritei!

What!?!” Responderam os 4 membros da embarcação e começam a descarregar tudo do barco deles para o meu. Falámos um bocado: Eles estavam a acabar a sua aventura, tinham recolhido várias coisas e estavam a dar-me o que eu quisesse. O resto iam deixar na praia para outros jogadores encontrarem. Antes de irem, pediram se eu dava um fim digno ao barco deles.

Bombardeamos aquilo até só sobrarem lascas de madeira. Foi lindo. Bebemos, vomitámos e tocámos. Eles foram embora. E eu descarreguei tudo para a praia e desliguei. Acho que quem apareceu ali depois deve ter ficado alegremente surpreendido.

Uma aventura com um barco de esqueletos:

A minha sessão mais recente foi interessante também, estava só a velejar enquanto perdia tempo na vida real para ir adultar e essas coisas de responsabilidades. Quando estava prestes a desligar vejo perto de mim uma batalha naútica debaixo de uma nuvem enorme em forma de barco (estas marcam a posição de barcos especiais de I.A.). Um galeão de esqueletos atacava uma embarcação de três tripulantes. Choviam balas e fogo para cima destes que mal conseguiam controlar a sua embarcação. Por um lado pensei “Segue o teu caminho Machado, não tens nada a ver com isto eles meteram-se ali porque quiseram” mas por outro lado pensei também “Ah… QSFD!”  e virei para a batalha. Acertei no galeão com dois tiros bem dados para lhes chamar a atenção e quando eles viraram para mim… bem o video mostra o que aconteceu:

Resultado final: Afundei o galeão com aquele embate acumulando danos sérios aos que os outros já haviam feito. Uma estratégia que uso às vezes quando vejo que estou a perder uma batalha. Irrita muito os meus adversários. Neste caso afundei o meu barco também porque é mais frágil e fiquei a nadar em alto mar. O outro barco pára próximo de mim, subo ao convés e um dos tripulantes (os outros estavam no porão a remendar os buracos feitos pelas balas de canhão) agradece e propõe uma aliança, começar uma armada, eu recuso explico que ajudei na batalha sacrificando o meu barco (que entretanto estava a fazer respawn algures) porque ia desligar. Não tinha interesse em tesouros ou mais nada desta vez, apenas não ia deixar uns ratos do mar em apuros sem ajudar. Bebemos grogue, e tocámos músicas e eu desliguei com a promessa deles nos meus ouvidos que iriam contar a minha história a outros e um dia iriam retribuir o favor a alguém.

Sea of Thieves é isto. Tornou-se o que a Rare quis, um centro de fazer histórias. Um lugar onde os jogadores se podem reunir e fazer as suas aventuras, criar as suas lendas ou simplesmente divertirem-se, podem lutar uns contra os outros, podem lutar ao lado uns dos outros, podem fazer amigos ou criar rivalidades, podem ser Capitães lendários ou simplesmente um tripulante, podem ser o que quiserem. Não foi um caminho fácil para a Rare ou para os jogadores, foi preciso encher a plataforma com mais uns brinquedos mas depois de o terem feito tornou-se algo memorável. Sea of Thieves é um jogo espectacular para partidas a solo ou em multiplayer, é um exclusivo Microsoft PC/XBOX One disponível para compra directa ou no Gamepass.

Para o mês, voltarei a outro jogo, qual? Saberão daqui a 30 dias. Mais ou menos.

Talvez…