É provável que a curiosidade de ver para trás do pano seja prevalente apenas para quem trabalhe de alguma forma na produção de conteúdos. Crescemos com a TV enquanto centro do nosso consumo cultural, mas quantos de nós já percebeu a verdadeira magia que obriga a ter um programa bem realizado? 

Algo completamente diferente do que aconteceu no último WWE Royal Rumble, em que o realizador mudou o plano para o público, e fez-nos a todos perder a primeira Spear em muitos anos do regressado Edge. Mais ou menos o equivalente a ter uma transmissão futebolística e no momento do golo o realizador estar a focar a câmara direccionada para um apanha-bolas.

Not For Broadcast, recém-lançado em Early Access, é mais do que um simulador de realização, é, na sua essência, uma tentativa de mimetizar um propaganda sim, em que não só temos que nos preocupar com a qualidade técnica dos programas, mas também do seu conteúdo. E aqui, a mensagem é tudo.

O choque inicial é tremendo, sobretudo porque o painel de controlo da nossa estação de televisão tem muitos painéis e muitos botões. Os programas em directo são o grande desafio, e apenas a janela de 2 segundos de delay entre o que estamos a ver à nossa frente e a transmissão televisiva nos impede de passar o conteúdo errado para os telespectadores.

De realçar que Not for Broadcast se passa num Reino Unido alternativo nos 1980s em que um partido de extrema-esquerda toma o poder de assalto, e nos escolhe de entre todos os funcionários da estação estatal, para substituir o realizador que acreditamos ter sido “apenas” exonerado. 

Temos portanto e ir cortando e editando o programa em directo. Estar muito, muito atento ao vernáculo dos convidados e participantes e ir aproveitando para ir assinalando-os com os eternos beeps. Ou fazer malabarismo com as câmaras, não só para tornar o programa dinâmico, mas também para evitar que algumas situações mais surreais possam passar para a visão do grande público. 

Os programas que editamos, que são os nossos “níveis” foram todos filmados por inteiro pelo estúdio NotGames. O tom é maioritariamente composto pelo exagero e pela aura over-the-top enlouquecida dos programas dos 1980s. Apesar de gostar da abordagem notoriamente DIY de filmagem, low-budget dos programas, acho que existe uma colisão grande entre a mensagem mais séria que o jogo quer passar e o desequilíbrio psicótico de alguns dos problemas.

Não esquecer que somos parte da tensão distópica de uma ditadura ficcional dos 1980s, e que somos parte do aparelho de propaganda, filtrando aquilo que o público vê e ouve. Não digo que Not For Broadcast tivesse obrigatoriamente de ter um tom sério constante, mas com a imersão que temos com a loucura de cada programa e a multiplicidade de comandos, controlos, cortes, mudanças de planos, publicidade, entre outras alterações constantes da edição do programa, que muitas vezes é fácil cairmos no esquecimento de que tudo isto representa uma realidade que infelizmente, existe um pouco por todo o mundo.

Este novo jogo publicado pela tinyBuild é uma das maiores surpresas deste início de ano, é possivelmente o primeiro e único propaganda/tv simulator que já contactei e tem uma abordagem verdadeiramente original a um tema que está cada vez mais na ordem do dia.