Em tempos de confinamento e isolamento social os dias parecem todos os mesmos. Tanto que chego ao exagero de não ter percebido que já se passaram 5 anos desde que joguei o último Musou da série One Piece. Se me perguntassem era capaz de apostar que tinha sido há um par de meses. Mas não.
A fórmula da Omega Force está de volta, no meu caso poucas semanas depois de falar de Warriors Orochi 4. Receio ficar com um reflexo pavloviano aos Musous e associar automaticamente este subgénero à pandemia que todos vivemos. O que tendo em conta a velocidade com que estes jogos saem, é coisa para agravar o stress pós-traumático que antevejo na minha vida pela pressão da pandemia.
Se a Koei Tecmo (neste caso em parceria com a Bandai Namco) se dá ao direito de reutilizar e repetir a sua fórmula, vou arrogar-me ao direito de repetir a minha introdução e muitas das considerações que fiz há 5 anos. Não se chateiem. De certeza que não leram ou não se lembram do que eu escrevi. Já nem eu me lembro.
A minha paixão pela Nona Arte sempre rondou essencialmente a produção norte-americana e europeia. Havia algo numa série de convenções estilísticas da banda-desenhada nipónica (manga) que me afastavam dessa abordagem. Recursos estéticos, ritmo narrativo, e uma série de idiossincrasias culturais que me eram estranhas e que me dificultaram o mergulho no mais profícuo mercado de BD do Mundo. Tinha lido Dragon Ball nos 1990s, assim como li algumas coisas de Ranma ½, mas o manga nunca passou de leitura secundária para mim. Até que há uns bons anos conheci One Piece de Eiichiro Oda, um manga sobre piratas num mundo fantástico, com um estilo artístico que saía por completo das constrições (que eu achava que o meio tinham) e com o condão de ser para mim, até hoje, a epítome da criação de personagens. Oda, com One Piece, quebrou todas as barreiras intelectuais e artísticas que eu tinha em relação ao manga. Sigo a série religiosamente e tenho tentado conhecer outros media onde a franquia se mova.
Voltando a uma das afirmações iniciais: todos os jogos de Warriors são iguais, as mecânicas são iguais, derrotamos milhares de soldados que nada valem por combate, conquistamos porções estratégicas do mapa, defrontamos bosses. Hack n’ slashing tão puro que ninguém consegue ser indiferente: qualquer jogo ligado à fórmula Warriors ou é adorado ou é detestado. Mas essencialmente o segredo reside na pele que vestem ao jogo. Mas outros crossovers existem, que vestem a série Warriors com outras franquias de sucesso (especialmente no Japão), tais como Fist of the North Star e Gundam. O que significa que se neste momento alguém perguntar “One Piece: Pirate Warriors 4 é um jogo para mim?” eu terei de responder com duas perguntas: “Gostas da série Warriors?” e “Gostas de One Piece?”. A resposta negativa à primeira pergunta exclui por completo a segunda, sendo que uma resposta negativa à segunda pode não determinar a exclusão da primeira. A resposta afirmativa a ambas é a única certeza de agrado.
Ao contrário dos seus antecessores que tentaram meter o Rossio na Rua da Betesga e forçar todos os muitos arcos narrativos dentro de um jogo, Pirate Warriors 4 vai num caminho diferente: decide apostar em apenas 8 arcos ao longo de 34 missões de história, que vão conseguir, espero, apresentar melhor o maravilhoso elenco e mundo criado pelo génio de Oda.
O elenco jogável, esse, estende-se por mais de 40 personagens. Como referia no mais recente episódio do Split-Chicken, como fã de One Piece a única crítica que tenho a fazer a este Pirate Warriors 4 prende-se com os inimigos. Digo e farto-me de repetir: para mim não existe universo mais rico em criatividade que o de One Piece. Os vilões, mesmo os coadjuvantes dos vilões principais, são todos extremamente originais, com poderes estranhos mais imaginativos. A sua tradução para jogo neste Pirate Warriors 4 é pouco perceptível e pouco ou nada representam as suas capacidades de luta. Parece que a atenção dada aos vilões principais canalizou os esforços de desenvolvimento, de forma que os secundários são apenas pastiches, à semelhança da arraia miúda de soldados que nos circundam como formigas.
Visualmente excelente, a utilização das capacidades técnicas e gráficas nestes 5 anos que separam os dois títulos transformam-no numa das mais brilhantes adaptações visuais do traço de Oda, que brilha aqui em cel-shading com toda a sua glória artística.
One Piece: Pirates Warriors 4 é um excelente jogo de Warriors, com um sistema de level up semelhante aos mapas de skills de Final Fantasy X. Mas será que é um jogo para toda a gente? Não, de todo. Mas para fãs de Warriors e/o One Piece este pode ser um jogo obrigatório. Para os restantes, quem sabe, pode ser uma maravilhosa porta de entrada para um dos mais mágicos e criativos mundos que já conheci.