Estar mais tempo em casa (ainda que pouco mais, que quem é agarrado aos jogos já não ia assim tanto à rua) por causa da quarentena revelou-se um curioso exercício de auto-conhecimento.

Exemplo sob análise: sempre soube que tinha um fraquinho por franquias de videojogos. Pensando sobre o meu historial, os meus títulos preferidos andam sempre à volta de Pokémon, Final Fantasy, Fire Emblem, Mario, Zelda. Nada de estranho – geralmente bons jogos, com as devidas exceções.

Onde este fraquinho começa a ficar preocupante é quando com tanta ou mais frequência andei à volta de Need for Speed (Undercover, The Run e Payback incluídos), Dragon Ball (com um Xenoverse e um Budokai a mais), Digimon (nunca joguei um dos bons) ou Harry Potter (Legos à parte, sobra mediocridade).

Joguei este…

Sobre automóveis, o conhecido apresentador Jeremy Clarkson escreveu uma vez que não fazia mais sentido os frabricantes produzirem carros feios. Só que continuam. Sobre videojogos, eu menos conhecido colunista do Rubber escrevo que não faz mais sentido jogarmos maus videojogos. Mas continuamos a fazê-lo. Ou pelo menos deixar de jogar grandes jogos, por motivos absurdos.

…quando devia era ter jogado este.

Recebi Witcher 3 (Switch) de prenda há umas semanas. Só toquei ao de leve no 1, vi a série e ainda não li os livros, pelo que o 3 tem sido a minha primeira experiência profunda no universo de Andrzej Sapkowski. Portanto nesta minha lógica de franquia, só faço tenções de jogar este. Então que fez o meu cérebro? Deixou o jogo na prateleira uma semana, comprou o Football Manager 2020 e o Bravely Default, este último porque ah e tal vai sair um terceiro para a Switch, afinal ja é franquia, deixa-me jogar os outros dois.

Nada contra as minhas aquisições, mas como provei a mim próprio há dois dias depois de passar um dia inteiro com Witcher 3, não fizeram sentido. E depois perguntei-me porquê.

“I am Geralt of Ringabel”

Só consigo chegar à conclusão de que tenho uma necessidade patológica de familiaridade nos videojogos. Pegar neles e não pensar muito. Só assim se explica como ando há oito meses de volta de Fire Emblem Three Houses (e andei um ano à volta de Fates), repito saves com o Sporting em cada Football Manager ou repeti vezes sem conta o cânone de Dragon Ball Z em vários jogos.

Sobre o Bravely Default só me ocorre ser muito mais fácil pegar neste JRPG de mecânicas familiares do que perder horas (precisei à volta de umas três) a habituar-me a um Action RPG como Witcher 3, brilhante como é. Seja a quantidade de coisas anormais que me preocupam estes dias, seja essa falácia do tempo livre (é isto que lhe chamo a quem trabalha a partir de casa) em quarentena, é como calçar um sapato velho.

O entusiasmo suscitado em mim pelas minhas franquias favoritas também me desperta a noção de que estão condenadas a uma existência paradoxal: pela sua necessidade de lucro a todo o custo, vão quase sempre suscitar más adaptações fora do seu media original. Se eu fosse rico, era fazer justiça a Harry Potter ou Velocidade Furiosa com os meus game designs