“Ah, the 80s!”. É com esta frase simples que todos os episódios de The Goldbergs começa, narrado pelo actor Patton Oswalt a interpretar Adam Goldberg, escritor e realizador, que utiliza esta divertida sitcom para representar Adam Goldberg, o adolescente, ele mesmo, numa versão extrapolada da sua vida nos anos 1980.
Admitindo que, como a maioria das séries de comédia que se estendem para lá da sua validade, The Goldbergs há muito perdeu o gás inicial, de se focar num aspecto específico da cultura pop dos anos 1980 para falar da vida de Adam e da sua família, mas ainda assim continua a ser um excelente recordatório da loucura criativa que esta década representa.
Há filmes, livros, séries e jogos que só poderiam mesmo existir nos saudosos 80. Produtos na corda bomba entre a loucura e a inventividade, num mar ondulado entre o kitsch e o bom gosto, sempre over-the-top, com cores berrantes.
Não é por isso surpresa que se multipliquem as homenagens a esta década. HyperParasite, após um discreto lançamento em Early Access e a chegar agora a PC, PS4, Xbox One e Switch, é um desses casos.
Sim, é mais um roguelite dual stick shooter, com aura de 1980s. Mas dizer “é mais um” é redutor tomando em consideração que a malta dos Troglobyte Studios quis criar uma coisa diferente com o seu jogo.
Em HyperParasite controlamos um parasita espacial que quer dominar o planeta Terra. O presidente dos EUA, um tipo fictício mas bem mais esperto que o actual e que ainda por cima tem uma pala no olho de forma toda estilosa, e que avisou toda a população da invasão que se seguia, o que “transformou” todos os cidadãos em potenciais soldados.
Como dizia somos um parasita. Quero acreditar que em HyperParasite somos uns parentes afastados das ténias, mas ao invés de nos espetarmos com espigões nos intestinos e nos alimentarmos do que o hospedeiro come, que nos agarramos à espinal medula dele e o transformamos em máquinas de matar. Estarei eu a fazer overthinking a um conceito simples? É provável, mas nunca tenho oportunidade de usar a palavra “ténias” num artigo.
Cada playthrough vai ser curta, com os nossos hospedeiros iniciais a morrerem e a exporem-nos a uma fatídica existência parasitária extra-corpórea vulnerável a 1-hit-kills. Mas à medida que vamos avançando e vencendo bosses, podemos trazer o cérebro deles para o laboratório para que possamos desbloquear o acesso ao seu corpo.
Sempre que morremos temos de começar de novo, com acesso aos corpos desbloqueados (cada um deles com buffs e características próprias). A nossa aprendizagem vai-se fazendo a cada morte, na forma como conhecemos cada vez melhor os inimigos e nos vamos conseguir esgueirar das saraivadas de tiros que preenchem o ecrã.
HyperParasite não é perfeito, mas consegue dar um toque diferente aos twin stick shooters roguelite. Nem que não seja por ser – acredito eu – o único jogo que nos permite controlar um vagabundo a conduzir um carrinho de compras de supermercado. E isso merece logo respeito.