O remake de Resident Evil 2 foi feito com o carinho que os fãs reconheceram, a Capcom deu nova vida ao seu clássico de horror, tornando-o atual, mas mantendo a essência do original. É uma fórmula que a editora nipónica quer repetir em Resident Evil 3 Nemesis, um jogo que na sua época estava a dar sinais de que Shinji Mikami queria dar um rumo diferente à série, tornando-a mais virada para a ação.
Antes de falarmos do novo remake, há que tentar compreender primeiro um pouco do que representou o jogo original. O subtítulo Nemesis diz respeito a um vilão, uma aberração que passa a aventura de terror a perseguir a protagonista Jill Valentine. É indestrutível e apenas pode ser parado momentaneamente. Este conceito de jogo inspiraria a Big Sister de BioShock 2 ou o alien de Alien Isolation. São inimigos presentes, que vão aparecer em diversos segmentos.
Tal como aconteceu com Resident Evil 2, este remake fez algumas alterações gráficas, usando a mais recente versão de RE Engine, introduzido em Resident Evil 7. Esteticamente parece-se muito com o remake anterior, mas se olharmos para trás, também o terceiro jogo original é muito semelhante aos anteriores. Aliás, a trilogia inicial oferecia ação baseada em cenário estáticos, pré-renderizados, enquanto os novos jogos são todos 3D, com um grafismo muito detalhado e mais interativo.
Essa é aliás a grande valia para o novo Nemesis, que destrói paredes ou portas nas suas aparições, sendo bem mais assustador que o jogo original. Mas não necessariamente mais poderoso, pois é relativamente fácil desviar dos seus ataques, graças à ação de dodge, que o original também tinha. Mas em termos de presença, sem dúvida que a nova versão é bem imponente.
Ainda assim, a Capcom utilizou diversos recursos de Resident Evil 2, rentabilizando assim esse trabalho. Se estivermos atentos, muitos dos movimentos de Nemesis parecem-se com Mister X, que no anterior também era impossível de matar, e que ainda proporcionou a Leon S. Kenedy algumas dores de cabeça. De salientar ainda que apesar da constante perseguição de Nemesis, este não aparece aleatoriamente, mas sim em sequências scriptadas, em locais específicos, ligados à história.
Relativamente à longevidade, que tem sido criticada por alguns meios, de facto não é muito longo, mas apontem para cinco horas ou um pouco mais se quiserem perder mais um pouco de tempo a explorar e recolher todos os itens espalhados pelos mapas. De recordar que o jogo original era também um jogo mais curto que os anteriores, com menos puzzles, e mais focado para a ação.
Enquanto que os primeiros dois jogos obrigava a um exercício de gestão de munições, no terceiro são bem mais abundantes, de forma a responder a mais zombies. E isso leva-nos à gestão do inventário que é um pesadelo, com as armas e munições a ocuparem a maior parte dos slots. Considerando que ainda precisam de levar sprays e plantas medicinais, na hora de guardar objetos vitais da aventura torna-se bem complicado. Terão de jogar com as safe houses para arrumar muito bem o que não precisam num dado momento e fazer essas viagens constantes sempre que encontram coisas novas. Felizmente vão encontrar bolsas que expandem o inventário.
Ainda assim, há algumas alterações que o estúdio fez, que muitos jogadores não vão apreciar. O jogo passa-se maioritariamente no exterior, nas ruas de Racoon City, mas ao contrário do jogo anterior não existem tantas pequenas ruas, diminuindo o factor labiríntico. As áreas são mais amplas para enaltecer os encontros com o Nemesis.
Locais como a Clock Tower, o parque ou a planta de tratamento de água do jogo original foram retirados. No caso da torre do relógio apenas iremos ter um encontro no seu exterior. Por outro lado, temos um hospital maior para explorar, assim como o laboratório subterrâneo. Neste aspeto a Capcom poderia ter-se esforçado mais um pouco e oferecer mais conteúdo de exploração, o que aumentaria um pouco mais a longevidade.
Para quem não se recorda, Resident Evil 3 tem dois momentos temporais distintos, passando-se primeiro algumas horas antes do segundo jogo, Leon S. Kennedy e Claire Redfield ainda não chegaram à delegacia, e uma segunda parte quando a dupla já fugiu da cidade. Essa ligação deu uma oportunidade à Capcom de fazer uma ligação muito interessante entre os dois jogos, nomeadamente vermos os polícias a serem chacinados por leakers dentro da delegacia ou mesmo o polícia Marvin a ser mordido, à porta da mesma.
São detalhes giros, mas que os mais puristas vão olhar para o exterior das ruas para comparar e muitas coisas estão fora do sítio. Já o interior da delegacia, nas poucas áreas disponíveis são as mesmas do jogo anterior, com algumas interações vedadas e portas especiais encerradas.
A estrutura do jogo é também diferente do segundo. Em Resident Evil 2 jogava-se a perspetiva de Leon, e depois dos créditos rolarem muda-se para Claire, repetindo basicamente o mesmo jogo, mas com locais e eventos diferentes. Mas na sua essência era um pouco repetitivo. Em Resident Evil 3, as duas personagens intercalam mais, apesar de um maior foco em Jill Valentine, controlamos Carlos Oliveira em diferentes sequências.
Esta mudança torna a aventura mais coesa e narrativa, sem a necessidade de repetir uma segunda dose para compreender todos os eventos. Obviamente, e tal como qualquer outro capítulo da saga, os jogadores são motivados a repetir, desbloqueando armas inéditas e perks que tornam a experiência divertida e incentivam aos speed runs.
Ainda relativamente aos gráficos, não há dúvida que este terceiro jogo ainda está mais bonito que o segundo, parte disso pelos cenários exteriores, necessariamente mais ricos e coloridos, seja os néons das lojas, o fogo e explosões. Mas claro que todo o sistema de iluminação volumétrica e as sombras dinâmicas em tempo real, ajudam a criar um ambiente ainda mais envolvente.
Mas isso não significa que Resident Evil 3 seja o mais aterrorizante que o anterior. Aliás, contam-se pelos dedos de uma mão os jump scares propostos. No jogo original, essa era a vantagem de termos cenários fixos, em que não era possível adivinhar o que poderia surgir de uma esquina e levar com um zombie, neste remake tudo é bastante antecipado, tirando certas situações.
Ainda relativamente aos zombies, estes estão mais detalhados e variados, ainda que utilizem vários modelos do jogo anterior. No entanto, é mais difícil discernir quando um zombie abatido vai voltar a levantar-se. No jogo original era criada uma poça de sangue quando este morria definitivamente, neste não há nada que indicie, o que pode apanhar os jogadores desprevenidos.
Ainda assim, no remake de Resident Evil 2, todos os corpos abatidos mantinham-se ao longo da aventura, enquanto que no terceiro estes desaparecem. E há uma sequência de ação em que houve necessidade mesmo de os fazer explodir para libertar espaço para mais. É um efeito estranho para a atualidade. Mesmo a física ragdoll dos zombies do jogo anterior estão melhores que este, cujos corpos parecem mais sacas de batata, sem se adaptarem ao cenário.
De um modo geral, e para olhar para a campanha, o jogo é bastante bom, mesmo com algumas mudanças e concessões, o resultado final mantém o nível do remake anterior. Poderia ser melhor trabalhado e ser mais ambicioso, mas ainda assim é obrigatório para os fãs. A Capcom deveria aproveitar esta tecnologia e embalagem para fazer um remake do jogo original, mas também de Code: Veronica, e ao contrário do que pensam os puristas, trazer o quarto jogo para a atualidade.
Arrumada a campanha principal de Resident Evil 3, a Capcom preparou uma surpresa para os fãs chamada Resident Evil: Resistance. O jogo é instalado à parte e é uma experiência completamente diferente da narrativa. Podem até considerar um bónus, recordando que o jogo original trazia um modo especial quando acabavam o jogo chamado The Mercenaries: Operation Mad Jackal, uma espécie de speedrun numa corrida contra o tempo, podendo controlar um dos três mercenários que Jill encontrou durante a aventura.
Desta vez Resistance é um jogo multiplayer assimétrico, num formato 1 versus 4, semelhante a títulos como Predator: Hunting Grounds que vai ser lançado no final do mês ou Friday the 13th. No entanto presta homenagem aos filmes de terror com teenagers e também no espírito de Until Dawn. Quatro jovens são colocados num experimento da Umbrella por um poderoso vilão, um cientista louco que está a testar armas biológicas.
Nesse sentido, estamos perante um jogo de gato e rato, em que os jovens necessitam de recolher armas para sobreviver e encontrar três chaves para abrir a porta de fuga, em dois cenários. Do outro lado, o vilão salta entre as câmaras de vigilância espalhadas pelo mapa, acionando armadilhas, colocando zombies e aberrações, e até mesmo assumindo o controlo direto dos zombies.
É um formato batido, e que vai tornar-se repetitivo rapidamente, mas é um extra muito interessante, com diversos jogadores a jogar no tempo de teste. As personagens têm habilidades diferentes e vão subindo de nível com a experiência acumulada nas partidas, angariando dinheiro para comprar novas armas e afins. Subindo de nível desbloqueia ainda outras personagens, sobretudo do lado do vilão.
Apesar de Resistance ser parte integrante do Resident Evil 3, acredito que a Capcom continue a alimentar este formato, caso tenha bastante adesão. Nota-se no geral que a editora trabalhou não apenas para ser um extra, mas como uma experiência interessante stand alone, isto claro, para quem gosta de formatos assimétricos, o que não é o meu caso pessoal.