
Repararam? (As primeiras edições originais têm um erro de ortografia tsk tsk tsk)
Mar + Frota pesqueira = Peixe! Muito peixe! Atire a primeira pedra quem nunca sonhou em ser um barão da indústria pesqueira japonesa. Eu já! E todos os meus amigos também! Confesso-vos está tipo na minha 8ª ou 9ª posição de profissões de sonho que nunca irei desempenhar. Primeiro que tudo o pedaço de informação inútil para o artigo mas que vos dá negação plausível para estarem aqui a ler o artigo em vez de estarem a fazer o vosso trabalho de maridinho. Sabiam que 40% da quota de mercado do atum rabilho é controlado pelo conglomerado de indústrias da Mitsubishi? Sim, é verdade! Aqueles senhores já não bastava fazerem automóveis como também têm de controlar um dos peixes que está em maior perigo de extinção em todo o mundo! Que tenacidade, caros leitores! Que ambição!
(Segunda coisa, antes de começar mais um artigo. Amigos! Eis acima representado o ciclo de vida do normie nipónico; yen, waifu, karoshi/seppuku, ikebana! – Reparem até aprendem japonês… – E sim, desenganem-se. Aquela waifu dos vossos sonhos é tão real quanto um unicórnio. Espremem-vos os ienes todos para gastar em bens de consumo de luxo tipo bolsas e cenas inúteis! ̶P̶o̶u̶p̶e̶m̶-̶s̶e̶ ̶N̶ã̶o̶,̶ ̶a̶n̶t̶e̶s̶ ̶t̶o̶r̶n̶e̶m̶-̶s̶e̶ ̶n̶u̶m̶ ̶h̶i̶k̶i̶k̶o̶m̶o̶r̶i̶.̶ Carago! Fujam!)

Desenganem-se pela quantidade de componentes, pois o jogo é tão pequeno que pode ser arrumado numa gaveta. Repitam comigo: “Obrigado Jordan Draper.”
Mais uma vez graças ao Paulo Vicente (um dos nossos dealers de jogos de tabuleiro) pudemos jogar Tokyo Tsukiji Market. Tive o prazer de experimentar um jogo ‘recentemente’ saído de Kickstarter. Estreou em 2019, no entanto como só o joguei em 2020 não o considerei como um dos melhores jogos de 2019. Sim, para mim, é um dos bons jogos de 2019. Tokyo Tsukiji Market é um indie no seu mais puro estado, sendo uma espécie de one man show tanto a nível de uma criação tanto mecânica como a um nível de criação artística. Jordan Draper que através da Jordan Draper Games, arriscou e auto publicou-se lançando-se no mercado com um excelente jogo de gestão de recursos.

Noutros tabuleiros mais pequenos podemos comprar licenças, comprar navios e pagar para alugar congeladores (a fim do peixe não se degradar caso ninguém nos queira comprar os recursos piscícolas),
Uma das coisas que mais gostei quando experimentei Tokyo Tsukiji Market foi o facto de estar com uma mecânica muito bem co-relacionada com a realidade. Acho que um jogo de tabuleiro como sendo em parte ou muitas vezes uma representação da realidade quanto mais estiver co-relacionado com esta, melhor. Temos, por isso, um jogo onde os recursos são finitos e as variações de preço estão sujeitas à realidade la lei de mercado da oferta e da procura. Aliás em todo o jogo a presença destas estas forças são uma constante. Torna-se pois necessário maximizar o ganho de dinheiro (sim porque ganhar dinheiro é o mesmo que ganhar pontos de vitória) e saber a altura certa para vender, para comprar, quando adquirir a licença de pesca respectiva, quando armazenar e quando começar a faina. Os recursos piscatórios são finitos. Isto reflecte a situação de sobrepesca de algumas espécies marinhas.

Apanhas, aumenta o preço, vendes baixa o preço…
A mecânica
Sendo o que descrevo como sendo um engine build com gestão de recursos (o que é a gestão de uma empresa na vida real e à séria se não um enorme engine-build com gestão de recursos) cada partida vai invariavelmente passar por desenvolvermos, a partir do nosso cais, primeiramente uma prota pesqueira, seguida pela criação de um portefólio de licenças piscatórias. Subsequentemente passamos à faina seguida da venda e compra de peixe aos outros jogadores.

Sim podem pescar ATUM! A cópia nacional (quase integral, tirando os maneirismos) do estilo Monty Pyton é neste caso bastante educativa…
Cada jogador após adquirir um dos diversos navios em venda (sim porque existem diversos com diferentes capacidades), segue para o mar e gasta uma ação de pesca para apanhar peixe (simbolizado por um recurso com a forma de token cilíndrico). Seguidamente traz o peixe para a sua doca e descarrega-o atribuindo o preço de mercado. Os outros jogadores poderão comprá-lo. Se não o comprarem no final do turno a qualidade do peixe fica afectada pelo que se degrada e passa a valer menos até ao ponto de ficar podre e ser perdido para sempre.

Deviam ter feito uma promo portuguesa só com bacalhau… e esse mercado devia funcionar assim: pescavas e um país longínquo mais viciado em bacalhau (que o Maradona em cocaína em 1980) comprava tudo aumentando sempre de valor nunca baixando. Ideias…
A ação de compra pelos outros jogadores obedece às regras do respectivo mercado de peixe. Este recurso é depois transformado num token com a forma de animal que representa o valor (nem sempre fixo do mesmo). Cada espécie de peixe tem regras de mercado para a sua conversão em recursos piscícolas. Por exemplo o mercado de ‘red fish’ vai desvalorizando o preço do mesmo. Quanto mais saturado estiver, ou seja, quanto mais comprado for por todos os intervenientes, vai valendo menos (o mercado já não dá tanto valor a algo que é abundante). Cada mercado tem regras de funcionamento muito assimétricas entre si o que torna interessante adaptar uma estratégia de pontuar específica para cada tipo de peixe. Cada partida de Tokyo Tsujiki Market usa um número reduzido de mercados disponíveis. Isto ajuda a que a ‘rejogabilidade’ do mesmo seja incrementada (e muito) permitindo a experimentação de diversas estratégias consoante o tipo de peixe a apanhar.

É um board muito pequeno mesmo. Tanto o design como as formas dos tokens estão de facto muito bem conseguidas
O final de Tokyo Tsujiki Market dá-se quando um jogador conseguir chegar aos 5000 ienes ou 50 recursos (soberbamente representados pelos diversos e bem diferenciados tokens das diversas espécies marinhas). É curioso o facto que para despoletar o fim seja necessário ter no mínimo um destes dois tipos de recursos (dinheiro ou peixe) e ser o que possui o máximo de entre todos os jogadores do outro recurso. Isto permite andar , se quisermos, a atrasar o desenrolar da partida transformado recursos em dinheiro e gerindo as condições finais de vitória.

Curiosamente Jordan Draper possui outros jogos (que não joguei) do que poderei mencionar como sendo Tsujiki Market mais um integrante da sua série Tokyo
Considero pois que Tokyo Tsukiji Market é um jogo de alguma complexidade. É no entanto muito curioso e bem conseguido como se conseguiu relacionar um motor de jogo com uma lógica de mercado minimamente fidedigna e inspirada na realidade. Pela minha experiência de jogo todos os mecanismos estão bem apurados. Tokyo Tsujiki Market faz o possível para que se mantenha um jogo equilibrado entre as partes. Em cada partida as variações de preço vão originar, certamente, situações de bluffing entre os jogadores. A complexidade e diversidade de mercados pode parecer estranha ao início mas depois de se aprender consegue-se elaborar uma estratégia minimamente coerente e intricada entre os diversos tipos de peixe a jogo. Não é decididamente um jogo para novatos mas qualquer jogador mediano com interesse em jogo económico com engine-build irá certamente apreciar.

No entanto se as waifus existissem gostava de pescar (viram o que fiz aqui) uma assim… com um choker… para não falar muito…