Por uma miríade de razões que não caberiam nestas linhas, há muito que não me sento calmamente a escrever um artigo para esta minha casa. Há muito que não me sento, também, ao lado dos companheiros do Talks, o amigo Marques e o companheiro João. Mas a vontade tem estado cá, mesmo que o tempo e, por vezes, a cabeça, não estejam.
Quem me conhece sabe que, por norma, evito fazer análises a jogos de amigos. Nem sempre é fácil impor uma equidistância e cabeça fria quando se escreve sobre o jogo de alguém que nos é querido. Razão pela qual eu não escrevi a análise do sublime Zhed quando me chegou para telemóvel e não lhe tocarei agora, escassos dias depois do seu lançamento para Steam e Switch. Acho-o um jogo sublime, a roçar a perfeição naquilo que se propõe fazer. E gosto que a confirmação surgida na menção honrosa no passado Indie X diga aquilo que eu não escrevo, mas que digo ao companheiro Rui Guedes.
Pois bem, há males que vêm por bem. Tenho uma profunda admiração pelo Gonçalo Monteiro que deu, inclusivamente, uma entrevista ao Rubber há pouco tempo. Há um carinho grande, por já o ter tido sob a minha responsabilidade no Indie X e, se a memória não me falha, no Indie Dome, mas não tenho com ele uma proximidade que me tolde uma análise objectiva e, melhor ainda, nada daquilo que é a minha opinião sai minimamente beliscado pela minha relação com ele.
Assim sendo, senhores… For the Warp é uma pérola! Adoro! Recomendo vivamente. É obrigatório! Não só por se tratar de mais uma produção nacional, mas, raios, por se tratar de uma produção do caraças. As mecânicas base de deckbuilding a fazerem lembrar o Slay the Spire versão Sci-Fi. O sentimento de solidão num espaço hostil e desconhecido aludem a Faster Than Light. O ambiente imperdoável, a arte, as escolhas, e toda uma travessia pelos diversos sectores do espaço fazem lembrar um grande jogo. E é um grande jogo.
A arte, num pixel art meticuloso e cuidado, salta à vista, dando uma pincelada retro mas dando um verdadeiro banho de qualidade a este jogo. Isto, meus caros, é BOM pixel art. A música segue-lhe os passos e não deixam em mãos alheias os créditos por detrás da ideia base deste For The Warp. Uma nave sozinha contra o mundo, ou melhor, o universo. Inimigos vários, sendo que alguns têm ataques e habilidades sui generis. E um conjunto de cartas que vamos adquirindo e que consistem nos nossos ataques para cada confronto. Há cartas de ataque básico, de defesa básica, como os escudos, e há cartas para todos os gostos e feitios. Há raios incapacitantes, há drones de ataque, há mísseis que deixam os inimigos em chamas, há reparações e há muito por onde escolher, pese embora esta ser ainda uma versão Early Access sujeita a mudanças, como aliás, tem vindo a ser sujeita a correcções de alguns bugs, prontamente resolvidos.
A crítica não é cega. O jogo não é perfeito ainda. Há coisas que carecem, sobretudo, de equilíbrio e de maior riqueza no leque de escolhas. Havendo três naves, com estilos diferentes de jogo, disponíveis, faltaria uma maior riqueza no leque de escolhas para novas cartas, mais ou menos adequadas à nave que temos, tal como algum ajuste na quantidade de energia disponível para cada nave que, com 3 para cada, deixa à vista alguns desequilíbrios quanto à usabilidade de certas cartas. Mas um jogo centrado em deckbuilding é mesmo assim, e fica a dica de darem Skip à escolha das cartas se nenhuma das duas propostas for efectivamente algo que encaixe na vossa estratégia.
O veredicto é simples: um redondo SIM se forem fãs de Sci-Fi ou de Deckbuilding. Uma providencial adição à wishlist, caso queiram esperar mais uns tempos até este jogo encontrar o verdadeiro ponto pérola, findo o seu early access. O potencial está todo lá. Resta encontrar o tempo e o feedback necessário para polir aquilo que já está disponível. Em todo caso, mesmo longe da sua versão 1.0, o jogo oferece um entretenimento excelente, para um custo bem acessível de 15€. De que estão à espera?