O ano de 2020 apanhou-me de surpresa. Entre uma pandemia e a quantidade de ideias criativas que alguns estúdios indie têm tido com o clássico PONG, não sei qual das hipóteses me deixou mais surpreendido. Estou a brincar. Sei bem qual me surpreendeu mais.

Depois de vermos PONG transformado numa espécie de fighting game cruzado com jogo de desporto com muitos poderes à mistura (em Hypergalactic Psychic Table Tennis 3000), agora é a vez de o velhinho PONG se aventurar por esse género que parece omnipresente nos dias de hoje: um dungeon crawler com pitadas de roguelike.

Sim, leram bem. Leram uma frase que inclui “PONG”, “dungeon crawler” e “roguelike”. É possível que o fim dos dias esteja próximo. Não era este um dos selos bíblicos que preconizava o fim de tudo?

O mundo de PONG Quest é habitado por pás antropomórficas, num reino medieval em que toda a gente é apenas um rectângulo animado com olhos retirado do clássico da Atari. As nossas incursões pelas dungeons, pautadas por um enredo simples que o que nos quer fazer é valer-nos umas valentes gargalhadas, é a justificação narrativa para um mundo tresloucado em que somos – não me canso de dizer – pás de PONG antropomórficas.

Entre encontrar chaves para portões e baús, apanhar tesouros e coleccionar “cartas” que são utilizadas em combate e poções, PONG Quest podia ser o nosso dungeon crawler clássico, não fosse ser o combate desenrolar-se como o PONG original, com uma reviravolta.

Este sistema não é novidade, aliás, já a semana passada tínhamos visto Hypergalactic Psychic Table Tennis 3000 a fazer algo semelhante. Mas PONG Quest utiliza ideias mais próximas dos últimos Paper Mario, em que os ataques especiais se gastam. 

Neste caso, as tais “cartas” que apanhamos e que são finitas servem como transformações da bola que utilizamos em combate, dando-lhe poderes diferentes que alteram o seu comportamento e que levam o nosso adversário a levar mais dano se a deflectir ou se a deixar passar.

Para dificultar a nossa vida, cada vez que rebatemos uma tacada do adversário o embate na bola tira-nos um ponto de vida, numa barra que é persistente entre combates, e que causa um dos grandes desafios deste dungeon crawler.

Sofrer um “golo” é algo para abalar grandemente a nossa barra de vida e de nos aproximar a falha a nossa incursão pela masmorra, atrasando a nossa progressão na história e obrigando-nos a repeti-la mais uma vez.

A criatividade de PONG Quest surge não só nas suas boss fights, mas na inclusão de elementos de outros clássicos da Atari enquanto adições mecânicas ao jogo. Sejam elementos de Arkanoid ou Centipede, que são adicionados ao próprio campo de batalha.

Com um sistema de level up, PONG Quest aproxima o velhinho PONG dos RPGs como eu não esperaria que acontecesse. O único problema do qual ele sofre é mesmo a rapidez como esta boa ideia se esgota, o que nos obriga a voltar a este peculiar dungeon crawler apenas de vez em quando.