Imaginem alguém que vai ao cinema ver um filme da série Fantastic Beasts and Where to Find Them sem nunca ter visto um filme de Harry Potter, ou lido um livro. Não é alguém totalmente inculto, é alguém que sabe algumas coisas de como a história e os personagens fazem parte da cultura popular, sabe reconhecer que são daquele universo em que há feiticeiros e coisas assim mas é só. Foi assim que entrei em Gears Tactics. Para muitos é uma vergonha mas nunca joguei Gears, testei o 4 numa Gamescom mas foi só isso. Felizmente não é preciso saber absolutamente nada ou sequer gostar do universo Gears para apreciar o jogo. Talvez apreciemos mais, mas não é obrigatório.
Gear Tactics chegou pela mão do fantástico Xbox Game Pass há alguns dias, e podemos dizer que para um fã do estilo Turn-Based Strategy é uma dádiva, tal como Phoenix Point que ainda estou a analisar e também está disponível na subscrição. Como já disse, o meu conhecimento da série Gears é mínimo, nunca tive grande fascínio sobre ele mas este despertou-me algum interesse. Entrei no jogo como em qualquer outro do estilo, com armas prontas e mente estratégica ao máximo.
Para quem joga XCom desde o primeiro UFO, há pouco que estes jogos possam inovar que não seja aprendido em dois segundos. Uma outra diferença mas assim que entramos são tão intuitivos como andar de bicicleta. Só tem um mais ou menos mudanças, uma suspensão mais ou menos rija, pneus maiores ou menores. Dito isto, Gears Tactics é uma bela bicicleta com alguns pontos bem interessantes.
Ponto de situação para quem não sabe o que se passa, porque eu também não sabia: A Terra é atacada por umas criaturas, o Presidente do que suponho ser os Estados Unidos decide usar uma arma gigante que devia eliminar a invasão (mas não o faz) e nós controlamos um Gears, um soldado e o seu batalhão improvisado para efectuar missões no estilo clássico de um turn-based tactics. Ao contrário da série mais famosa deste estilo temos alguns personagens que são os heróis. Esses são obrigatórios em algumas missões e não podem morrer quando vão, todos os outros são meros soldados, perfeitamente dispensáveis.
É possível alterar os seus visuais, fazer upgrades a equipamentos e armas e até alterar nomes. As classes são as clássicas, Support que pode curar os ferimentos dos companheiros de batalha, Scout com movimentos maiores e mais proficiência de ataques próximos, assault que são os mais equilibrados, snipers que não precisam de explicação e heavy, que para mim são os mais inúteis. Não consigo conceber a utilidade dos heavy em nenhum jogo destes, têm menos mobilidade que os outros que também podem usar explosivos, mas pronto. Não vou discutir isso aqui.
Levamos sempre um máximo de 4 soldados na missão, algumas obrigam a usar alguns heróis específicos ou menos de 4, a escolha das classes ideais podem garantir o sucesso da missão, ou pelo menos o nível de sucesso. Dentro do jogo, propriamente dito, não olhando para o enredo é que cada personagem tem três acções ao contrário das duas habituais. Pode parecer algo irrelevante mas pensem se no Xadrez pudessem mexer a vossa peça duas vezes em vez de só uma na jogada. Toda a estratégia muda. O facto de existirem heróis que não podem morrer senão não avançamos na história é irritante e tira muita da tensão que um jogo destes deve ter. A fórmula é simples, toda a gente é irrelevante menos estes três (ou quatro no caso de terem feito pre-order). Se qualquer um dos “extra” morrer, é na boa, há mais de onde eles vieram, mas os heróis? Esses não. Temos que refazer a missão para os salvar…
Infelizmente há outro contraponto estratégico que me incomodou que é o overpower da capacidade de overwatch. Mais uma vez, tal como noutros jogos do mesmo estilo podemos deixar os nossos soldados em Overwatch, que cria um cone de acção defensivo em que qualquer inimigo que se aproxime é automaticamente baleado. Como há raras missões que obriguem o jogador a fazer tudo num certo número de turnos, o truque é escolher um bom ponto, colocar toda a gente em Overwatch e limpar os inimigos aos poucos, avançar e repetir. Esta falta de pressão é talvez a maior falha de Gears Tactics.
Gears Tactics é uma óptima adição ao já excelente catálogo do Xbox Game Pass PC, e tem potencial para ser uma grande série de Turn Base Tactics se for bem trabalhada e afinada no futuro. Pensem em XCom como o Luís Figo, Gears Tactics é um jovem cheio de potencial das escolas do Sporting Clube de Portugal. Se no futuro vai ser um Cristiano Ronaldo ou um Fábio Paim, logo veremos.