Children of Morta leva-nos para uma terra distante no papel de uma família, os Bergsons, que tem como missão proteger o Monte Morta. É um RPG de acção com um foco pesado na narrativa.

Desenvolvido pelo estúdio Dead Mage, este é um jogo carregado de acção mas que tem a sua alma na história que conta. Uma sólida narrativa que se centra na família e seus valores. Uma família que luta unida para parar a Corrupção que não sabem como e porque surge.

Os Bergson na sua saga vão procurando respostas para compreender como este mal se propaga no seu mundo. Para tal procuram libertar antigos espíritos que os podem orientar na sua demanda. Escrito de forma inspirada do inicio ao fim, Children of Morta, resulta num jogo que é bem mais do que a junção das suas partes.

O Jogo e suas mecânicas

Children of Morta é um roguelike action rpg dungeon crawler, as masmorras são criadas de forma procedimental e cada vez que nos aventuramos nelas a experiência é distinta.

O jogo divide-se em 3 grandes áreas com temáticas diferentes, cada uma destas está povoada por diferentes criaturas que representam diferentes desafios mas em todas elas aparecem criaturas da Corrupção que avança pelo mundo e aparecendo onde quer que haja mortos.

Por vezes chega a ser reminiscente de Diablo na forma como o gameplay se desenrola. Rápido carregado de acção, cada vez que entramos numa masmorra a experiência é diferente e com desafios distintos. Temos side quests que apenas estarão presentes em algumas ocasiões e isso implica uma maior jogabilidade sem aborrecimento e mais importante acrescentam à experiência sem se tornarem enfadonhas.

A acção está sempre fortemente a esquivar dos constantes ataques e com momentos em que o numero de inimigos simultâneos consegue ser algo elevado.

Upgrades e consumíveis também variam consoante a masmorra, algumas serão mais complicadas por ser difícil encontrar HP disponível enquanto outras nos vão dar tudo o que possamos precisar.

Os bónus que vamos adquirindo em cada uma das runs que fazemos são deveras importantes, embora nem sempre sejam o que queremos a verdade é que defrontar um boss carregado de itens e extras colectados em altares tornam a tarefa de derrotar um boss muito mais fácil.

À medida que vamos avançando vamos tendo acesso a diferentes membros da família como personagens jogáveis. Cada um deles com o seu estilo de combate e devo acrescentar que implica de facto uma experiência de jogo distinta.

Para cada uma destas personagens temos uma árvore de desenvolvimento distinta e cada uma delas contém pontos em que atribui bónus a toda a família. É um aspecto particularmente importante porque premeia a utilização das diferentes personagens.

De notar que apenas duas das personagens são ranged e que estas terão alguma vantagem em relação às restantes, em geral o equilíbrio é bom apesar deste ponto.

Não só esta mecânica está implementada para garantir a rotação das personagens, para além desta temos um sistema que vai fatigando as nossas personagens consoante o tempo seguido que passam em masmorra. Desta forma podemos ver as nossas personagens preferidas com grandes penalizações em termos de HP. De notar que esta medida está bem implementada e surte o efeito pretendido não chegando a tonar-se demasiado taxativa e aborrecida.

A forma como a dificuldade do jogo vai crescendo está bem balanceada e permite fazer sessões de duração moderada e progredir constantemente. Existe grind sim mas fica diluído nos aspectos de variedade mencionados acima não se sente o seu peso tornar-se excessivo e as incursões acabam por ser sempre divertidas sem o peso de um grind opressivo no entanto com uma dificuldade que as tornam interessantes.

Não esquecer as mecânicas que nos prendem a runs múltiplas neste tipo de jogo, estou a falar de loot claro, mesmo quando não conseguimos concluir a dungeon de forma bem sucedida, é sempre importante conseguir a maior quantidade possível de ouro pois este dá acesso a mais upgrades de armas e de conhecimento de skills. Como em qualquer jogo com um mínimo de elementos de RPG é importante pilhar porque pilhar é muito divertido e recompensador.

Arte, som e gráficos

Children of Morta traz consigo pixelart em grande nível e qualidade. Não sendo eu um fã deste tipo de arte tenho que confessar que fiquei amplamente impressionado com o que foi feito neste jogos.

Cenários altamente envolventes, personagens bem desenhadas e uma palete de cores notáveis resultam num jogo deslumbrante. É sem dúvida uma bela obra visual que está bem sustentada na sua música e efeitos sonoros. A execução está  excelente porém o ponto alto é sem dúvida o narrador. Aquela voz que nos acompanha do inicio ao fim da aventura está simplesmente perfeita para contar esta história.

O mundo está muito bem criado, cada área é distinta e tem o seu próprio ambiente e visual. Cada uma das áreas do jogo tem a sua entidade muito bem caracterizada com um arte bem pensada para cada uma delas. As criaturas e bosses são também desenhados para cada uma das áreas e são distintos, talvez um pouco mais de variedade de mobs não fosse de todo desagradável pois temos os elementos da corrupção que se mantém idênticos ao longo de todo o jogo e são comuns a todas as áreas e quantos mais mobs matamos mais a sua presença se faz sentir.

Algo também se destaca como notável, são as animações que estão impecáveis e fazem o jogo fluir perfeitamente.

Em geral está muito bem conseguida a caracterização deste mundo a Dead Mage fez um excelente trabalho em criar um mundo próprio com um entidade bem vincada e marcante.

Conclusão

Children of Morta chega no final de 2019 no meio de uma agenda de lançamentos bem forte. Pode ter passado despercebido por isso mas é um jogo que não devem perder.

É um indie muito bem conseguido que justifica plenamente o seu preço. A história é fluída, narrada com mestria e mescla perfeitamente com o gameplay. Mecanicamente o jogo está também muito bem conseguido, com visuais vibrantes entrega a um ritmo rápido enquanto contrabalança com os períodos narrados. Somos lançados na aventura com esta família e vamos conhecendo um a um os seus membros, emocionamos-nos com os Bergson, vemos os mais pequenos a erguerem-se contra a ameaça com orgulho e amor. Por outro vemos os mais velhos a vergar sob o peso da responsabilidade.

É fácil criar uma relação empática com este mundo e estas personagens e o final entrega de forma algo esperada mas ainda assim muito gratificante. No final do jogo é fácil encontrar aquela alegria que encontramos no final de uma aventura bem vivida.

A experiência é diferente do que tenho visto neste tipo de jogos. É mais envolvente, vai buscar elementos distintos a vários tipos de jogo e resulta lindamente.

Algo que é importante mencionar é que este pode ser jogado em co-op e assim foi feito, na sua maioria, por cá. Muito divertido ser acompanhado por outro membro da família, neste caso literalmente também, o jogo ganha mais com duas personagens a juntar diferentes estilos de jogo.

E que é fortemente aconselhado a todos que apreciam o género.