Encontramo-nos a viver tempos peculiares, em que uma boa parte de nós se vê confinada ao seu domicílio em prol do bem-estar dos restantes. Muitas têm sido as piadas e variadas manifestações nas redes sociais sobre aqueles que se fartaram de estar em quarentena nos primeiros dias. Como gamers, e falo essencialmente em mim, estar trancado em casa, mais do que habitual, acaba por reforçar a ideia de que numa qualquer eventualidade apocalíptica, acabaremos sempre por sobrar nós porque estávamos mais ocupados a subir de nível e a passar jogos para nos apercebermos do que se estava a passar.
Ainda assim, e para evitar o desconfortável pensamento de “não ter nada para jogar”, há que procurar expandir horizontes e sair da zona de conforto. No que aos jogos narrativos diz respeito, toda a gente sabe que não há nada melhor que jogar presencialmente. Contudo, uma vez que estamos por casa, essa dinâmica não é propriamente uma opção. Por isso, aqui ficam uma série de sugestões para que não parem de jogar e de partir em aventuras com os vossos jogadores.
1 – Mesa de jogo online
Há algumas plataformas como Tabletopia na Steam que servem como o mais próximo possível de uma mesa de jogo. Mas, para já, foquemo-nos na plataforma que cumpre de forma estratosférica o seu propósito de reunir pessoal para uma sessão de jogo: o Roll20.
Para além de permitir que a malta se junte, detém toda uma colecção dos mais variados jogos narrativos, bem como os respectivos sistemas e edições. Rapidamente o “não ter nada para jogar” passa para “afinal, o que é que se vai jogar?”. E para além disto, há toda uma série de ferramentas inerentes à plataforma que facilitam as várias dinâmicas de jogo tanto para mestres como para jogadores. Desde simples handouts com missivas recheadas de informação secreta, ou a imagem de um NPC; usar mapas para mera ilustração, ou aplicar-lhes uma grelha para criar um mapa de combate; usar música de fundo para embelezar toda a narrativa e garantir que os jogadores ficam imersos na acção; e, também, com uma ou outra cábula com as regras do jogo. E isto leva-nos a…
1.1 – Optimização
Apesar de ser uma excelente ferramenta, o Roll20 tem as suas limitações, principalmente no que toca a compêndios de regras de jogo, nomeadamente de Dungeons & Dragons. Para resolver este problema, há duas extensões de browser que podem ser usadas para optimizar a experiência de jogo: o Tampermonkey e o VTT Enhancement Suite. Depois de instaladas, elas dão acesso a todo o conteúdo nos vários manuais da quinta edição que têm vindo a sair. Desta feita, podem ser usados para criar personagens de qualquer nível com os vários respectivos atributos em poucos segundos. Podem, como previamente referido, ser usados para consulta rápida, e todo um novo bestiário acaba por ficar à disposição.
Os jogadores podem ter rapidamente acesso a todo o material que precisam para criar e evoluir as suas personagens, sem ter que andar com os livros de um lado para o outro e introduzir tudo manualmente. E se acham que isto facilita a vida aos jogadores, imagem o que faz àqueles que, como eu, passam o tempo a preparar as sessões!
2 – Contacto
A questão da mesa de jogo já está tratada, agora há que pegar no pessoal. O próprio Roll20 suporta partilha de vídeo e de voz, mas para evitar potenciais problemas técnicos de incompatibilidade de browsers, nada como recorrer à plataforma de eleição para juntar a equipa em qualquer tipo de chamada: o Discord.
Para além de permitir estruturar, tanto em formato de servidor como de grupo privado, os vários grupos de jogo, permite uma conversa em conjunto ou privada entre jogadores, ou entre jogadores e o mestre de jogo.
Ao juntar o Discord ao Roll20 acabamos por juntar o melhor de dois mundos: um sítio onde o pessoal se pode reunir para conversar, e uma mesa de jogo onde qualquer aventura e história pode ter lugar.
3 – O que jogar?
Esta é ao mesmo tempo uma pergunta com uma resposta que pode ir do simples ao complexo. Tudo depende daquilo que o grupo está a à procura. Há interesse numa campanha longa? Então nada como o bom velho Dungeons & Dragons, ou optar por Vampire: The Masquerade caso haja mais interesse em intriga política e conspirações. Pode sempre recorrer-se a Call of Cthulhu e obliterar por completo qualquer rasto de sanidade do grupo de investigadores que teve a brilhante ideia de explorar os horrores lovecraftianos.
Caso haja interesse em jogos mais curtos, nada como pegar nos aclamados one-page RPGs como é o caso de Honey Heist .
Caso estejam interessados em jogos portugueses nos vários formatos e géneros, podem consultar a plataforma do RPG Portugal.
Há muita coisa por aí. É só uma questão de procurar nos sítios certos… e por falar nisso…
4 – Onde encontrar interessados em jogar?
Graças às redes sociais, nunca foi tão fácil encontrar malta interessada em jogar. Grupos como o do Roleplaying Games – Portugal no Facebook e páginas como as do Rola Iniciativa fazem constantemente esta ponte. E os próprios servidores do Discord estão também disposto a ajudar nesse sentido.
Depois também há os grupos dos respectivos jogos como o Dungeons & Dragons – Portugal e o Vampire: The Masquerade – Portugal. Aqui vão encontrar actualizações sobre os respectivos jogos, partilha de ideias e de opiniões, bem como, e mais importante, pessoal interessado em jogar, a ensinar a jogar e, quem sabe, com vagas abertas nas suas mesas de jogo.
Ora bem, posto isto tudo, chegamos ao fim com um sítio onde toda a gente se pode reunir em redor de uma mesa de jogo virtual, uma plataforma onde os intervenientes podem fazer as respectivas chamadas, e várias fontes de potenciais interessados em todo o tipo de aventuras e de caos.
Atrevo-me a dizer que só falta mesmo arregaçar as mangas, limpar os dados e os apontamentos e mostrar à quarentena que ela é que está trancada connosco e não nós com ela!