Quando falamos de Blade Runner, a primeira ideia que nos vem à mente é todo o ambiente futurista cyberpunk de Nova Iorque, com a cidade erigida nos céus e o tráfego gerado pelos carros voadores. A chuva e os neóns luminosos são os ingredientes finais para um ambiente que tem sido replicado em incontáveis filmes e videojogos.
Cloudpunk é mais um desses jogos que bebeu fortes inspirações no imaginário cyberpunk, remetendo-nos para uma metrópole feita em voxel verdadeiramente envolvente. Lembram-se do planeta Coruscant de Star Wars? É também uma referência. Este jogo produzido pela indie Ion Lands é um regalo aos olhos, provando que não precisamos de ter as mais recentes placas gráficas para nos transportar para mundos detalhados. Tudo o que é preciso é a iluminação correta, variedade de ambientes e muitas coisas a acontecer no ecrã como é este caso.
O jogador assume o papel de Raina, uma jovem que se depara com a sua primeira noite a trabalhar para uma empresa meio obscura de entregas de encomendas chamada Cloudpunk, a mesma que dá nome ao jogo. Sem qualquer tipo de introdução ou background, assumimos de imediato os controlos de um veículo voador e somos libertados nos céus desta metrópole distópica chamada Nivalis, para explorar livremente.
A partir daí começam a surgir os trabalhos. O nosso contacto dá-nos os objetivos, de recolher encomendas num ponto da cidade e entregar no outro, com a regra de nunca podermos ver o que está no interior ou fazer perguntas sobre as mesmas. E isso leva-nos a entregar encomendas que colocam em causa os princípios da personagem, abrindo-se diferentes possibilidades, como cumprir a missão ou tomar outra decisão.
No entanto, as decisões não têm grande impacto no desenrolar da trama, no que diz respeito a consequências, pelo menos no imediato. Mas este é um jogo completamente narrativo, através dos diálogos, e não há nada que nos faça perder. Esta é uma aventura de exploração ao ritmo dos jogadores, visitar os diferentes pontos da cidade, com mapas interligados, visto que os objetivos não têm tempo limite.
Há ainda diversos itens para recolher espalhados pela cidade, pois é possível estacionar o veículo nos locais marcados de estacionamento e explorar a pé. Existem diversas personagens para interagir, com histórias próprias, lojas para comprar comida e outros objetos. Certas missões requerem recolher determinados itens para entrega. Reparar elevadores para aceder a diferentes níveis da cidade. O jogo tem uma câmara fixa, mas que funciona bem. A protagonista tem o seu próprio apartamento, que podem equipar com itens adquiridos nas lojas.
O veículo também requer alguma manutenção, desde reparar quando batem muitas vezes com ele, assim como atestar o depósito de combustível. Também podem adquirir upgrades para que este ande mais rápido e tenha pequenos boosts de velocidade. Os controlos da viatura são suaves e respondem bem, ainda que seja necessário adaptação à sua verticalidade para manobras como estacionar e abastecer. E muitas vezes vão parecer que estão numa arena de carrinhos de choque, tantas são as colisões contra outros veículos.
No geral Cloudpunk não é destacado pelo seu desafio, mas pelo ambiente envolvente que consegue trazer-nos. Os diálogos estão bem escritos, ainda que nem todas as personagens sejam interessantes, mas há andróides, pessoas sem escrúpulos, mas também cidadãos preocupados com diferentes questões. Há também homenagens e algumas piadas retro hilariantes.
Mas é o quadro geral da aventura, a cidade que respira vida pelas viaturas que circulam, a passagem de carros voadores de perseguições policiais a corridas ilegais, os gigantescos painéis de neón com publicidade. Há muita coisa a acontecer na cidade sem a nossa intervenção direta.
Mas se visualmente é soberbo, o ambiente cyberpunk só fica completo graças à sua componente sonora. Não só as músicas envolventes, como os efeitos sonoros da chuva, dos carros, a publicidade, num quadro impressionante.
De um modo geral, Cloudpunk é uma viagem emocionante, num jogo que introduz de forma exemplar o ambiente, mas falta-lhe profundidade. E isso até parece ser assumido pelo estúdio, que tem aqui uma plataforma que pode explorar no futuro com outro tipo de conteúdos. Porque não aproveitar os veículos para corridas ou perseguições? Introduzir mais puzzles e histórias para descobrir? Ficam os excelentes valores de produção do ambiente e a sua boa premissa.