Não se chateiem já comigo, eu disse mesmo parece, não disse que era tão bom quanto Comix Zone. É o mesmo que dizer que Mariah Carey parece Céline Dion. Parece, mas a canadiana é muito melhor. E estou disposto a enfrentar qualquer pessoa num duelo até ao afundanço do Titanic para o defender.
Fury Unleashed não se parece apenas com Comix Zone, como trouxe outros elementos de jogos dos 1980s e 1990s, nomeadamente factores de run ‘n gun de Contra e Metal Slug, adicionando-lhes à mistura muito roguelike. É tipo aquela famosa colunista que tem o meu apelido com o The New Yorker. Mas em melhor.
Eu sei que estou a ser injusto com Fury Unleashed ao reduzi-lo a um mero cruzamento entre Metal Slug e Comix Zone. Ainda que incluir esses dois títulos na frase é desde já um momento elogioso.
Em Fury Unleashed vamos morrer muitas vezes, ora não fosse este um roguelike. Todos os upgrades, itens, habilidades passivas que vamos encontrando como loot ao longo da nossa playthrough ficam pelo caminho, abrindo-nos caminho para novas tentativas de pôr os quatro níveis que o constituem pelo chão, cravados de balas.
É claro que o sistema de level up nos vai conferindo um progresso permanente, e que vai baixar ligeiramente a grande dificuldade deste jogo que é duro de roer.
Fury Unleashed é constituído por 4 níveis que são pranchas de banda-desenhada, onde nós interpretamos o protagonista e temos de ir limpando cada uma delas de todos os inimigos que lá existem. Para isso temos um conjunto de movimentos habilidosos e um arsenal bélico à nossa disposição para destruir tudo o que mexa.
Quando “limpamos” uma vinheta é-nos dada a oportunidade (muito semelhante a Comix Zone) de escolher para que vinheta vamos de seguida. A qualquer altura podemos ver o “mapa” que não é mais do que um zoom out da prancha, com as vinhetas que ainda não visitámos a branco, o que representa o factor de geração procedural de cada nova playthrough.
Em Comix Zone é o próprio autor que é sugado para a BD, em Fury Unleashed nós temos de zelar pelo nosso criador, garantindo que as reviews que ele vai recebendo à sua criação não contribuam ainda mais para a pressão e a depressão que este sofre. E essa componente de meta-narração é-nos trazida com imagens do smartphone do autor, sobre a prancha, que vão revelando comentários online e mensagens que este vai recebendo, e que traduzem o seu desespero. O contributo do enredo para a acção que se passa pelos 4 níveis não é muito grande, mas é um toque delicioso que enriquece ainda mais a carnificina que vai acontecendo a cada nova vinheta.
Com uma boa variedade de inimigos e bosses, Fury Unleashed, como quase todos os roguelikes, tem a sua diversão limitada pelo diâmetro do seu próprio loop. E este loop, apesar de ter um sabor diferente pela solução de colocarem a acção dentro de pranchas de BD animadas, acaba por ter uma duração curta.
O seu sistema de combos e os seus leaderboards (estes indisponíveis para quem não aguenta a pressão e decide ligar o Casual Mode) acabam por conferir-lhe alguma longevidade e desafio, mas não o suficiente para sentirmos que apesar de divertido e interessante, este jogo tem um prazo de validade curto.
Por 19,99€, o valor de Fury Unleashed parece-me inflaccionado para o seu loop mecânico, mesmo que o factor Remote Play Together ou em TV contribuam para uma maior longevidade. Um jogo mais do que recomendado para as Sales que estão aí à porta? Garantidamente. Afinal, como dizia, este jogo parece Comix Zone. Parece…