Um questão que já ocorreu a muitos de nós: de onde vem a popularidade dos jogos de mundo aberto?

Não há propriamente uma resposta concreta e até coloquei a questão a estudantes de sociologia, a psicólogos e a antropólogos!

A indústria tem aproveitado muitos comportamentos humanos, o Santo Graal procurado é a formula perfeita para agarrar o maior número de consumidores possíveis e tê-los cativos a um modelo de negócio muito similar ao das apostas e jogos de casino, o que vemos implementado nas micro-transacções, lootboxes e no grinding que vemos em muitos MMORPGs.

Mas isso não tem que ser necessariamente mau, e há outros mecanismos que estão interligados.

Como já vemos em jogos tradicionais de RPG e MMORPG, o grinding faz parte de algo similar que nos apela a esses mecanismos primordiais do nosso cérebro, numa explicação leiga o nosso cérebro funciona à base de muitas reacções químicas, uma delas explicada pelo “sistema de recompensa” liberta químicos naturais como a dopamina que acaba por nos viciar em determinadas tarefas.

Isso basicamente funcionou quando éramos caçadores-recolectores, a caça e a recolecção obrigam a uma insistente busca, é algo repetitivo e requer muitas tentativas e erros até obter-se o desejado, neste caso a presa, até a mais simples tarefa de caminhar em busca de frutos ou materiais tornou-se uma rotina que se repete e o nosso cérebro e a evolução teve que achar um mecanismo que nos mantivesse agarrados e essas rotinas.

Deste percurso que levamos até os nossos dias, perdemos muitas dessas rotinas, perdemos inclusive acesso ao nosso habitat, e com isso tivemos que procurar outras formas de obtermos o nosso cérebro ocupado com alternativas para o sistema de recompensa.

Até poderá ser a causa de muitas doenças modernas com ao depressão, segundo algumas teorias.

Voltando ao inicio, o que tem a ver o sistema de recompensa do nosso cérebro com jogos de mundo aberto?

A Humanidade está a tentar descobrir novas formas de preencher essa necessidade básica humana, sobretudo a de explorar, a de ser livre, a de ser útil. Somos um animal curioso.

Jogos lineares são bons para contar uma historia, é a forma que tem de fazer com que sigamos esse enredo e fiquemos embrenhados na narrativa que nos proporem. No entanto há sempre o fim à vista e nós vamos querer sempre mais ou que a experiência dure mais!

Acaba por ser uma busca por uma realidade há muito tempo perdida, mas que continua preencher-nos de ânsia por algo mais palpável, nós pedimos liberdade. Esta liberdade permite-nos explorar sem restrições, e em mundos abertos abrem-se novas possibilidades para explorar essa necessidade básica com a nossa natureza curiosa.

Os videojogos têm evoluído com isso em mente mesmo que muitas vezes inconscientemente pela parte de alguns autores: se desde o início se procurou uma fórmula para agarrar as pessoas, também nós inconscientemente procuramos criar o jogo perfeito de exploração.

Quando muitos jogos seguem as tendências normais que estão influenciadas como a geopolítica da altura com cenários de guerra a servirem de tema, ou cinema e literatura a servir de motivo inspirador, há e têm sempre surgido jogos que abordam o tema de exploração, sejam aqueles em que nos põem num mundo de fantasia medieval, ou num futuro distópico ou nos levam para a ultima fronteira, o espaço.

A literatura, sobretudo, tem ajudado, dado que o tema tem sido explorado muitas décadas antes do surgimento dos videojogos e até mesmo do cinema!

Falando mais concretamente nestes últimos anos vemos sobretudo no cinema a abordagem do tema de mundos após o fim civilizacional, isso advém de muitas crises que se têm passado como guerras, desastres naturais e sobretudo pandemias.

A ideia que o mundo como conhecemos pode acabar é aterrador, mas suscita em nós o fascínio só pelo facto de podermos imaginar como seria a nossa vida num mundo diferente em que todas as nossas tarefas obrigatórias e repetitivas acabam e estamos novamente livres.

O que podemos esperar então nesta nova geração?

Temos à porta ai uma nova geração de hardware nas Consolas e no PC, surge assim uma oportunidade em actualizar velhos conceitos de sandbox e ideias para os mundos abertos, que sempre tiveram factores limitadores no passado, um mundo aberto tem que ser grande e bastante flexível, para haver uma exploração com mundos credíveis e cheios de pormenores que nos mantenham ocupados. Para isso os recursos devem ser abundantes e sobretudo ao contrario de mundos “semi-abertos” ou os chamados hubworlds, quanto mais poder de processamento e memoria melhor.

A chave está nesta oportunidade com menos restrições técnicas e voltaremos a ter um aproveitamento maior de temáticas abordados na literatura e que eram demasiado exigentes e complexas com a tecnologia actual.

Na literatura e no cinema temos grandes exemplos inspiradores como The Postman‘ de David Brin,I Am Legend‘ de Richard Matheson, Battle Royale de Koushun Takami, A Boy and His Dog de Harlan Ellison e Stalker de Andrei Tarkovski, entre outros.

Minecraft revolucionou o sandbox, DayZ aproveitou a influência de outros géneros e a popularidade de séries como The Walking Death. Rust pegou em muitas ideias nunca concretizadas ou que estavam à espera de ressurgir e bebeu também de conceitos tanto de Minecraft e DayZ, e seguiu o seu caminho com a sua própria originalidade, tornando-se por si próprio um conceito e género novo. PUBG veio para capitalizar o espaço deixado pela estagnação de DayZ e trouxe para o publico o conceito de filmes como The Hunger Games acabando também por definir (segundo alguns) e popularizar um género.

No fim da 9 geração e começo de 10ª geração (pelo menos nas consolas porque no PC o conceito de gerações dilui-se e é mais flexível que nas consolas) iremos ver jogos que continuam estes conceitos e iremos ter um gostinho do que para ai vem, como Cyberpunk 2077, Assassin’s Creed Valhalla e até Star Citizen (caso o terminem ainda nesta década), e até mesmo com Rust que continua em constante evolução e que vai estrear-se nas consolas.

Links de interesse:

A Brief History Of Survival Games

http://howtomakeanrpg.com/a/what-is-a-hub-world.html

https://gamicus.gamepedia.com/Open-world_video_games