Nota prévia: nem o jogo nem este artigo estão associados à Uber Technologies, Inc.

EMBR – Über Firefighters seria o melhor título a escolher, mas pareceu-me redundante chamar a isto apenas o nome do jogo. É a coisa mais evocativa que possam imaginar – neste mundo existe uma Uber mas para bombeiros. Compra-se um pequeno kit, faz-se um tutorial e depois é só preciso ter um smartphone – e puff já podem trabalhar como bombeiros ao domicílio.

Não consigo imaginar o que é que a Associação e o Sindicato Nacionais dos Bombeiros Profissionais pensarão disto. Ou a Associação Portuguesa dos Bombeiros Voluntários. Se tiverem sentido de humor vão rir-se à grande. Depois do que o Ricardo Correia escrevia outro dia, penso que é seguro afirmar que os jogos parvos que fazem poucochinho de coisas sérias – houve Stretchers, Good Job, Moving Out e no ano passado ainda me lembro de What the Golf? – estão na moda.

Claro que com uma premissa tão parva, o jogo nunca abandona este tom absurdo – deparamo-nos com um edifício em chamas e temos um número mínimo de clientes para salvar e colocar (ou arremessar com todo o vigor e esperar que sobrevivam) na zona de resgate. Quantos mais salvarmos, maior a Taxa de Entrega Serviço. Contra o relógio – representado por uma barra de estado que nos indica quanto da habitação falta arder até estar carbonizada – buscamos os nossos clientes dentro da habitação, a quem as chamas só afastam do seu telemóvel se já lhes estiverem a lamber o rabiosque. Pelo meio podemos ter tempo de salvar alguns objetos ou maços de dinheiro, que estes clientes, pese serem muito modernos no que toca a chamar serviços de urgência, não sabem o que é um banco.

“Ia-lhe dizer para manter a calma, mas o senhor parece ter isto sob controlo”

A apresentação de EMBR é muito consistente com o mote que dá. Desbloqueamos níveis de emergências gradualmente mais complexas e desafiantes consoante o maior número de labaredas (pensem nas estrelas que dão ao vosso motorista) conseguidas de 1 a 5 em cada nível. Uma vez concluído cada um destes apresentamos fatura ao cliente onde discriminamos o nosso fee, que nos serve para adquirir novos e melhores equipamentos ou outros adereços visuais. Não desfazendo do humor carbonizado do jogo, houve um momento em que soltei uma gargalhada porque…

EMBR quer-nos mostrar tudo o que um bombeiro NÃO DEVE FAZER.

Senão reparem: começamos na pele de uma simpática mas atlética idosa, munida de uma mangueira portátil, um machado e um escadote. O nosso grande objetivo é salvar clientes, não apagar fogos. No fundo aquilo que os Soldados da Paz dos filmes e da TV fazem – entram sozinhos num prédio em chamas prestes a ruir e contra todas as probabilidades resgatam todas as pessoas em apuros. De facto rapidamente percebi (e o jogo prontamente faz o aviso) que a nossa missão não é apagar todo o incêndio, antes resgatar os clientes. Aliás, torna-se bastante difícil manter todas as frentes controladas e cumprir esta missão. Dei por mim a ligar a mangueira (ou um extintor, também há disso para comprar) apenas quando entre mim e um cliente tinha uma parede em chamas, de resto, se a casa está a cair, deixa que caia. Ia à volta, por baixo, por cima das chamas, não interessa.

Ainda em early access, EMBR saiu dos estúdios da Muse Games, de onde há uns valentes anos o João Ortega ajuizou Guns of Icarus Online, implacável shooter de guerra que saíra do Kickstarter. Passadas poucas horas até o ar pateta de EMBR me apanhou na curva com o seu DNA também implacável nos poucos mapas que ainda tem. Mas que exigem alguma repetição e agilidade para cumprirmos apenas com os mínimos, quanto mais as missões onde a nossa idosa bombeira é convidada a manter a habitação num estado decente, encontrar maços de notas ou resgatar bibelôs preciosos. Ganhamos mais dinheiro com isso e portanto a idosa pode entre outras coisas aumentar a potência da sua mangueira, mas se não salvarmos o mínimo de pessoas só nos sobram tostões.

#myassisonfire

EMBR ainda tem muitas arestas por limar. Um modo multiplayer com alguns bugs, diferentes dificuldades já que este jogo facilmente se torna apelativo para quem só se quer rir e ser pateta um bocado e uma câmara na terceira pessoa para não apenas imaginarmos uma velha atlética a carregar obesos às costas seriam algumas ideias. Mas se quiser ser uma tocha nos Jogos Parvímpicos e não apenas um fósforo do qual nos rimos um bocado, está na hora de se encontrar com o seu bombeiro à porta!