Parece que nem por acaso referia na minha análise a Mortal Kombat 11 o filme de Paul W. S . Anderson, Mortal Kombat, como um dos meus favoritos de sempre. Não só a série de videojogos está cada vez mais cinematográfica desde o seu reboot, como os NetherRealm Studios fizeram o esforço de ir buscar o actor Cary-Hiroyuki Tagawa para ser a voz e o modelo de Shang Tsung, neste regresso que o personagem (e o actor que lhe deu vida no grande ecrã) fazem à série. 

Não é de surpreender que 1 ano depois do lançamento do magnífico Mortal Kombat 11 que uma expansão e uma versão completa, definitiva, chegue às lojas. Uma versão que não só inclui novos personagens  – e alguns deles de peso – como permitiu aos seus criadores irem mais longe: e desenvolverem uma segunda parte para a história da versão lançada no ano passado.

Logrados que ficaram os esforços de Liu Kang em remodelar as linhas temporais sem a coroa de Kronika – e quiçá com uma interferência escondida do Doctor Who para manter os pontos temporais fixos intactos – a necessidade de restabelecer a História não fica esquecida. Mas cabe a Shang Tsung, Fujin e Nightwolf essa tarefa, dando o devido destaque a estes 3 personagens, sendo Fujin um dos 3 novos lutadores introduzidos neste Aftermath

As três horas de conteúdo dos 5 capítulos adicionais sobre a jornada de Shang Tsung e companhia em busca da coroa de Kronika (podemos dizer koroa, só para ficar em linha com os trocadilhos de MK?) demonstram a capacidade cinematográfica que tem sido apanágio da série.

É claro que se compararmos as duas séries desenvolvidas pelo famoso estúdio de Ed Boon, MK e Injustice, o tom da narrativa de ambas é amplamente diferente, mas não menos boa entre si. Se Injustice – como dizia na minha análise – é o enredo mais coeso do embate entre super-heróis da DC fora da Banda-Desenhada, já MK consegue aplicar todas as salutares azeiteirices e exageros tongue-in-cheek para recriar a melhor representação da época áurea dos filmes de acção com os quais crescemos. E fá-lo de forma divinal, com a história e os momentos jogáveis de combate a interligarem-se de forma tão orgânica que permite à NetherRealm fazer uma masterclass técnica e conceptual de como fazer estas transições, bem patente em cada um dos seus títulos.

A juntarem-se a Fujin como novo personagem está o regresso de Sheeva – mais equilibrada em termos de combate do que quando saiu originalmente MK3 – e Robocop, com o agente Murphy a aparecer ao lado dos restantes kombatentes… um pouco deslocado. Mas para um título que já conta com Spawn e com Terminator, Robocop é um sabor adicional com um estilo de combate centrado em projécteis e no controlo do espaço à sua volta. E por muito que Robocop pareça desajustado à primeira vista, a realidade é que é o primeiro personagem que queremos jogar assim que chegamos ao menu principal de Aftermath. E ter o gigante Peter Weller (que ainda há bem pouco tempo me deliciou com a sua prestação em Sons of Anarchy) a dar novamente a voz ao Robocop é uma delícia. 

Apesar do enredo de Aftermath ser uma continuação do jogo original – trazendo para os fighting games uma extensão narrativa que estamos habituados a ver em expansões de outros géneros – é-nos possível mergulhar directamente no conteúdo deste epílogo, no qual o antigo vilão Shang Tsung tenta salvar a realidade onde vive. Para quem não jogou o jogo base, é, porém, altamente aconselhado a que jogue a história de fio-a-pavio, que vale bem a pena.

O único problema com este Aftermath é mesmo o preço de lançamento. Com um valor inicial de 39,99€, o seu custo é capaz de ser inflacionado versus o que já foi investido no ano passado no jogo base e restantes DLCs. Ainda que mais cinco capítulos de história e 3 personagens pareçam justificar o valor, a realidade é que o melhor negócio que podem fazer é comprar bundles de Aftermath com o Kombat Pack, ou, no caso de terem cometido no erro de terem passado ao lado do jogo base, comprarem o conjunto com tudo. No entanto, terem a experiência total de Mortal Kombat com este Aftermath e o seu elenco completo é mais do que obrigatório para os fãs da série e dos fighting games. 

Mortal Kombat 11 ainda é o apogeu contemporâneo dos jogos de luta mainstream, e Aftermath vem cimentar essa ideia. É o capítulo finalíssimo de uma trilogia que voltou a revestir de ouro Mortal Kombat, após anos de sucessivos falhanços. E que ainda é, dentro de todos os seus exageros que lhe ficam tão bem, o melhor complemento narrativo e cinematográfico que um jogo de luta já teve.