Admito olhar com algum desdém para a maioria dos jogos que fazem exactamente o que este Pokémon Café Mix faz. A diferença entre o tempo que lhe dediquei e o facto de ter ignorado praticamente todos os seus concorrentes igualmente free-to-play prende-se com um facto apenas: Pokémon. Mas não sou o único e a Pokémon Company sabe-o bem.
Pokémon Café Mix, lançado ontem de forma gratuita para iOS, Android e Switch, é o típico puzzle game de mobile. Em cada ecrã temos de conseguir cumprir com o pedido num número limitado de movimentos, e se falharmos dentro dessa janela podemos gastar in-game currency para ganhar 3 movimentos adicionais. É claro que, dentro do modelo de negócio, essa in-game currency pode ser paga com dinheiro real. As micro-transacções existem também para comprar Pokémon especiais. Mas isso já toda a gente esperava.
Ao falharmos, a consequência vai um pouco mais longe: não chega termos de repetir a missão, mas gastamos também um dos cinco corações que nos servem de energia, e que ao ficarem exauridos ou nos obrigam a esperar que sejam restabelecidos, ou a pagarmos dinheiro real para os obter de novo.
Jogarmos os puzzles não nos faz gastar corações, apenas os nossos falhanços o condicionam. Em teoria, acredito que um jogador com destreza e decisões perfeitas pudesse terminar o jogo a eito sem ter de investir um único euro. Os restantes têm de ir esperando que os corações se restabeleçam ou injectarem dinheiro real no jogo.
Como já percebemos, em Pokémon Café-Mix dirigimos um café, onde o nosso primeiro funcionário é a Eevee. Os clientes – todos eles Pokémon – vão chegando ao nosso café, e à medida que cumprimos um número determinado de pedidos, eles vão acabar por desenvolver um grau de amizade connosco e oferecerem-se para vir trabalhar para o nosso café. É possível que o facto de em hora e meia de jogo não ter visto uma única vez a palavra “salário” escrito onde quer que seja que permita esta entrada indiscriminada de novos funcionários. Espero que os sócios daquela Padaria muito conhecida não joguem a isto, para não terem ideias que levem para um sítio ainda mais esquisito o seu neoliberalismo.
E para que é que nos interessa ter uma variedade de Pokémon-funcionários? Porque cada um deles é especialista na confecção de produtos diferentes. O Charmander, por exemplo, é um expert em produzir bebidas, decorrente daquelas férias que passou a trabalhar no Starbucks do Dolce Vita Tejo, e o Snubull é especialista em ensanduiches. À medida que avançamos e que o nosso café vai sofrendo upgrades (ligados ao número de pedidos com sucesso que cumprimos) vão surgir novos tipos de alimento e bebida, e vamos ter contar com Pokémon cada vez mais especializados para os cumprir.
Quando temos com líder de confecção um Pokémon especialista no tipo de produto pedido, a barra de poder especial (que se vai enchendo com o número crescente de links em cada movimento) enche-se de forma mais rápida, dando-nos habilidades para “a mesa” que nos ajudem a cumprir com o puzzle de forma mais eficaz.
Algo que achei curioso no manueseamento dos puzzles é o facto dos ícones não serem estáticos, e reagirem à Física quando movemos os ícones ligados pelo ecrã. A maioria dos puzzle games do género têm as “peças” do puzzle estáticas, mas aqui nos mexemos no ecrã a nosso bel-prazer, o que muitas vezes vai fazer com que “tiremos” do sítio ideal as peças por lá espalhadas.
A direcção artística deste Pokémon Café Mix, para além do poder da marca colossal Pokémon, são indubitavelmente as estrelas deste jogo. A decisão dos seus criadores de colocarem um estilo pincelado reminiscente de ilustração editorial infantil vem trazer um sabor mais doce a um jogo que é todo ele repleto de fofura.
Ainda é cedo para eu perceber se este Pokémon Café Mix poderá ser o primeiro jogo do género que me vai conseguir reter durante algum tempo, mas é sem dúvida o primeiro a criar-me pelo menos algum nível de curiosidade.