Não tendo jogado nem Between Two Cities nem Castles of Mad King Ludwig, foi com grande curiosidade mecânica que vi este Between Two Castles of Mad King Ludwig, um exercício de game design de Matthew O’Malley e Ben Rosset que decidiram criar um jogo que aglomerasse duas visões e ideias distintas.
Explicar afinal do que trata este Between Two Castles of Mad King Ludwig não é difícil, e explicar que é um jogo cooperativo onde no final apenas um pode vencer é que é o ponto mais complicado de exemplificar. Mas vamos por partes.
Com um mínimo de 3 jogadores (ainda que um modo permita ser jogado com 2 jogadores humanos e um terceiro elemento a ser controlado “pelo tabuleiro”) a ideia base deste jogo é a de termos de colaborar com os jogadores à nossa esquerda e à nossa direita para erigirmos o castelo com a pontuação mais elevada possível.
Em Between Two Castles of Mad King Ludwig não existe “o meu castelo”, mas sim “os nossos castelos” já que à nossa frente, por sugestão do próprio manual, encontra-se apenas a carta de referência. É no espaço entre nós e os restantes jogadores que os castelos vão ganhando forma, 2 quadrados em cada ronda, num contributo conjunto dos 2 jogadores que o estão a criar.
Mecanicamente este jogo não poderia ser mais simples de explicar. Decorrendo em apenas dois turnos, cada um constituído por 4 rondas. No centro da mesa, preferencialmente, ao alcance de todos os jogadores, colocam-se os tabuleiros com as pilhas de tiles, os comuns, em pilhas de 9 virados para baixo, e os especiais, com a face virada para cima.
No início de cada turno escolhemos uma pilha de 9 tiles, escolhemos 2, colocamos na nossa frente, e os restantes colocamos debaixo do token de castelo do jogador à nossa esquerda (sendo que o jogador à nossa direita fará o mesmo sob o nosso castelo). Quando todos os jogadores tiverem escolhido, revelam os tiles, e podem dialogar abertamente sobre onde colocar cada tile no castelo de forma a maximizar a pontuação do mesmo, podendo inclusivamente discutir os tiles que acabámos de passar para a próxima ronda.
Esta sequência vai-se repetindo até que reste apenas 1 tile da pilha, abrindo caminho para o segundo turno, onde são escolhidas novas pilhas e onde se repete o processo até ao fim do jogo.
Como dizia, mecanicamente, é facílimo de explicar. É na gestão e colocação de tiles que fica todo o sumo deste Between Two Castles of Mad King Ludwig. Cada tile tem algumas indicações fixas: o tipo de divisão, que bonificação recebe ao ser colocado numa posição relativa específica com outras divisões, e o tipo de “decoração” que possui. Estas informações vão ser importantes à medida que o castelo toma forma, já que será o somatório das bonificações de cada um dos tiles que decretará a “classificação” pontual de cada castelo.
No meio das divisões de borda branca podemos encontrar algumas com rebordo azul celeste, que simbolizam tiles exteriores que têm uma regra adicional: nenhum tile pode ser colocado sobre ele visto representar um espaço no exterior.
A própria colocação das divisões tem algumas regras simples, sendo que a grande maioria pode ser colocado no piso térreo (onde está a sala do trono, a única peça rectangular de todo o jogo e a que nos serve de início) ou em qualquer andar superior, e as caves que são exclusivamente colocadas no subterrâneo.
O número de divisões do mesmo tipo despoleta por si só bónus (ou “habilidades” especiais e que são únicos à tipologia de quarto. Estas bonificações surgem no momento em que o 3º tile do mesmo tipo colocado no castelo, sendo que ao 5º permite-nos colocar um tile de especialidade, daqueles que estão virados para cima na bandeja amarela do jogo.
No final fazem-se as contas, e é aí que percebemos que temos de equilibrar o investimento que fazemos em cada um dos castelos. É que o vencedor é encontrado de forma simples: aquele que tiver o valor mais alto entre os 2 valores de castelos que construiu. O que significa que “colocar as fichas todas” num castelo de pouco vai servir, porque não vence o castelo com maior pontuação.
Pelas óbvias limitações sanitárias em que vivemos só pudemos experimentar este Between Two Castles of Mad King Ludwig no modo de 3 jogadores, o que nos leva a voltarmos a “ver” a nossa pilha inicial visto que ela eventualmente volta à nossa mão antes do turno terminar. Desta forma a nossa interacção com todos os jogadores, é, por razões óbvias, incontornável. Com mais jogadores a estratégia torna-se muito mais complexa, visto que existem alguns jogadores na mesa cujas acções não se cruzam de forma alguma com as nossas, o que nos leva a ter uma incógnita táctica maior do que quando jogado com 3 jogadores.
Sem qualquer limitação de língua, visto que todos os tiles são desenvolvidos com recurso a iconografia facilmente compreensível, Between Two Castles of Mad King Ludwig é um jogo rápido, táctico e semi-cooperativo que pode ser um bom passo de complexificação mecânica para os mais novos. Se as mecânicas são simples, é no raciocínio da optimização das suas escolhas e da construção dos castelos que fica o verdadeiro desafio, e o verdadeiro interesse para todos os jogadores.
Between Two Castles of Mad King Ludwig assume-se assim como um dos nossos jogos favoritos de tile placement, sobretudo por incorporar um clima de cooperação em toda a sua jogabilidade, que é apenas “desfeita” aquando da contagem final dos pontos.