Tenho saudades de RPGs. Não estou a falar em PC ou consolas, desses tenho aos pontapés. Ainda estou a jogar Pillars of Eternity, a rejogar Baldur’s Gate II e tenho mais alguns em lista de espera. Estou a falar de RPGs a sério. Com papéis lápis, borracha, miniaturas e dados. Pathfinder, D&D ou Vampire até Cyberpunk que só comecei uma vez e nunca acabei a campanha. Aqueles RPGs que o nosso Daniel Carvalho esteve anos a escrever sobre ele no Hens of Pen and Paper

Na verdade, a última vez que joguei um RPG foi há mais de 3 anos e foi só uma sessão, e não me lembro da última vez que fiz uma campanha completa. Talvez tenha sido de Vampire depois da faculdade ou algo assim. Mas na altura tinha um Game Master avariado que nos enviava SMS durante a noite com acções individuais entre sessões como se estivéssemos sempre em jogo. E ele tinha o cuidado de fazer isso apenas quando entre uma sessão e outra os personagens se tinham separado. Maluco esse gajo. Bom… onde é que eu ia? Ah, sim. Já há muito que não jogo um bom RPG de mesa, perdi a minha party habitual porque adultar e responsabilidades metem-se no caminho de coisas importantes e às vezes a vida simplesmente separa as pessoas, mas tenho mesmo saudades de me sentar umas poucas horas com uns amigos, encarnar um personagem e simplesmente divertir-me num mundo fictício.

Mesmo nos anos em que não tenho jogado passei por vários RPG “informáticos”, alguns de alto nível como os já mencionados Baldur’s ou Knights of the Old Republic e outros, só que não são a mesma coisa. Por melhor e mais pormenorizado que seja um destes jogos, e há uns muito bons por aí, são sempre limitados porque só podemos ter as acções e falas que foram programadas previamente em oposição a um jogo de mesa com um bom DM em que os limites são os da nossa imaginação, desde que não desrespeitem as leis do mundo. Ou seja nunca fazer um Benioff e Weiss. Se o mundo tem regras, são para cumprir até ao fim. Quem já jogou um D&D de mesa e um Baldur’s (desculpem estar sempre a usar o mesmo exemplo mas é por uma questão de consistência) qual é a melhor sensação?

  1. Clickar num personagem e esperar que o boneco animado bate repetidamente num inimigo ou
  2. Dizer ao GM algo como “vou virar para aquele inimigo, correr duas casas e deslizar por baixo das pernas dele e espeto-lhe um punhal por entre as pernas enquanto o faço”, rolar os dados e ver o sucesso e imaginar a cena toda?

Ou

  1. Escolher uma de 10 respostas pré-programadas a uma pergunta/situação ou
  2. Imaginar a nossa resposta perfeita para quem nós somos naquela situação?

Claro que vai existir quem prefira um e quem prefira o outro, ou como eu que gostam dos dois em situações completamente separadas. Mesmo assim, não posso deixar de achar que há uma certa magia num RPG de mesa. O convívio, a camaradagem e tudo o que vem com aquelas sessões às vezes longas demais, e outras absolutamente perfeitas. Hoje, com a pandemia que decorre ainda é mais complicado, para mim, orientar o tempo e energia necessários para encontrar e me juntar a uma mesa de jogo. Mesmo à distância usando apps e chamadas de grupo, é complicado. Então tenho recorrido à melhor alternativa que consegui para já, que é ver sessões de RPG online. Sim, eu sei que é uma alternativa ao nível de ver pornografia quando não se tem sexo, mas olhem: Funciona. E descobri duas que não estava à espera que me tivessem divertido tanto e outras que me surpreenderam.

É claro que há os clássicos como Critical Role com o que provavelmente é o melhor DM da história, ou para quem gosta de Vampire the Masquerade temos o L.A. by Night. E há outros entres os quais algum conteúdo em Português se procurarmos o suficiente. Tenho a certeza que o Daniel pode recomendar algumas coisas. As minhas recomendações vão para dois canais de youtube que a certa altura ficam interligados.

O primeiro, que já tinha recomendado numa mensagem algures num dos episódios do Split-Chicken é o Gegghead do Freddie Prinze Jr. Entre outras coisas como sessões de jogos de tabuleiro e party games com várias personalidades de Hollywood como o Macaulay Culkin que é um grande amigo dele, há duas séries de vídeos que recomendo que são as Gegg Wars.

Nestas sessões, algumas bastante longas, vemos os heróis num Pen and Paper no mundo de Star Wars. As sessões são bastante divertidas e contam uma aventura que, na minha opinião, é mais interessante que alguns dos filmes e livros da saga. A primeira temporada de Gegg Wars é composta por 5 episódios entre 1h30 e 2h10 cada e conta com Sam Witwer (actor que deu a cara ao “The Aprentice” em The Force Unleashed II, Doomsday em Smallville e é a voz de Darth Maul na série Clone Wars) como um fantástico Games Master, e além de Freddie Prinze Jr. tem o restante elenco de voice actors da série Star Wars Rebels, a protagonizar outros personagens que não as da série animada. A segunda temporada intitulada Galaxy of Crime, onde os 5 episódios vão de 2h20 a 4h20 cada, conta com outro Games Master igualmente bom, e uma party ligeiramente diferente também e como o nome indica um foco em actividades criminosas tais como só a pior escumalha da galáxia é capaz de fazer.

O segundo canal que recomendo é o UpUpDownDown do Xavier Woods, estrela da WWE e membro dos New Day. Xavier que juntou no seu canal um grupo de atletas da WWE que também são fãs de videojogos com quem faz torneios que vão de Fifa e Madden aos WWE2K (inclusive há um cinto de campeão para quem vence os torneios) e tem um grupo mais pequeno para os Rollout que conta com Ember Moon, Tyler Breeze, Brennan Williams na primeira temporada, ao que acrescentam  Alexa Bliss e Aiden English na segunda em que jogam D&D clássico guiados por Arthur Wright.

Na minha temporada favorita, a terceira, perdem Aiden e Wright mas ganham Freddie Prinze Jr. como novo DM que os leva para um mundo completamente diferente e mostra um grande talento para gerir o jogo. Os episódios são muito mais curtos que os de Gegg Wars indo de 20 e poucos minutos a 1 hora e pouco no máximo e é extremamente divertido ver quebrar a barreira de que estas pessoas estupidamente atléticas e musculadas também gostam de protagonizar personagens nestes jogos. Que nos leva ao final deste artigo, e a algo que descobri que é o grupo D&D mais procurado de Hollywood. 

Liderados por Joe Manganiello (o lobisomem Alcide Herveaux em True Blood) na sua man cave o grupo conta com, entre outros The Big Show, atleta da WWE, Tom Morello dos Rage Against the Machine e Vince Vaughn ou os já mencionados Weiss e Benioff. Apesar de eu saber que Manganiello era um fanático por D&D desde miúdo tal como outros actores como Vin Diesel e Henry Cavill, nunca julguei que se juntassem todos para jogar. E jogar uma sessão com eles deve ser bastante interessante como podem ver num dos poucos vídeos que mostra um pouco da sua dungeon impressionante. Uma pessoa com muita sorte terá oportunidade de ir fazer um jogo com eles porque o senhor Manganiello deu a oportunidade a alguém que fizesse uma doação para a associação Make-a-Wish de ir jogar com eles, quando for seguro pós-pandemia. O vencedor não foi sorteado ainda mas eu espero que quem ganhe saiba a sorte que tem por duas razões. 

A primeira é a de bater à porta da casa dele e quando a Sofia Vergara, mulher de Joe abrir a porta, dizer envergonhado:

Olá, Senhora Vergara, o Joe está?

E ela responder:

Sim, está na cave com os amigos, vai lá ter com eles” e quando passar ela gritar com aquela voz característica dela “JOE VAI AÍ UM DOS TEUS AMIGOS!!

A segunda razão é depois da sessão, por pior que possa correr mas duvido que isso aconteça, poder olhar nos olhos do Weiss e Benioff e dizer “Tantas sessões destas e não aprenderam a contar uma história de jeito? Tinham metido este gajo a escrever!”.

Por acaso, mesmo quando estava acabar este artigo recebi a notificação desta campanha de Kickstarter: Adventure Presents: Tartarus Gate  Um RPG Pen and Paper desenhado para ser jogado em confinamento. Ele há coisas…

Quem tiver sugestões de boas sessões ou séries de RPG em vídeo, coloque nos comentários por favor.