Terminei há dias a cruz de chegar a 100% de Breath of the Wild e descobri que alguém teve o emprego mais sádico da história dos videojogos.
Caso não estejam a par, completar a história de BOTW dá-vos menos de 1% para o total. Depois de ter chegado aos 100%, espanta-me é que conte de todo. Como eu já me ia convencendo quando escrevi o meu artigo de estreia para o Rubber, a história é uma das coisas que nada interessa em Breath of the Wild. E então perguntam vocês, qual é o grande sentido da vida neste jogo?
Explorar.

Yahaha!
Ainda hoje acredito que Breath of the Wild podia não ter qualquer tipo de evento narrativo e continuar a ser um dos melhores jogos de sempre. O mundo constrói-se bem por si só e apenas precisa que o jogador parta à descoberta. Pese o facto de concordar com o João Machado em como encontrar as 900 korok seeds – os mais numerosos colecionáveis deste jogo – torna-se inútil a partir de 1/3 desse valor, estas escondem um objetivo muito mais engenhoso: desvendar todos os segredos do mapa.
Mas poucos de nós somos naturalmente curiosos e especialmente interessados em revirar cada pedra de Breath of the Wild. Sim, todos nós escribas do videojogo andamos desde 2017 a apregoar a marvilha que é explorar esta versão de Hyrule, mas quantos de nós o fizemos de forma totalmente desinteressada?
É aqui que entra o Coelhinho da Páscoa. À falta de confirmação detalhada de quem foram todos os indivíduos na equipa de desenvolvimento responsáveis pelo conceito e disposição das korok seeds, tenho a firme crença de a reencarnação desta criatura do Luteranismo aconteceu em Hidemaro Fujibayashi, diretor de Breath of the Wild e da maioria dos títulos da franquia depois de Occarina of Time.

Hidemaro Fujibayashi, doravante conhecido como o Coelhinho da Páscoa
Agora imaginem que o vosso trabalho envolve criar não 900 ovos coloridos mas 900 pedaços de excremento de seres fotossintetizantes (os Koroks) que deverão espalhar adequadamente por cerca de 60 quilómetros quadrados tendo em consideração pontos de interesse e os diferentes relevos. Como Coelhos da Páscoa do século XXI, devem também pensar que korok seeds deverão ser colocadas não só debaixo de centenas de pedras mas também como recompensas por se cumprirem:
– mergulhos Olímpicos;
– provas de contra-relógio enquanto a apanham flores ou escalam montanhas;
– desafios arco e flecha;
– lançamentos, empurramentos ou tele-magnetisamentos do peso;
– jogos da apanhada;
– oferendas de fruta a Nossa Senhora de Fátima;
– diagnósticos de Distúrbio Obsessivo-Cumpulsivo enquanto forçamos de maneira algo nazi árvores de fruto a só darem fruto dos ramos da frente;

YAHAHA!
E podíamos continuar nesta lista até aparecer a vacina para o COVID-19. O que estes Coelhos da Páscoa com inclinação para os Jogos Korolímpicos nos convidam é a conhecer de cor cada centímetro do mapa através de 900 colecionáveis que nos levam a cumprir 70% do jogo. Naturalmente, grande parte dos 15% com que somos premiados ao descobrir todos os locais com nome do jogo acabam por aparecer por si só. Ou seja – de tantas vezes que queremos ir à Índia, eventualmente descobrimos o Brasil.
E porque estes Koroks nos obrigam a escutar uma exclamação irritante 900 vezes, tendo a pensar que este Coelhinho da Páscoa também faz parte dos Happy Tree Friends, já que é todo um sadismo fazer o jogador cortar os pulsos para perceber onde estão as últimas 100, 50 ou 1 korok seed. Sobre isso: é giríssimo andar à caça das primeiras 300, tudo o que se segue é tortuoso. Não tenho vergonha em admitir que recorri a um guia, e quando tinha 899 tive este final glorioso:
Era bom, não era? Como me lembro de escrever que Breath of the Wild era um pouco como a vida, levei com uma dessas chapadas da vida no focinho e tive de recontar todas as minhas sementes e lá descobri a última num local bem menos glamouroso:

Ah! Foi tão bom achar que tinha corrido tudo para depois ficar ali…e atirar-me aquele rio

Yesssssssssssssssssssssssssss
Pelo meio descobrir todas as shrines (perto de 10%) também contribuiu para esta empreitada dos 100%, à qual ter adquirido os capítulos DLC em que novamente concordei com o João Machado em não valerem o preço numa fase avançada do jogo me fez perder mais uma tarde do que o previsto.
E pelo meio de tanta amargura neste texto, perguntar-se-ão vocês porque me dispus a isto?

YA-HA-FUCKING-HA!
The Legend of Zelda: Breath of the Wild mereceu o meu esforço. Os inúmeros Coelhinhos da Páscoa liderados por Hidemaro Fujibayashi criaram algo tão maravilhoso e, adivinho, influente que estou quase com o mesmo feeling que tive depois de ver o Lobo de Wall Street e ter decidido que era o meu filme preferido. Até juntei este achievement à minha desinteressante descrição do Rubber. Nunca pensei que o primeiro jogo que adquiri para uma consola em idade adulta me desse experiências tão inesquecíveis. Por conselho instintivo do meu amigo Diogo adquiri em 2018 Breath of the Wild em vez de Super Mario Odyssey – e sem desfazer de todo o esplendor dessa aventura com o nosso amigo canalizador, Breath of the Wild é transcendente.
E o que recompensa o meu esforço em homenagem a essa transcendência? Uma poia dourada gigante. Yay.

I shit you not… ha!