Caçada Semanal #228
Se calhar o problema com 2020 é o facto de que foi Lovecraft quem o escreveu. E isto do coronavírus é dos Deuses Antigos a surgirem para nos chatear. Quem sabe? Com tanta teoria da conspiração, será que me é permitido criar um igualmente plausível.
Dos 3 indies desta semana só um abraça o clássico escritor de horror, mas os outros também podiam ter sido.
The Innsmouth Case [PC, iOS, Mac, Android]
Não há tema que não seja overplayed à exaustão. Sejam zombies, vampiros, e afins, um dia chegou para que H.P. Lovecraft ficasse também neste catálogo de temas que foram usados até à saturação.
The Innsmouth Case quis mergulhar nas histórias dos Deuses Antigos sem ser cliché, e sem repetir à exaustão os contos que todos já lemos de um dos grandes mestres do horror. E decidiu fazê-lo através do humor.
Esta text adventure, ou livro interactivo onde as nossas escolhas vão influenciando o caminho do nosso protagonista. Mas o enredo anda sempre a oscilar entre a seriedade de horror e o humor, com um dos embates iniciais, por exemplo, a mostrarem isso mesmo.
O nosso personagem é um investigador típico daqueles contos hard-boiled, com o escritório com persianas a condizer. Pela porta a dentro entra-nos uma cliente com algumas frases sugestivas. Decidi enveredar pelas opções de diálogo mais descaradamente de engate, com um misto de azeiteirice de mestre-de-obras, e ao invés de saber o que a levou a procurar-me, o jogo limita-se a dizer: então já é de manhã, não vou dizer o que aconteceu nas últimas horas porque estavas lá e sabes”.
É neste tipo de cenário que The Innsmouth Case nos leva, sem nunca se levar demasiado a sério. Com 27 finais diferentes, há muita exploração possível, num dos objectos que consegue tornar Lovecraft numa peça de humor. Negro, é claro.
Rising Lords [PC]
Parece que há uma tendência este ano para termos jogos a apanharem ou a linguagem de Monty Python ou uma versão amplamente inspirada em iluminuras e ilustrações medievais. É que só em indies com esta abordagem já conto pelo menos 6 nos últimos meses. O que não é coisa pouca.
Rising Lords, lançado em Early Access é o mais recente título que pega na imagética da Idade Média e a aplica em videojogo. Ou neste caso num jogo de tabuleiro que por acaso é um videojogo.
O conteúdo que existe agora ainda é limitado, e diria até que a aplicação destas imagens medievais no tabuleiro é algo tosca. Há aqui um grande trabalho de de design e de apuramento visual a fazer antes de Rising Lords poder sequer fazer frente ao que tantos jogos de tabuleiro físicos fazem hoje em dia.
Mecanicamente também ainda não apresenta ideias que o façam divergir de outros jogos melhores. Como termo de comparação, entre apostarem neste Rising Lords ou na versão digital do magistral Scythe vão apenas 2 euros e pouco de diferença.
Parece-me que nesta fase de alpha não são apenas as amputações que são superficiais: o que Rising Lords tem para apresentar também.
Skully [PC, Switch, PS4, Xbox One]
Se eu disser que os 3D platformers não estão na sua fase mais profícua, algum de vocês me vai condenar por dizê-lo? Possivelmente não. É que depois deste género ter sido a pedra basilar de algumas das gerações de consolas, ultimamente os bons títulos que se aventuram por estes títulos pertencem usualmente a “casas grandes”.
Skully quer contrariar isso com a sua direcção artística altamente aprimorada, com um tremendo detalhe na construção visual dos cenários. O que é o invólucro perfeito para um jogo onde controlamos uma caveira esférica que está em constante “rebolanço” pelos níveis.
Toda a acção de Skully se desenrola (ou rola) numa ilha deserta habitada por quatro deuses elementais que têm uma chatice entre si, o que leva um deles a ressuscitarem-nos…sem corpo.
Controlar a esfera pelos terrenos e caminhos acidentados sem cair à água é um dos desafios mecânicos de Skully, mas à medida que o jogo avança um pouco ganhamos a possibilidade de invocarmos 3 formas distintas quando entramos em poças de lama. Cada uma dessas formas tem uma habilidade própria que nos vai permitir ultrapassar level designs mais complexos.
Skully é um desafiante e coeso 3D platformer indicado para os fãs do género. O seu alto nível de detalhe e polimento equiparam-no a alguns jogos com orçamentos bem mais elevados.