Para muita gente da minha idade, os livros (e as adaptações de TV) de R. L. Stine foram a sua porta de entrada para o mundo do terror. Com o intuito de criar histórias de horror soft – se é que o conceito existe realmente – Goosebumps, ou Arrepios, como conhecemos cá no burgo, têm em si personagens e histórias emblemáticas que “ensinaram” muita gente a sentir medo.
No meu caso, como já tinha contado, pelo facto de ter primos mais velhos e por viver numa casa onde se consumia muito cinema, especialmente VHS alugados, o meu primeiro contacto com o terror já tinha acontecido, por ver filmes de Sam Reimi, Wes Craven, David Cronenberg e John Carpenter mais cedo que deveria.
Antes que queiram chamar a Segurança Social para conversar com a minha família com 30 anos de atraso, relembro-vos que nasci e cresci numa época anterior aos tão úteis dados de aconselhamento de faixa etária.
Apesar do tom soft da coisa, R L Stine é um dos maiores sucessos num segmento que ele próprio criou. Não seria pois de estranhar que tantas décadas depois do auge de Goosebumps, ainda existam adaptações ao grande ecrã protagonizadas por Jack Black.
Goosebumps: Dead of Night é a sequela do jogo de mobile que acompanhou o filme de 2015. Um first-person survival game onde vemos o escritor (cuja voz no jogo é do próprio Jack Black) a ser engolido pela sua máquina de escrever. Cabe-nos a tarefa de percorrer a mansão, a ler páginas perdidas dos seus livros e a escapar aos muitos monstros do franchise Goosebumps para sobreviver.
Percebemos logo nos primeiros instintos que há aqui uma sede de mimetizar o sucesso de Five Nights at Freddy’s. Uma tarefa, que, tendo em conta a dimensão colossal do franchise de Goosebumps e de muitos dos seus monstros, em especial Slappy (que funciona aqui como antagonista principal), parecia simples. Mas não foi.
Comecemos pela apresentação, de um jogo que é notoriamente uma adaptação do original de mobile, e que resulta aqui num jogo com um aspecto retrógrado, da geração da PlayStation 2. Eu não seria muito picuinhas com isto não fosse o jogo custar trinta e tal euros. São muitos euros a mais do que o jogo merece.
Dividido em 3 capítulos (em que o primeiro é o port do jogo original de mobile), Goosebumps: Dead of Night anda na corda bamba entre deliciar os fãs dos livros com os monstros de Stine a deambularem para nos matar(?) (não sei bem se morremos quando vemos o ecrã de Game Over, mas diria que sim) e um jogo que parece apenas um cash-in. Aliás, desculpem o “parece”.
Mas se pensam que 3 capítulos é automaticamente sinónimo de um jogo longo que consiga de alguma forma justificar os trinta e tal euros, desenganem-se. A componente de survival horror, depois de morrerem umas vezes por não perceberem bem o jogo, esfuma-se, e a Burrice Artificial dos monstros vem ao de cima. Sim, a IA dos antagonistas é tão fraquinha que me custa apelidá-la de inteligência, apesar de tecnicamente essa ser a definição.
Os padrões de movimento dos monstros são perfeitamente identificáveis, e não há criatura que não ceda ao todo-poderoso “esconder-te num sítio qualquer provoca cegueira instantânea a quem te persegue”.
Apesar de Goosebumps: Dead of Night ser direccionado ao público infanto-juvenil, parece-me que quem o criou adoptou uma postura de “para quem é, bacalhau basta”. Este jogo não é de terror, nem de terrir, é apenas uma arrepiante forma de se perder 35 euros. Se têm saudades de Arrepios liguem a Netflix e vejam os episódios ou mesmo os filmes recentes, ou peguem nos livros e releiam-nos. Agora este jogo… mantenham-se longe, muito, muito longe.