Vamos lá tirar o elefante de papel da sala antes de avançarmos muito: será que a Nintendo pode – ó se faz favor – passar o desenvolvimento dos jogos Paper Maro para as mãos do estúdio AlphaDream ao invés de continuar a apostar cegamente na Intelligent Systems. Sim, sabemos que Fire Emblem é giro (ainda que o último não me tenha enchido as medidas) mas pela terceira iteração seguida a Intelligent Systems mostra que não consegue cumprir com o enorme potencial da própria série, e Origami King tem a gramagem de uma folha de papel de fotocopiadora.
Vamos tirar o outro elefante da sala que é fazer perceber que após Super Paper Mario a genial série que nasceu na N64 tem tido maus anos, Vou até mais longe ao afirmar que nos últimos 11 anos a qualidade tem sido decrescente, cada nova iteração a afastar-se do que a tornou tão original. Sticker Star é mediano, Color Splash é mau, e se Origami King consegue elevar ligeiramente a fasquia em alguns aspectos, em muitos outros parece ter desistido de tentar.
Lembremo-nos que nas últimas duas décadas a Nintendo tem duas séries paralelas de RPG que são filhas do magnífico Super Mario RPG. A diferença entre elas é que se uma, Mario & Luigi, conseguem consistentemente inovar e manter o patamar de qualidade (ou elevá-lo), por outro lado, Paper Mario, que metade dos jogos lançados é verdadeiramente genial, e a outra metade é esquecível.
O problema decorrente dos últimos Paper Mario permanece neste Origami King: há um emburrecimento assustador, do excesso de intrusão e acompanhamento dos tutoriais que se repetem ad nauseam, à bidimensionalidade atroz dos personagens. Tirando o novo antagonista e a sua irmã, todo o restante elenco é medíocre, pouco desenvolvido e superficial. Se depois de desligarem a vossa Switch conseguirem reter algo dos personagens integrados que não estes, dou-vos os parabéns.
Se Mario & Luigi abraçam o combate por turnos original de Super Mario RPG e tentam em cada iteração dar-lhe pequenas voltas que o façam fresco, em Paper Mario temos tido uma sucessão de soluções que acabam por estragar as batalhas. Sejam os autocolantes ou as cartas dos jogos anteriores, ou mesmo esta aparente boa ideia de um sistema de puzzle como o que foi integrado neste Origami King.
Com esta aparente alergia aos RPGs que Paper Mario revela, tornando o combate inócuo visto que permanece sem um objectivo conciso (nada de XP por exemplo), a implementação de um sistema de puzzles parecia uma boa ideia nos primeiros 15 minutos depois disso já não o conseguia ver à frente.
Em Origami King o combate é feito através de uma série de círculos concêntricos onde Mario se encontra no meio. Os inimigos estão nesses círculos, e cabe-nos o desafio de os alinhar para podermos atacá-los a todos com um salto ao mesmo tempo, ou colocá-los num quadrado para que possamos dar-lhes uma martelada geral. Por favor,não descontextualizem sexualmente esta frase.
Um sistema de puzzle curioso, em que temos acções limitadas para mover as fatias e/ou círculos de forma a podermos atacar e resolver o quebra-cabeças, eliminando todos os inimigos antes que estes tenham tempo para nos atacar.
Mas depois de 10, 15, 20 combates já só rezamos por um sistema habitual de combate por turnos, com ou sem gimmicks como em Mario & Luigi. A paciência para resolver o mesmo puzzle repetidas vezes sem vermos grande recompensa sem serem moedas acaba por tornar este grind ainda mais aborrecido do que aquele que qualquer JRPG nos pede.
A restante exploração é interessante, e a beleza do mundo feito de cartão e origami confere uma dimensão artística interessante a este novo Paper Mario, criativamente muito melhor que os anteriores títulos.
O level design está recheado de puzzles que nos obrigam a preencher buracos no papier-mâché com confettis, ou usar uns braços em harmónio de papel do Mario para conseguir arrancar ou rasgar partes do cenário. Ideias interessantes, não tivéssemos uma estranha sensação de déja vu, que em comparação dão uma coça ao que a Intelligent Systems apresentou neste jogo.
É verdade que os elementos tecnológicos disponíveis na Vita e na PS4 são diferentes daqueles que a Switch possui, mas a originalidade de Tearaway e a própria construção desse mundo são infinitamente mais interessantes do que a superficialidade este Paper Mario. E antes de poderem rebater com a notória diferença de orçamento entre ambos,relembro-vos daquele que foi o meu jogo favorito na minha ida à Gamescom 2014: Tengami, um indie feito por um par de pessoas que saiu originalmente como exclusivo da Wii U. E que conseguia explorar de forma mais inovadora a utilização do origami do que este Origami King.
Numa fase em que ando a revisitar jogos da NDS e da 3DS só vos posso dizer que se querem aplacar as saudades de um bom Mario RPG, que têm os geniais Mario & Luigi para revisitar. Aliás, foi no crossover com Mario & Luigi que vimos o titular Paper Mario a brilhar como merecia, ainda que mesmo esse jogo tenha estado uns furos abaixo da estante série. Tudo são melhores apostas do que este Origami King, um jogo que foi para mim uma tremenda desilusão por não conseguir cumprir o que os trailers prometiam. Ainda não é desta que a série Paper Mario se redime, e se eleva para o patamar onde já esteve. Valem-nos as incursões pela 3DS com os maravilhosos Mario & Luigi. Ou se quiserem um jogo verdadeiramente genial sobre papel, Tearaway deve estar por uma bagatela. Mais barato até que esta versão dos 300$ encabeçada pelo Mario.