Apesar dos seus quase 90 anos, a Lego continua a parecer ser imortal, com uma omnipresença na nossa vida que a torna uma parte intrínseca do nosso crescimento. No caso da minha geração, a Lego é quase um ritual de transição, algo que é mais do que um brinquedo, que não tem limite de idade, e com o qual me divirto tanto hoje quanto me diverti aos 4 anos, quando recebi o meu primeiro balde de peças sortidas.
A Lego é também uma herança, e o meu balde vermelho teve uma passagem de testemunho para o meu filho mais velho, enquanto o mais novo ainda não tem idade para brincar com estas peças tão pequenas.
Mas brincar com Lego é sobretudo um momento de partilha. O primeiro conjunto que montei em conjunto com o meu filho foi um Lego Ideas de Doctor Who, e essa foi apenas a porta de entrada. Daí a outros conjuntos e a toda a colecção de Lego Dimensions foi apenas um passo.
Ver a Lego a aliar-se àquela que é a mascote contemporânea mais poderosa é perfeitamente natural, e para muitos, quase que “peca” por tardia. Longínqua que está a febre dos toys-to-life, em que a Ubisoft com o seu Starlink foi o último reduto.
Por um lado é compreensível este desfasamento temporal, já que em aspecto algum este Lego Super Mario entra dentro do ambiente de toys-to-life. É antes um brinquedo com algumas interacções tecnológicas, mais em linha com o que a Nintendo implementou com Nintendo Labo do que com a utilização de brinquedos enquanto expansão de um jogo base.
Lego Super Mario, como dizia, é bem diferente. Se quiserem, e com as devidas distâncias, é o mais próximo de um Super Mario Maker físico que existe. Muito graças ao profundo e aprimorado trabalho que os designers da Lego tiveram em traduzir para brinquedo alguns dos elementos clássicos dos níveis dos históricos jogos de plataformas do Mario. Uma transcrição que não sendo fácil de fazer, mas que tendo em conta os 3 sets que recebemos (o base e 2 expansões) diria que há aqui um excelente trabalho de fundo: o de transformar em estruturas de Lego aquilo que tão bem conhecemos desde os tempos da NES.
Há pouco dizia que a distância entre este Lego Super Mario e os conceitos de toys-to-life não podiam ser mais distantes, e mantenho essa afirmação. Estes sets são brinquedos puros, que sobrevivem sem a interacção tecnológica (do qual já falo) e que não necessitam de consolas adicionais para o seu usufruto.
A jóia da coroa desta colecção é o próprio boneco do Mario, e não apenas por ele ser algumas vezes maior que uma peça de Lego habitual. Mas de outra forma não poderia ser construído, dadas as características únicas desta figura. Num boneco tão pequeno podemos contar com 2 mini-ecrãs de LED, um nos olhos e outro no peito, para além de uma coluna na cabeça de onde sai a reconhecível voz de Charles Martinet. Para além disso a figura conta com giroscópio e um leitor debaixo das pernas que é utilizado para ler os códigos de barras dos obstáculos e dos inimigos.
Esta capacidade da figura do Mario de ler os códigos tem alguns momentos interessantes, nomeadamente os de mudar as faixas musicais para que elas se ajustem ao trecho de nível que concebemos.
Como dizia antes, existe aqui uma componente de interacção tecnológica. A app, disponível para Android e iOS, serve não só como manual de instruções de montagem, como vai guardando as informações dos níveis que fizemos, assim como as moedas que apanhámos ao longo das nossas travessias.
Por muito complexos que sejam os níveis que montamos com os muitos sets disponíveis, o Mario nunca morre. E isto passa por uma vontade dos criadores da Nintendo por não quererem associar a ideia de um brinquedo à morte. No entanto, é possível “falhar” um nível se falharmos o tempo: sempre que começamos um nível (que é como quem diz, sempre que digitalizamos o código de barras do cano verde inicial) o peito do Mario mostra os 60 segundos de contador de tempo e temos de chegar até ao código de barras de bandeira de final de nível para pararmos o relógio.
Para um fã de Lego e de Nintendo é impossível ficar indiferente a estes conjuntos. O carinho que cada novo set apresenta demonstra serve automaticamente para transportar o mundo do Super Mario para cima da nossa mesa ou para o chão da nossa sala. É um excelente brinquedo para partilhar com os filhos, mas a ideia de criarmos e de resolvermos os níveis em Lego acaba por esgotar-se rapidamente. As interacções com o boneco do Mario são engraçadas e têm momentos interessantes (se o deixarmos deitado demasiado tempo ele acaba por adormecer) mas não demora muito a fecharmos o iPad e brincarmos com os conjuntos de Lego por aquilo que eles são: geniais traduções em brinquedo de uma das séries mais importantes da História dos videojogos.
Lego Super Mario tem piada como brinquedo, mas não vejo o mesmo apelo de coleccionar tudo como em Lego Dimensions, em que cada novo set é uma espécie de DLC em si mesmo. Para além disso, mesmo para coleccionadores, a quantidade de conjuntos lançados nesta primeira vaga mais as saquetas de figuras aleatórias (com 10 diferentes para coleccionar) tornam o investimento avultado. O conjunto do Castelo do Bowser custa 99 euros, para terem uma ideia. A somar a isto os power ups do Super Mario, que são novas jardineiras que lhe dão o poder do gato, por exemplo, tornam esta “brincadeira” ainda mais dispendiosa.
Mas o conjunto base é uma excelente prenda para pais e filhos, com as interacções da figura do Mario (incluída no set inicial) a servir como um excelente exemplo das potencialidades deste brinquedo. Lego Super Mario, em especial o conjunto inicial, é uma das nossas grandes recomendações para prendas neste Verão que se avizinha como o mais diferente das nossas vidas. E uma boa fonte de brincadeira para quem está fechado em casa.