Ver deambulações de jogos tactical strategy à XCOM por ambientes históricos não é de todo novidade. Seria, aliás, se há poucos anos não tivesse contactado com Crookz, um jogo que trazia um grupo de assaltantes em plenos anos 1970 para um ambiente tirado dos jogos da Firaxis, ou ela mesma quando nos levou para a América da década de 1960.

Mas se a Kalypso nos colocava no ambiente pejado de bolas de espelho, calças à boca de sino e disco, Company of Crime, por sua vez, faz-nos regredir 10 anos, até à Londres dos anos 1960. Como The Bureau, mas com menos caçadeiras.

Em Company of Crime é possível seguir duas campanhas distintas: uma, em que abraçamos o crescente mundo do crime organizado na capital do Reino Unido, e outra em que integramos uma força de elite da Scotland Yard a tentar desmantelar essa mesma rede.

Company of Crime, dentro do seu aspecto táctico no combate, é sobretudo um jogo sobre luta corpo-a-corpo. E compreende-se dado o enquadramento real da situação que Londres (e tantos outros países) sofreram com o crime organizado no século passado (ainda recentemente saiu no Netflix um documentário sobre o domínio da Máfia em Nova-Iorque nos anos 1970). 

As armas existiam, de um lado e de outro da lei, mas a sua utilização era ponderada. De pouco compensava aos criminosos andarem a alvejar – chamando demasiada atenção sobre si – e para a polícia é preferível prender e interrogar um criminoso do que servir de executor na via pública. Distante de XCOM, em que combater alienígenas só pode ser feito com o armamento mais high tech com o máximo de prejuízo possível.

Portanto o combate, como dizia, é eminentemente físico, é é também o elemento mais interessante de todo o jogo. As acções que temos disponíveis estão cheias de contexto com o ambiente que temos em volta. Se nos tivermos posicionado atrás do inimigo e ele estiver perto de uma mesa ou montra, podemos bater-lhe com a cabeça no móvel. Se posicionarmos duas unidades nossas à volta do inimigo, o tipo de ataque que temos disponível leva a que um segure o adversário e o outro lhe bata.

Ainda assim, existe uma mecânica de heat que vai subindo mediante as nossas acções e que vai colocando o olhar atento da autoridade sobre nós, numa barra que tem de ser gerida com pinças ainda que saibamos que iremos eventualmente “aquecer” a cidade em demasia.

É nesta diversidade de acções dependentes do contexto que Company of Crime brilha, trazendo um sabor táctico diferente e quebrando a eventual monotonia de acções que alguns jogos do género incorrem.

A vertente estratégica de Company of Crime é bem evidente no planeamento que podemos fazer do mapa de Londres, onde vamos definindo e executando as nossas aventuras criminosas, mediante a “conquista” de território que vamos tendo (e cujas escolhas se materializam em missões tácticas que temos de pôr em acção). Do lado dos polícias a coisa muda de figura, e podemos ir assignando alguns agentes para patrulharem determinadas secções do mapa.

Narrativamente este Company of Crime é um cliché andante, portanto não esperem a finesse dos melhores policiais sobre crime organizado. A utilização extenuada de estereótipos de personagens é tão evidente que rapidamente nos lembramos que ainda há 1 semana escrevíamos sobre Peaky Blinders, que tem a mesma temática, mas que consegue apresentar o seu mundo sem sentirmos que tropeçámos num cliché.

Ironicamente, apesar do excelente sistema de combate melee, Company of Crime é extremamente repetitivo nas suas missões, e a sua monotonia é demasiado óbvia para deixarmos passar ao lado. Mesmo os fãs de XCOM cedo vão perceber que apesar das boas ideias, o patamar de qualidade do jogo não corresponde de todo ao seu potencial. Mas fica pelo menos um sinal positivo para as próximas criações dos Resistance Games, se souberem dar melhor corpo às suas excelentes ideias. Company of Crime fica a meio caminho entre aquilo que realmente poderia ter sido, e aquilo que efectivamente conseguiram desenvolver.