O Tempo para ter tempo, já foi há tempo
Por vezes encontro-me a olhar para um jogo de um género que já não costumo jogar (normalmente um shooter competitivo ou um jogo de estratégia) e fico a pensar: “Que saudades tenho de dedicar tempo e paixão a esmiuçar as partes mais complexas e difíceis das mecânicas do jogo! Quão doce deve ser o néctar existente no topo da montanha da mestria intelectual e até física das capacidades necessárias para jogá-lo competentemente!”. Invariavelmente, quando começo a jogar acabo por perceber que terei de dedicar largas horas e paciência, que já escasseiam, para começar a desfrutar desses jogos. Fico frustrado e acabo por parar.
Vezes sem conta quis que houvesse uma versão soft desses jogos, para que os pudesse explorar e descobrir sem uma montanha de frustração acoplada à experiência. Nem sempre quero voltar aos jogos de estratégia com uma sessão de Civilization e encontrar-me perdido em menus e frustrado por uma montanha de sistemas complexos. Uma abordagem inicial menos séria e mais casual, é então uma boa maneira de reatar o amor por um género ao qual já não estamos habituados.
Plebby Quest: The Crusades apresenta-se como uma boa resposta ao meu problema. Este jogo de estratégia desenvolvido pela PiedPipers consegue encapsular muitos dos aspectos positivos e viciantes do género de estratégia numa embalagem cheia de humor e personalidade, simplificando muito os menus e a nossa interacção com os mesmos.
Vamos ao que interessa: Derrotar mauzões!
O jogo conta com dois modos de jogo: Um modo história com três curtos cenários focados em diferentes personagens históricas e localizações geográficas, e um modo free play onde podemos escolher o país que queremos ser e partir para a dominação global ou de secções menores do globo.
Recomenda-se começar pelo modo história, pois os três cenários apresentados são relativamente curtos (~3 horas cada) e vão introduzindo lentamente o jogador às mecânicas e ferramentas ao seu dispor. Cada turno tem dois tipos de acções: Acções “livres”, ou seja, sem limite, e acções limitadas, cujo número é igual à quantidade de generais que temos ao nosso dispor. Há uma enorme variedade de acções a fazer, desde invadir cidades inimigas ou defender-se de invasores, policiar as ruas das nossas cidades, expulsar bandidos, pesquisar novas tecnologias, produzir bens comerciáveis ou simplesmente jogar alguns mini-jogos que nos recompensam com dinheiro ou recursos. As acções centram-se no mapa-mundo, na taberna local, ou no centro religioso local (igreja ou mesquita).
Em cima de todas estas acções, existem dois sistemas interrelacionados: Diplomacia e Religião. Nestes sistemas, temos de gerir a relação do nosso império com os circundantes, ou com a religião em que nos inserimos. Ambos os sistemas são importantíssimos para a garantia da saúde do nosso império e afectam-se um ao outro. Boas relações de Diplomacia podem garantir uma troca de recursos importantes ou uma aliança militar proveitosa, enquanto que a nossa relação com a religião permite-nos aceder a unidades militares poderosas e melhora as nossas relações diplomáticas com os fiéis da mesma religião. Quando qualquer um destes sistemas é descurado, encontramo-nos em situações difíceis de constante guerra ou até de excomunhão religiosa, o que nos torna no recipiente do ódio dos impérios com a mesma religião.
Em conjunção com estes sistemas, existe um modo de combate separado, que se inicia sempre que encetamos alguma acção bélica com um general. Cada general tem uma tropa privada e, após combate, tanto as tropas como os generais ganham experiência e tornam-se mais fortes, aumentado os seus atributos, ou o número de unidades disponíveis por tropa. Neste modo, existem diferentes unidades com diferentes forças e capacidades e cabe-nos não só manter a saúde das nossas tropas, como treiná-las e comandá-las em combate. O sistema não é extremamente complexo, mas a apresentação audiovisual é dotada de um tom cómico que torna todo o processo bastante divertido e há variáveis suficientes para nos manter presos ao sistema por largas horas.
Na minha opinião, as mecânicas poderiam ter sido introduzidas de uma maneira mais célere. Durante os três cenários há uma introdução às mecânicas cruciais dos mesmos, seguida de contextualização histórica e motivação para estes. Os primeiros turnos são bastante interessantes e cativam e orientam o jogador na direcção necessária com humor e uma escrita leve e simples, se bem que nem sempre gramaticalmente correcta. No entanto, após a passagem de algum tempo, as acções realizadas nos turnos começam a perder a variedade e o tempo entre diferentes upgrades ou novas possibilidades é um pouco longo, o que pode causar uma sensação de monotonia para os jogadores menos pacientes. Existem eventos periódicos e aleatórios que introduzem alguma variedade aos três cenários, mas não posso evitar sentir que poderiam ser um pouco mais curtos, ou largar a mão do jogador um pouco mais cedo.
No entanto, a verdadeira diversão começa quando acabamos os três cenários, pois no modo livre temos acesso a novas unidades militares e tecnologias, assim como um número bem maior de eventos aleatórios que introduzem novos desafios e recompensas.
Em geral, o jogo é extremamente competente no que toca ao seu objectivo, uma experiência mais casual e drop-in-drop-out de estratégia, sem falta de profundidade.
Não há bela sem senão
Gostaria que tivesse havido uma aposta maior na escrita dos segmentos de história, pois há um humor muito próprio que fica por explorar e se perde numa escrita por vezes amadora. Além disso, uma maior variedade de peças musicais ajudaria a combater a monotonia dos turnos, introduzindo diferentes partes do cenário e “refrescando” o jogador.
O sistema de Religião também poderia oferecer um pouco mais de liberdade ao jogador, permitindo-lhe mudar de religião e sofrer alguma consequência por isso. O facto de estarmos limitados a uma única religião oferece um desafio interessante, mas por vezes vemos a nossa relação religiosa a deteriorar a olhos vistos porque fomos invadidos por um companheiro de fé, sem haver grande coisa a fazer para o evitar.
Dentro do sistema de Diplomacia, a criação de uma aliança militar com outros impérios tem pouco efeito na jogabilidade. Quando declaramos guerra a algum império, os nossos aliados também o fazem, mas, como apenas se pode invadir cidades vizinhas, a sua localização geográfica impede-os de contribuir para o combate. Sendo assim, as vantagens de uma aliança militar limitam-se à oferta de recursos, ou unidades militares especiais, a cada ano que a aliança militar se mantém.
Concluindo, se são fãs de jogos de estratégia, mas não procuram uma experiência hardcore dentro do género, Plebby Quest:The Crusades é uma aposta sólida durante umas 20 horas, ou mais, se quiserem completar os achievements referentes ao modo free play. É um jogo divertido, com um estilo muito próprio, que, embora tenha as suas falhas, vem preencher um nicho que eu não sabia precisar de ser preenchido. Podem encontrá-lo na Steam por 16,79€.