Vou-vos contar um segredo: no final dos 1990s eu fui um skater. Com as minhas botas de paraquedista pretas, as minhas calças pretas justas, as minhas t-shirts também elas pretas e justas (era bem mais magro na altura), e os meus casacos pretos compridos de pele, que acompanhavam uns medalhões em forma de pentagrama ao pescoço. Eu sei que estariam à espera, depois de uma revelação destas, que referisse uns calções largos, uns Vans e um boné a condizer. Mas só porque me esqueci de referir que fui um skater na PlayStation, como muitos de vocês também o foram. Provavelmente pela mesma razão que eu: a minha falta de destreza em cima de um skate seria um contributo quase imediato para magoar a sério. 

Tony Hawk’s Pro Skater 1 tomou o mundo de assalto em 1999. O impacto e o sucesso foram tão grandes que eu acredito que bastou esse facto para aumentar o interesse global sobre a modalidade, mas sobretudo para percebermos, tantos anos depois, que muita gente ainda coloca os dois primeiros jogos da série como títulos obrigatórios da sua geração e da primeira PlayStation. 

Não era para menos: havia qualquer coisa na forma como a sua abordagem arcade de tentarmos pontuar ao máximo a fazer movimentos e combinações com o nosso skate que o tornavam imediatamente apelativo a qualquer pessoa. Mesmo para quem, como eu, nem sequer gostava de skate na vida real.

Ver precisamente esses dois títulos a serem refeitos para as gerações actuais no formato de Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 é uma forma inequívoca de revitalizar a marca, depois do valente tombo que sofreu com a quinta iteração. 

Uma prova da imortalidade e solidez do seu game design foi ver o meu filho mais velho a pegar no jogo pela primeira vez. Não lhe expliquei nada, nem lhe dei indicações: deixei que fosse o jogo a fazê-lo. E enquanto eu me debatia com uma tremenda carga de déja vu ao revisitar o armazém inicial onde aprendemos a controlar o nosso skate, o meu filho lá se ia divertido com aquilo que Pro Skater tem para dar, vinte anos depois de surgir.

Estando nós na terceira década do novo milénio, é normal que a forma de usufruir de um jogo seja ligeiramente diferente de quando estes jogos foram originalmente lançados. O foco dos modos online prendem-se em competir com outros jogadores reais numa série de desafios, avaliando a mestria do skate de cada um. Estes modos estendem, e muito, um jogo que só com os seus modos offline já garante conteúdo para muito, muito tempo.

Em termos de jogabilidade, tudo o que nos lembramos, está de regresso, com afinações. Não sei se é impressão minha de não jogar o original há muitos anos, mas o ímpeto parece mais lento. Os restantes movimentos e truques regressam em toda a sua glória, e parece que foi apenas ontem que os fizemos pela primeira vez no nosso comando de PS.

O update visual faz-nos rapidamente esquecer o quão mal os jogos da geração de 32 bits parecem nos dias de hoje. Os níveis têm um estranho reconhecimento, entre os identificarmos de imediato, mas a vê-los pela primeira vez, em alta resolução, com partículas e texturas detalhadas.

Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 é uma viagem por um dos pedaços de História dos videojogos, para uma outra era, onde a noção de “Extreme!” dava azo a uma geração marcada pela MTV e que justificaria a ideia “radical” dos desportos extremos, e a abertura que tivemos para programas como Jackass!

Os tempos mudaram, bem sabemos, mas Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 é uma cápsula do tempo trazida para os dias de hoje, abrindo aquilo que é um dos grandes jogos de desporto de sempre a novas gerações. E quem sabe, seja este o início de uma nova fase na vida da série com o nome de um dos mais famosos skaters de sempre?