Quem nunca desejou ser holandês? O quê? Nem mesmo para ouvir música (que soa excelente quando adaptada ao devido estilo musical)? Que se faça pois a devida introdução…

Não? Nem sequer para lavar a vista? Bem, eu não sonhei em ser holandês, confesso… mas em ter uma amiga… até que já me passou pela cabeça.

…Por um momento… aquele pedaço de carvão negro, frio e morto que tenho no lugar do coração…  tremeu…

Certamente deve ter sido esta a inspiração que levou a que Kouyou , da japonesa Sounds Good, levasse em 2017 a criar o jogo Tulip Bubble baseado na especulação económica de 1637 em torno dos bolbos de tulipa importados do Extremo Oriente, pela Companhia das Índias Orientais. Passo a dar o contexto. No início século XVII a mera posse de túlipas era vista como um símbolo de estatuto social.

Aliado, à afirmação do poder económico da jovem república proclamada em 1581, a posse de tulipas, gerou-se na sociedade holandesa uma autêntica tulip mania que acabou por se tornar uma das primeiras bolhas de especulação económica de que se teve registo.. Com o design gráfico de Kotori Neiko, Tulip Bubble apresenta-se como uma versão bem maturada e de mecânica bem apurada num jogo de três a cinco jogadores. Tulip Bubble é muito simples e bem conseguido. Em definitivo, e na minha opinião, um dos títulos mais discretos de 2017 com tudo para ser um dos melhores desse ano.

Tulip Bubble é um set collection com leilão e bolsa de valores à mistura à mistura ou seja cada jogador vai ter acesso a um mercado de túlipas e à vez vai-se oferecer para comprar os ditos espécimes consoante a sua cotação vigente. Se acontecer haver mais que um jogador interessado no mesmo espécime, então é feito um leilão. Naturalmente quem oferecer mais ganha o bolbo pagando o preço apresentado. Os três tipos de túlipas estão dispostos por três cores diferentes. O tipo de planta vai valorizando em bolsa consoante a sua raridade e à medida que os turnos vão passando as cores das túlipas vão saindo/entrando na moda. O objectivo passa por no fim da partida ganhar mais dinheiro que os restantes jogadores. No entanto quem conseguir comprar a túlipa muito rara (de cor púrpura) disponível no mercado com o nome Queen of the Night também pode ganhar a partida não necessitando ser o mais rico.

Aspeto geral do tabuleiro…

… e claro, da ‘Rainha da Noite’…

A Mecânica

Bem como mencionei a mecânica é muito simples. Temos três fiadas de túlipas. A primeira corresponde às túlipas que ainda vão chegar; a segunda linha corresponde aquelas que estão à venda e a terceira linha correspondem às túlipas que nós já vendemos. Durante toda a partida vamos andar a comprar e a vender túlipas aos outros jogadores à boa maneira capitalista gerando o tão almejado lucro indispensável à vitória. Existem no entanto colecionadores de túlipas que dado os conjuntos que conseguirmos fazer estão dispostos a darem-nos um bónus sobre os valores de venda (estas cartas são pois retiradas de jogo).

E claro ninguém sabe quanto dinheiro tem o nosso adversário…

… alguns dos colecionadores (no fundo podem-se ver os pedidos de cada um)

Cada turno começa da seguinte maneira, retira-se uma carta de evento que determina se tal cor está a entrar na moda ou se por exemplo os preços caem obrigando a manipular os marcadores de bolsa para cada cor de túlipa. Seguidamente as túlipas que estavam na linha superior descem e ocupam a segunda linha estando disponíveis para serem compradas. Retiram-se novas túlipas para um novo carregamento a ser esperado em breve e passa-se o marcador de primeiro jogador.

‘Túlipas… túlipas por todo o lado…’ um excelente toque gráfico e uma excelente ideia foi ter representado as túlipas como se estivessem a ser visionadas num catálogo de botânica do século XVII.

Seguidamente, cada jogador à vez, vai vendendo as suas túlipas ao mercado ou entregando as ‘encomendas’ aos colecionadores. Apenas uma encomenda é permitida uma vez por turno e por jogador. Posteriormente cada jogador vai à vez: ou meter um marcador da sua cor em cada espécime (mesmo que já tenha sido vendido anteriormente por um outro jogador); ou irá manifestar interesse sobre um dos novos exemplares recém chegados. O interesse na mesma túlipa de outro jogador despoleta um sistema de leilão. A compra de uma túlipa, que não teve outros interessados, é feita mediante o preço indicado em bolsa. Cada tipo de túlipa e cada cor tem uma cotação específica, nunca se mantendo estável.

A túlipa que um jogador não quis ou teve que vender para ganhar dinheiro para novas aquisições torna-se facilmente alvo de disputa pela parte de outros jogadores

Por fim, descartam-se todas as cartas de túlipas que não foram compradas, tais como as que chegaram ao mercado neste turno. Depois volta tudo ao início… Resumindo vamos andar a comprar barato para vender caro, especulando nas flutuações do mercado tal como foi há cerca de 400 anos. Temos ainda a possibilidade de reservar uma qualquer túlipa no leilão pagando a verba tardiamente quando se conseguir amealhar. Para nivelar um pouco as coisas temos uma mecânica específica. O preço de leilão vencedor do mesmo entre diversos jogadores, é dividido em duas partes. Uma parte corresponde ao valor da cotação na bolsa. A outra composta por qualquer valor acima da cotação na altura, é dividida pelos jogadores que não conseguiram efectuar a compra.

Tulip Bubble é simples, rápido de aprender, muito competitivo e estratégico. O tema está bastante bem adaptado a uma mecânica que em certa medida lembra a realidade dum mercado bolsista especulativo. O facto de se poderem reservar túlipas tenta reflectir um pouco o clima de insanidade e especulação económica que levou a uma das primeiras bolhas econónicas de que se teve memória (aliás o termo bolha veio da companhia South Sea Bubble, que gerou no século XVIII, outro colapso económico mas no Reino Unido.  – As coisas que vocês aprendem aqui estão a ver?!).

Graficamente gostei do aspecto minimalista mas bem cuidado do tabuleiro. As cartas têm um tamanho bom e o desenho no geral adapta-se bastante bem à temática. Definitivamente, para mim, é um jogo aconselhável para jogadores recentes por ter mecânicas simples e promover a interação entre os mesmos. Aproveito para agradecer ao Paulo Vicente esta pequena pérola que deu gosto em jogar. Kudos.

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