Os anos 1990 foram uma época em que muito do conteúdo cultural era extremo. Tudo era radical, edgy, usavam-se muitas bolsas na BD sem razão aparente. Outra coisa que aconteceu nos anos 90 foi um boom dos JRPGs. Orangeblood, portado agora para Nintendo Switch combina todos esses ingredientes, JRPG e aquela irreverência da última década do século XX.

 

 

Infelizmente estes extremos dos anos 1990 parecem um bocado ridículos hoje em dia. Não é porque somos todos floquinhos de neve e ultra sensíveis, mas há coisas que parecem desnecessárias. Exemplo prático é que aos 20 minutos de jogo já tinha lido mais asneiras que no Reservoir Dogs ou Pulp Fiction. Provavelmente. Não as contei, mas percebem o que quero dizer. Orangeblood começa logo com o pé atrás por causa disto, na minha perspectiva. Fico logo com aquela impressão que tal como muitos autores, artistas que fazem algumas coisas edgy só por ser edgy. Se fosse só a linguagem eu até conseguia aguentar apesar de em algumas situações achar um bocado demais contudo o não resto do jogo não é capaz de suportar essa parte má. Não é suficiente para esconder, ou disfarçar o extremo exagerado. Os argumentos e a história é má. Desenvolvimento de enredo e personagens é quase nulo, os combates e a acção são na melhor hipótese banais. Que é pena.

Orangeblood tem um estilo de arte altamente pormenorizado e muito bonito. Todo o estilo da cidade de New Koza, a maneira como combina os estilos clássicos e modernos que criam o ambiente dos anos 1990 numa linha temporal paralela em que vários países coabitam numa ilha artificial que é invulgar e estranha mas ao mesmo tempo nota-se um crescimento natural e familiar. Estamos ali num mundo alternativo que parece ter tanto para nos dar, tanto conteúdo ali escondido mas não é aproveitado. A sensação que tive ao jogar Orangeblood foi como a Bela no filme da Disney quando o Monstro lhe dá acesso à biblioteca. Só que quase sempre que ela tirava um livro da prateleira ele ou tinha as páginas em branco ou eram poemas ordinários.

Há uma linha no péssimo filme League of Extraordinary Gentlemen em que Allan Quatermain, protagonizado por Sean Connery, diz ao Tom Sawyer algo como: É mesmo à americana, disparas tiros suficientes e acabas por acertar em alguma coisa. Mas um atirador a sério consegue acertar no alvo com um só. Orangeblood dá-me essa sensação, uma rajada de metralhadora que acerta umas balas nos locais certos, mas com precisão podia ter sido muito mais. Lá diz o ditado, um relógio parado está certo duas vezes por dia…