Super Mario já recebeu incontáveis aventuras e tem diferentes séries spin-off que abordam diferentes temas ou direções de arte. A série Paper Mario, como o nome indica, é tudo sobre explorar o mundo do famoso canalizador da Nintendo em papel, em aventuras mais abertas, próximas do formato RPG, reunindo as principais figuras do seu universo.
O primeiro capítulo da série estreou-se exatamente há 20 anos na Nintendo 64, e foi apresentado como uma sequela espiritual do Super Mario RPG, lançado em 1996 na Super NES. Mas a sua direção artística singular, baseada em elementos de papel, combates por turnos originaram uma série única, assente em histórias um pouco mais complexas.
O título mais marcante, e tomado como referência na série, foi Paper Mario: The Thousand-Year Door da GameCube de 2004 e os títulos seguintes foram sendo inspirados por diversas técnicas de tratamento de papel, com Sticker Star da 3DS baseado em autocolantes, ou o Color Splash com as pinturas e tintas como tema principal.
Nesta lógica, o mais recente capítulo lançado na Switch, The Origami King é tudo sobre… origamis! O mundo apresentado, incluindo personagens, são construções típicas nesta arte milenar de dobrar papel, formando as mais ricas e complexas figuras.
O jogo, que mantém o estúdio Intelligent Systems no leme da produção apresenta um design único, e muito curioso, ao fundir elementos 2D num espaço tridimensional. É muito estranho ver Mario, numa figura 2D feito em papel, a interagir com elementos de origami que pela sua própria natureza são construções 3D. Mas a fusão resulta numa aventura colorida, ainda que nem sempre divertida, mas repleta de momentos caricatos.
Na verdade, este jogo da Intelligent Systems deixou-me um misto de ideias. Por um lado, a arte agradável e colorida, rapidamente identificada pelos mais novos. Por outro, apresenta um ritmo tão lento, perdendo-se em incontáveis diálogos de texto que deixam qualquer jogador irrequieto. É uma aventura fortemente assente na narrativa, mas muitas vezes sentimos que o estúdio tenta introduzir piadas à força, e nem sempre são engraçadas.
A história segue Mario e amigos numa jornada para impedir os planos maléficos de Olly, o rei dos origamis em manter o Mushroom Kingdom transformado em origami e claro, Peach é mais uma vez a vítima. Todos os habitantes foram igualmente transformados em origamis e não têm sentimentos. Para os salvar, Mario terá de libertar o castelo envolvido em cinco fitas, cujas pontas estão espalhadas pelo reino. Como seria de esperar, são cinco regiões para explorar, eliminar o perigo e libertar a respectiva fita. Cada local tem um ambiente distinto, entre a floresta, o deserto ou a água por exemplo, com diversos momentos hilariantes, pequenas mecânicas de gameplay e puzzles para resolver.
O sistema de combates mantém a sua essência por turnos, mas desta vez tem uma mecânica diferente, assente em duas fases contra os inimigos normais: a primeira obriga a alinhar os inimigos da melhor forma possível, numa quadrícula em plano circular. O objetivo é executar ataques eficazes, e sempre que possível, eliminar os inimigos sem passar a vez aos mesmos, para não sofrerem dano. Por exemplo, alinhar quatro inimigos para ataques aos saltos, ou em quadrado para o uso do martelo.
A segunda fase é o ataque em si, que tal como os jogos anteriores, requer a pressão da ação no timing correto para fazer mais dano. Já No turno dos inimigos, poderão atenuar o dano quando se prime o botão igualmente no timing para defender.
E é apenas isto, a primeira parte é confusa e estressante, porque têm poucos segundos para alinhar os inimigos. Muitas vezes baralham-se de tal forma que o combate começa cada inimigo para cada lado. E estes dão muito dano, podendo perder facilmente o combate. Podem fazer batota e comprar tempo adicional ou receber dicas dos Toads que estão a assistir, mas ainda assim…
Fiz dezenas e dezenas de combates, e nunca tinha visto um sistema que fosse tão repetitivo quanto este The Origami King. Terão de equipar sapatos e martelos mais poderosos para causar dano, assim como algumas habilidades especiais, mas a experiência é basicamente esta. Dei por mim a tentar fugir sempre que possível para evitar combates, pois tirando moedas e confetes, usados para tapar buracos no cenário, nada há a ganhar com os combates aleatórios.
Já os bosses apresentam uma mecânica bem diferente. Estes têm pontos fracos ou resistências a ataques, e remete Mario para um gigantesco puzzle em que devem rodar os círculos de forma a conduzir o protagonista pelo “labirinto”, recolhendo power ups, mas aterrando no ícone de ataque para desferir o golpe. Estes encontros são verdadeiramente épicos, cada um a introduzir as suas próprias regras no tabuleiro. No entanto, uma vez encontrada a solução do puzzle e os pontos fracos, deixam de ser um verdadeiro desafio.
A arte do jogo merece ser destacada como um dos pontos mais positivos da aventura. As pequenas animações das personagens acabam por ser fofas, como autênticos cromos, com expressões lindas, sobretudo por se amassarem, como os Toad, que é necessário salvar. E todos os cenários parecem ter sido recortados e montados à mão, ainda que por vezes a inspiração em Tearaway da Media Molecule salte à vista.
O jogo apresenta-se como um mundo aberto, ligando todas as regiões como um HUB. Há canos de atalhos e diferentes formas de aceder a cada região, mas nem sempre o jogo faz um bom trabalho em nos conduzir, sobretudo quando temos de regressar a pontos anteriores. A cidade principal, onde estão as lojas de itens, permite aceder mais facilmente às diferentes regiões.
A aventura torna-se ainda mais longa se optarem por explorar e completar todos os desafios da região, nomeadamente encontrar todos os Toads, que acreditem, estão escondidos em tudo o que é buraco; remendar todos os buracos do reino, através de confetes que Mario espalha; procurar as estatuetas e todos os cubos de interrogação, sendo alguns deles invisíveis. Boa sorte. Ao longo da aventura têm muitos puzzles para resolver, e claro, os combates que são um tédio…
De um modo geral, este é um jogo que divide opiniões. Por um lado queremos gostar deste capítulo, porque tecnicamente e graficamente está muito bom. Mas depois o seu ritmo lento e o sistema de combates não é divertido.