Venderam-me Medieval Dynasty como uma espécie de Animal Crossing. Mas não foram os criadores, a editora ou mesmo a agência de PR. Foi o João Machado, meu irmão mais velho, compadre, enorme amigo e co-editor. E eu, fui nas esparrela. Mas não me arrependo. E até aceito a comparação dele para explicar porque é que gosto de Medieval Dynasty e porque é que ele é Animal Crossing menos nos sítios todos onde não é.

Animal Crossing é aquele jogo relaxante que marcou o confinamento para mim e outros tantos milhões de pessoas pelo mundo. Medieval Dynasty tem uma aura de aparente relaxamento, menos quando percebemos que temos de procurar água, comer e caçar, e essas coisas não são apenas fait-divers como no jogo da Nintendo.

É impossível não comparar Medieval Dynasty com Elders Scrolls, coisa que ninguém consegue dizer de Animal Crossing a menos que esteja a fumar algo. Apesar de no seu âmago este Medieval Dynasty ser um survival game com raízes em tantos outros do género, a melhor comparação que posso fazer é o de senti-lo como um Oblivion com permadeath. E onde despimos a nossa couraça de guerreiro e nos assumimos como apenas um NPC numa aldeia por onde os verdadeiros protagonistas passam.

Quando chegamos à ilha de Animal Crossing temos uma mão invisível e um narrador que nos explicam tudo, muitas vezes de forma demasiado intrusiva, do que temos para fazer. Medieval Dynasty não. Diz-nos que temos de construir uma casa mas não nos diz onde andam os materiais, ou como os apanhar. É mais ou menos como diz a máxima popular: não ensines o Homem a pescar. E fica-se por aí.

No jogo da Nintendo construímos a nossa casa e os restantes aldeões vão-se juntando, e vivem a fazer não sei o quê, provavelmente do ar. Em Medieval Dynasty, depois de termos construído a nossa casa e começarmos a nossa povoação, vamos começar a convidar outros aldeões para se juntarem a nós, e podemos atribuir-lhes trabalho nos campos, ou na caça. Isto de viver em comuna é bonito, mas cada um tem que contribuir para o todo.

A ideia de dinastia não está aqui por acaso, e se em AC passa por deixarmos a nossa marca e fazermos amigos, em Medieval Dynasty envolve encontrar uma parceira e tentar produzir prol. Esta forma fria de falar da coisa tem uma explicação simples: nem o facto de termos filhos nos permite escapar à permadeath.

Falando em permadeath, essa miragem no ambiente paradisíaco de Animal Crossing. E ainda bem. Não me consigo imaginar a perder as 350 horas da minha ilha da forma como perdi a minha progressão em Medieval Dynasty. Aliás, por culpa do João acabei por estar descontraído na minha playthrough a correr atrás de javalis, até que um deles me matou. Acreditei piamente que iria acordar inanimado na minha capa até que o ecrã de New Game apareceu como uma visita cruel. E lá se foram 5 horas de jogo para o galheiro.

Com tantas comparações com Animal Crossing, é mais do que óbvio que as semelhanças são menos do que as diferenças. O jogo vende-se como um life simulator mas é muito mais um survival game do que outra coisa qualquer. Mas é a aparente pacatez do quotidiano medieval que o jogo representa que o distancia de tantos outros jogos, e o transformou num dos primeiros jogos do género que me fizeram sentir investido verdadeiramente. 

Ainda em Early Access, Medieval Dynasty é sem sombra de dúvida um dos mais interessantes jogos do género, e consegue equilibrar todo o espírito de sobrevivência, de gestão de uma comunidade, e ao mesmo tempo manter uma interessante aura de Elder Scrolls sobre si.