Leiam com muita atenção, pois este artigo vai-se auto-destruir dentro de cinco minutos. Ou 59, que foi o tempo que demorei a completar Agent Klutz, o primeiro jogo publicado dos portugueses da Not a Game Studio.

Aviso-vos já que é difícil definir por palavras que jogo Agent Klutz é. A minha melhor tentativa é que se trata de um pixel art-side scroller-shooter-metroidvania-click-rítmico. Pois eu sei, how klutzy of me. Ha! Ao longo de oito níveis vestimos a pele (na verdade um macacão preto) de Klutz, enquanto este tenta desmembrar uma organização criminosa que tem bastantes bombas. Que em princípio devem servir para rebentar coisas.

Matar os maus, furtivamente.

Numa escala de James Bond (nada idiota) a Austin Powers (totalmente idiota), a melhor etiqueta de agente secreto para Agent Klutz está ali algures em Olho Vivo (Get Smart, no original). O humor sitcómico de Don Adams da série do final dos anos 60 foi o que mais me veio à cabeça enquanto tentava evitar (ou promover?) uma crise global.

Tenho de dizer que, apesar de curta, Agent Klutz é uma experiência deliciosa. Para nos movermos através da mansão/comboio/aquário/discoteca em que nos encontramos, temos de clicar na direcção para onde queremos ir ao ritmo de uma estimulante música de espiões (a partir dos 26 segundos do vídeo abaixo). Se falharmos o compasso, Klutz tropeça. Não é complicado e demora cerca de 60 segundos até uma pessoa se habituar, mas até para os mais descoordenados há um realce visual no ecrã para ajudar a identificar o timing certo.

Esta mecânica fez com que estivesse o tempo todo a jogar e a abanar o capacete (como se fazia nos tempos áureos dos filmes de espiões), tentando seguir uma sinfonia em que navego por vários níveis pixel art de uma assentada, escondendo-me atrás de pessoas, plantas ou outros objectos para poder furtivamente disparar sobre os bandidos. O jogo até me apanhou desprevenido nas mini sequências de disparo em que fazia pontaria aos maus, pois aí quebra-se a cadência musical do clique mas senti-me tentado a continuá-la. E morri.

À medida que avançava pelo enredo, sound motifs ilustravam a minha passagem por um checkpoint ou objecto furtado. Sim, porque Klutz além de agente secreto sem jeitinho nenhum, também é cleptomaníaco. Entre missões vemos o personagem, abreviado por K (introduzir referência a Men In Black) trocar mensagens com Q (o registo sobe ligeiramente para níveis bondianos) e inocentemente ignorar todas as indicações, enquanto se tenta desfazer de capangas cada vez mais armados (com escudos antimotim e metralhadoras e cães e gatos).

Podia ser um daqueles grupos de Whatsapp em que a malta mete cenas para rir.

Tenho pouco de mau para dizer sobre Agent Klutz. Demorar uma hora a completar não é defeito – deixou-me aliás a salivar por melhorar a minha pontuação (o máximo de dinheiro em objectos furtados no mínimo de tempo possível) em cada nível que posso repetir isoladamente. Nesta era dos jogos de 50 ou mais horas, os 3,99 euros de Agent Klutz não são mais do que pagaria para uma hora num qualquer Sky Bar se não estivéssemos em 2020. Porque a acção furtiva ao som da faixa que, enquanto escrevo estas linhas ainda estou a cantarolar na minha cabeça, é tão divertida e estimulante, gostava de ter jogado ao som de músicas diferentes (dentro do mesmo espírito de espionagem) em cada nível – só eram precisas mais sete.

Desculpe lá qualquer coisinha, chefe.

Nota: a Not a Game Studio foi fundada pelo nosso ex-camarada de galinheiro Isaque Sanches, que gentilmente cedeu uma cópia para review através do sistema de Steam Curator. Como sou apenas um viçoso frango e nunca coincidi ou privei com este veterano galináceo, não há questões de idoneidade. Não que alguém quisesse saber, mas assim tive uma desculpa para escrever idoneidade. Tomem lá outra vez: idoneidade.