Estamos perante um ano atípico no futebol e no desporto em geral, com as medidas impostas a ditar o afastamento do público dos estádios. E num ano que seria essencial e uma oportunidade de colmatar essa fome de futebol pelos adeptos, no campo virtual, tanto a Konami como a Electronic Arts parecem ter ficado igualmente afetadas com esta conjuntura. 

A editora nipónica assumiu desde o início que não teria condições de entregar uma nova edição de PES este ano, preferindo-se ficar com uma atualização de conteúdos sobre o jogo do ano passado. E a Electronic Arts, embora tenha mantido o seu calendário de lançamentos, preferiu lançar uma edição minimalista no que diz respeito a novidades.

Ambas as rivais já estão a trabalhar na nova geração de consolas, mas enquanto a Konami prometeu lançar o próximo jogo next gen para o ano, a EA garante que a versão de FIFA 21 para a PS5 e Xbox Series X será uma nova experiência. 

Mas não se confunda poucas novidades com falta de qualidade. Quem jogou a edição do ano passado vai ter um enorme déjà-vu, mas para jogadores novos, ou que não compram um FIFA há algumas épocas, este continua a ser a melhor experiência de futebol do mercado. Os diversos modos de jogo, o Volta, o Ultimate Team e outros tantos modos de jogos oficiais como a Liga dos Campeões e a Taça dos Libertadores combinam o conteúdo que necessitam para todo o ano. 

E deixando de lado a polémica de investir dinheiro em saquetas com cromos de futebol, para acelerar o processo de construção de uma dream team, considero divertido usar a equipa do meu bairro para as partidas iniciais até ser viável investir em novas aquisições. Sim, FIFA consegue ser divertido se não tiverem pressa em construir um plantel competitivo para disputar eventos online. Tudo depende como encaram essa mesma diversão. 

Mas como disse, praticamente nada de novo.

Será necessário vasculhar a jogabilidade para perceber as nuances e mudanças, grande parte observáveis por quem joga durante todo o ano. E apurei junto a alguns profissionais de FIFA que as diversas mecânicas são positivas, e por isso não há que contrariar. Uma delas prende-se à maior dificuldade em defender, que já era difícil de dominar anteriormente. É preciso acompanhar os atacantes, meter o pé só mesmo na certeza, para não ficar para trás. Isso deve-se ao facto dos nossos defesas serem menos eficazes a cobrir os espaços, sendo apanhados com mais facilidade no contra-ataque. 

Diria que é melhor estar mais atento, e se possível impedir, as linhas de passe e desmarcação, do que cair em cima do adversário. A defesa é um processo moroso de aprendizagem, com muita frustração, mas com o tempo aprendem a posicionar os jogadores e a sofrerem menos golos, até começarem a surgir as primeiras vitórias. A mecânica de team press ganha ainda mais destaque nesta versão.  

Por outro lado, há maior precisão nos remates e colocação de bola. E mais importante, a EA Sports focou-se a melhorar os remates de cabeça, oferecendo mais oportunidades destes tentos, e dessa forma investir mais em centros, num futebol mais diversificado e bonito. Fazer jogadas de flancos e centros certeiros para área parecem resultar em melhores golos, pelo menos na minha perspetiva. E como o futebol é bonito com golos, ao menos podemos elogiar esta versão por ser mais dinâmica e bonita, e também mais rápido e fluido, na hora de colocar o esférico no fundo das redes. 

E tudo isto porque a inteligência artificial dos companheiros de equipa está melhorada, levando estes a desmarcar-se de forma mais eficaz e responsiva. Dei por mim muitas vezes a tentarem fugir da zona de fora de jogo quando avançam em demasiado.  

Outro aspeto interessante é poderem ativar, sempre que quiserem durante a partilha o controlo individual de um jogador. Premindo os dois analógicos dão indicação ao companheiro que recebe a bola, e que passa a ser gerido pela inteligência artificial, que vamos fazer uma desmarcação. Ele vai reter a bola até a pedirem novamente. É um sistema útil e fácil de utilizar, se é que querem usar, mas que vai precisar de alguma prática para resultar em grandes jogadas. Porque se demorarem muito sujeitam-se ao companheiro perder a bola, claro. 

E é por isso que não devemos olhar para este FIFA com apenas um olhar de desdém. É preciso investir algumas horas nas partidas para encontrar as subtilezas que fazem a jogabilidade ser melhor. Mesmo que para muitos isso não justifique ter que comprar um jogo novo, e se calhar não justifica mesmo.  

E para aqueles que gostam de explorar as habilidades individuais das grandes estrelas, é possível encaixar movimentos seguidos, pelo que um habilidoso consegue trocar-nos os olhos num ápice. E a culpa da frustração não é do jogo, é nossa que saltamos para o online sem aprender primeiro o básico desta versão, assumindo claro que é a mesma do passado. E depois claro, somos atropelados por jogadores que já têm dezenas de horas, ou que investiram dinheiro real a comprar jogadores. 

A minha queixa diz mesmo respeito ao emparelhamento que deveria ser mais inteligente a detectar quem é novo no jogo e agrupar com mais eficácia jogadores com qualidades semelhantes. 

Mas se há um elogio a fazer à EA Sports é a continuação do trabalho que tem feito com os jogadores. Não só ao nível da captura e respetivas animações, que anualmente são melhoradas. Mas por cada vez mais trazer as individualidades de cada um para o jogo. Saber que ao comprarmos um João Félix ele é bom, porque na vida real assim o é. E mesmo que não conheçamos algum jogador que nos calha, é muito mais fácil identificá-lo no campo e manter um olho sobre o mesmo, tal como um treinador, para saber se ficamos ou não com o mesmo. E isto sem andar a perder muito tempo a olhar para as estatísticas de comparação de atributos.

FIFA 21 apresenta praticamente os mesmos modos de jogo da época anterior. O modo Volta tem uma nova história, mas é basicamente o mesmo, viajar pelo mundo e competir contra os melhores futebolistas de rua, com muito truque à mistura. É obviamente divertido, até porque agora é possível formar uma equipa de 5 jogadores controlada por amigos, contra os 5 jogadores humanos. 

O modo FIFA Ultimate Team tem algumas novas nuances, com a introdução também de um formato cooperativo, que infelizmente não consegui explorar por não ter um companheiro fixo para jogar. Há novidades no que diz respeito à personalização dos estádios, para quem gosta de aspetos cosméticos, utilizando cartas para isso que vão desbloqueando, incluindo cores de bancadas, hinos das equipas, festejos e outros elementos.  

Este FIFA 21 pode não justificar aos jogadores que têm a versão do ano passado. Não existem revoluções, mas sim afinações. E é um exemplo de que a falta de competição forte impede os estúdios de se esforçarem em melhorar a experiência. Voltarei ao jogo na próxima geração, para ver o salto que isso corresponde. Obviamente que se não compram um FIFA há alguns anos, este consegue ser a melhor versão. Mas acredito que não seja um jogo para todos os fãs.