Conhecido anteriormente como Gods and Monsters, Immortals Fenyx Rising é o terceiro jogo baseado em mundo aberto lançado pela Ubisoft em apenas um mês, a par de Assassin’s Creed Valhalla e Watch Dogs Legion. É o queimar de todos os cartuchos nesta época natalícia, cada título com dezenas de horas de duração, com a Ubisoft “desesperada” pela nossa atenção. 

Immortals Fenyx Rising tem vindo a ser descrito como um cruzamento entre The Legend of Zelda: Breath of the Wild com Assassin’s Creed Odyssey, e as comparações têm de facto razão de existir, pois o primeiro contacto com o jogo revela uma direção artística com um aspeto cartoon, com algum cel shading à mistura. E obviamente que o jogo tem lugar na Grécia antiga, com direito a toda a sua mitologia como o capítulo anterior da saga dos assassinos. 

Mas as comparações vão mais longe, bebendo muitas das mecânicas de ambos os jogos. À primeira vista parece que estamos perante um Assassin’s Creed para um público mais jovem, e de facto é. A história dá-nos um vislumbre dos deuses gregos, inserindo o jogador numa narrativa que está a ser contada por Zeus e Prometheus, alterando os factos quando bem lhes interessa. E esta não pretende ser levada muito a sério, apresentando humor e um tom ligeiro e bem-disposto. 

A história começa com o monstro Typhon a ser libertado do seu cativeiro, depois de ter sido aprisionado por Zeus e outros deuses gregos em Tártaros. O vilão consegue escapar e procura vingança, aprisionando os quatro deuses que o baniram. O jogador controla Fenyx, um soldado humano e sem poderes que é a única esperança da ilha em salvar os deuses, até porque todos os habitantes foram transformados em estátuas de pedra, excepto Fenyx. Podem caracterizar o protagonista, incluindo optar por uma personagem masculina ou feminina. Pessoalmente mantive o design da protagonista de todos os trailers. 

As animações das personagens e o seu design lembra de facto um filme animado, são coloridas e repletas de charme. Só não entendo a decisão das personagens terem todas um sotaque que pessoalmente me irritou, tal como se fossem feitos por pessoas dos países do leste a tentar falar inglês, carregando nos Rs. Talvez fosse um sotaque grego, mas acredito que seria bem melhor com bons atores a debitar textos normais. 

Fenyx Rising é um jogo de ação, com um sistema de combate simples e acessível. Não se pode dizer que o combate seja muito desafiante no geral, mas tem os seus momentos mais intensos, sobretudo no início da aventura quando não temos armas ou habilidades poderosas, e contra algumas criaturas maiores, assim como bosses. 

E os combates até são semelhantes ao mais recente Valhalla, claramente numa conjugação de recursos entre os estúdios. Neste caso, nunca é gasta stamina nos golpes, sejam os mais rápidos, usando uma espada ou os mais poderosos com o machado. Apenas gasta energia a utilizar as habilidades especiais. E até é possível esquivar, despoletando um eficaz bullet time, que permite contra-atacar rapidamente. A ideia é quebrar a defesa dos inimigos, enchendo uma barra azul, para depois atacar com a espada mais rapidamente quando estes ficam atordoados.  

Ao longo da aventura a personagem pode recolher maçãs e outros frutos, que podem ser consumidos rapidamente, ou combinados para fazer poções de energia, de stamina ou de força temporária. Há ainda cristais largados pelos inimigos que são usados para melhorar as armas, assim como ambrósias que permitem aumentar as barras de saúde, ou raios de Zeus para a stamina. Tudo é realizado no Hall of Gods, que serve como Hub central onde se concentram os deuses que são salvos, por exemplo, fazer as melhorias e ter acesso a quests e missões diárias que vão sendo atualizadas num quadro. E os deuses também contribuem com o crescimento da personagem, oferecendo-lhes passivas em forma de benções.  

É assim um sistema de progresso simples, com a personagem a ficar mais forte quando se melhora as armas, se desbloqueia habilidades especiais ao completar as quests, incluindo o uso de asas para planar, a capacidade de disparar flechas teleguiadas com o arco ou fazer ataques com uma fénix flamejante que salvamos na aventura. Há diferentes capacetes, armaduras, arcos e armas, mas a capacidade de ataque é igual para todas, porque o que se melhora são as respetivas slots. A diferença é que cada item tem uma habilidade passiva única, seja a dar mais dano em ataques aéreos ou quando tem energia repleta, entre outros. 

O objetivo de Fenyx é salvar os quatro deuses aprisionados e corrompidos por Typhon, cada um nos diversos pontos da ilha onde se passa a ação. O mapa não é muito grande, quando comparado com outros jogos de mundo aberto, mas é intrincado, repleto de relevos, montanhas e locais onde não se consegue chegar inicialmente, ainda que não esteja mecanicamente bloqueado. 

E é aqui que entram as mecânicas de Breath of the Wild. A barra de stamina controla todas as ações da personagem desde o simples duplo salto, à capacidade de Fenyx escalar montanhas, nadar ou planar com as suas asas mágicas. E por isso, o jogo impede-nos de trepar para os objetivos como o Assassin’s Creed, retardando dessa forma o acesso a alguns pontos do mapa. Mas caso queiram, podem escolher qual dos deuses salvar primeiro, tal como Link poderia escolher qual boss enfrentar primeiro no seu último jogo. 

Este mundo não está propriamente repleto de personagens, e em algumas partes senti-o um pouco vazio, com apenas alguns inimigos e animais para enfrentar. Assim como ciclopes, abutres e outras criaturas mitológicas. E achei que há uma grande repetição de inimigos para enfrentar.  

Mas apesar da ação, a maior parte da aventura vão passar a resolver puzzles, atrás de puzzles. Em primeiro lugar as Shrines de Breath of the Wild foram aqui replicadas, com dungeons que têm de visitar e resolver os seus puzzles. Na verdade estes baseiam-se em percorrer um local até chegar ao final, ativando alavancas, utilizando esferas ou cubos para ativar botões, assim como descobrir como progredir com diferentes mecânicas. Acreditem que são consumidoras de tempo e começam a tornar-se bem repetidas, mas são essenciais para descobrirem armas ou aumentar as barras de energia e stamina da personagem. Depois há puzzles de completar mosaicos (em que uma peça pode estar presa sendo necessário resolver outro puzzle) ou encontrar harpas e replicar as suas melodias na sua versão gigante. 

Depois as quests narrativas também funcionam como puzzles sucessivos, entre encontrar três maçãs para uma deusa ou três rochas para outro, e cada uma tem um puzzle para resolver, e muitas vezes sub-puzzles, naquilo que parece mesmo uma matrioska de puzzles. E a informação é sempre muito minimalista, obrigando o jogador a puxar realmente pela cabeça, seja para conseguir abrir uma arca ou resolver uma dungeon

E são os puzzles e as limitações físicas que impedem o jogo a desenvolver-se mais rápido ou pelo menos de forma mais fluída. Os jogadores que gostam de completar tudo vão encontrar um desafio interessante.

Immortals Fenyx Rising é realmente um jogo de ação divertido, ainda que tenha um tom mais ligeiro e juvenil. Não fossem as vozes com sotaques idiotas e estaríamos perante um autêntico filme animado. A ação é simples e acessível, mas os puzzles não são tão excitantes e consomem-nos muito tempo. Mas o que fica é o seu grafismo colorido, numa representação da Grécia antiga onde não faltam monumentos e destroços, montanhas e estátuas de deuses, espalhados por todo o lado.