Se posso tirar algo positivo deste ano foi o reacender da minha paixão por RPG de mesa. De tal modo que eu estou a criar uma campanha e tenho um pequeno grupo que estou a levar numa aventura. Pela primeira vez, depois de anos a jogar e muitos anos sem o fazer decidi sentar-me por trás do painel de Game Master. Se vou ser um bom Game Master, os meus jogadores o dirão no futuro, mas para já está a ser uma boa experiência, mesmo que joguemos à distância usando as dicas do nosso Daniel para como jogar em confinamento. Só que esse não é o ponto chave deste artigo, está apenas relacionado com ele.

Eu oiço 3 podcasts além do Split-Chicken, sendo o das nossas galinhas o único em Português. Um dos outros é muito semelhante mas feito por australianos que no final de cada episódio também fazem as suas sugestões aos ouvintes e numa das últimas semanas um deles recomendou uma série BD escrita por Kieron Gillen. O nome do autor fez-me levantar a cabeça  já que ele escreveu algumas das minhas BDs favoritas de Marvel Darth Vader nos últimos anos, além das séries da Image Comics como The Wicked + The Divine ou Once and Future. Enquanto The Wicked + The Divine é sobre divindades no mundo moderno e Once and Future é sobre artefactos Arturianos nos dias de hoje e as suas consequências, Die é sobre um RPG. E foi aí, quando essa informação foi revelada que além da minha curiosidade, despertou a minha atenção.

Quem é da minha geração ou tem algum conhecimento de desenhos animados dos anos 1980 poderá lembrar-se da série de animação Dungeons and Dragons onde um grupo de jovens é transportado para dentro do universo de fantasia ao entrar num carrossel de D&D e se transformam em personagens-tipo para lá viverem as suas aventuras. Infelizmente estas crianças aventureiras ficaram presas para sempre naquele mundo porque o último episódio que foi escrito e contaria a história do seu regresso nunca foi produzido já que a série foi cancelada antes de tal acontecer.

Gillen, inspirou-se nesse mundo de Dungeons and Dragons para criar Die uma graphic novel que conta uma história iniciada nos anos 1990 em que um grupo de adolescentes, no aniversário de um deles, começa a jogar um RPG criado por outro como uma prenda especial. Quando a mãe do anfitrião entra no quarto para lhes levar uns refrescos, todos eles tinham desaparecido. Este pequeno teaser, está disponível aqui na página da Image Comics.

O primeiro número, está disponível online de forma gratuita em algumas apps e sites de BD e sem dar um grande spoiler mas para aguçar o apetite posso dizer que eles voltam.

Quase todos.

Dois anos depois do seu desaparecimento e com grandes danos psicológicos tal como físicos mas sem poderem ou sequer conseguirem explicar nada do que aconteceu.

Anos mais tarde, já adultos, cada um lida com o seu stress pós traumático à sua maneira até que um objecto que julgavam nunca mais ver abala as suas fracas estabilidades… Posso dizer que ter lido este número 1 deixou-me de tal modo entusiasmado com o resto da história que automaticamente comprei os 3 volumes de Die e espero que cheguem antes do Natal, já que seria a minha prenda para a minha filha me dar a mim… Se não chegarem, terei de esperar mais uns dias para os ler.

Além do que parece ser um enredo muito interessante tendo em conta a introdução e  a já conhecida qualidade de escrita do autor noutras obras, Die tem um sistema de jogo muito curioso no qual, ao contrário de D&D ou outros TTRPGs cada jogador usa apenas UM dado específico atribuído ao seu personagem. Daí o nome Die, singular. Cada jogador tem apenas um e apesar de cada um poder escolher o seu personagem o seu core, a sua essência está definida no seguinte diagrama, ou Die-agram.

Poderíamos ficar por aqui, uma história com um RPG como base já seria suficiente, mas além disso, a cereja no topo do bolo é que Gillen decidiu dar aos seus leitores a oportunidade de jogar Die. Jogar mesmo. Já que ele criou o RPG a sério. Um guia completo do RPG está disponível aqui  gratuitamente para quem quiser testar algo diferente com regras, handouts e tudo o que é necessário para entrar neste mundo alternativo.

Ainda não testei, confesso. Porque este é um jogo que terei de arranjar um GM interessado em gerir a campanha já que estaria mais feliz como jogador do que como organizador e devido a isso ainda não li todas as instruções porque há coisas que só o GM deve saber até certo ponto no jogo. A ideia de jogar apenas com um dado tendo em conta o personagem e outras coisas que possam estar associadas ao mundo de Die fascinam-me, e acho que podem ser interessantes para outros apaixonados de jogos narrativos. E com esta prenda, para os fãs de TTRPG, me despeço e desejo a todos boas festas. Que os vossos dados rolem alto, e as vossas aventuras sejam memoráveis.