Senhores e senhoras, meninos, meninas e cylons, é com uma alegria renovada que escrevo o The Editor’s Choice deste ano. Fazê-lo significa que estou a atirar 2020 para trás das costas, ainda por cima numa nota entusiasmante, com a vacina a ser administrada desde domingo no nosso País, e na quase totalidade da UE.
Um ano cheio de sobressaltos, com mais baixos do que altos, mas onde os videojogos representaram sempre uma luz ao fundo do túnel, e aos quais sempre irem estar grato por me ajudarem a sair de um buraco de depressão para onde a pandemia me atirou.
E agora, sem mais demoras: as minhas escolhas de melhores jogos do ano, que, mais uma vez, inclui apenas títulos que joguei.
15 – Not for Broadcast
Este novo jogo publicado pela tinyBuild é uma das maiores surpresas deste início de ano, é possivelmente o primeiro e único propaganda/tv simulator que já contactei e tem uma abordagem verdadeiramente original a um tema que está cada vez mais na ordem do dia. E que se tornou ainda mais premente com a desinformação que singrou nas redes sociais durante este ano de 2020.
14 – Signs of the Sojourner
Signs of the Sojourner: a genialidade cabe num baralho de cartas
Signs of the Sojourner é único e é também uma das mais originais obras que já joguei. A mestria da forma como interliga a narrativa e as mecânicas é verdadeiramente sublime e uma prova da criatividade dos seus autores, que encapsularam tudo com uma direcção artística com uma identidade coesa e própria. Um jogo onde as cartas são parte de uma comunicação não vernal. Não sei Signs of the Sojourner é o jogo que fará alguém finalmente apaixonar-se pelos deckbuilders, e isso pouco importa, masé sobretudo um jogo para alguém que quer ver algo que nunca antes foi feito. E ainda por cima muito bem feito.
13 – Shantae and the Seven Sirens
Shantae and the Seven Sirens continua a ser um jogo obrigatório para todos os fãs de metroidvanias, e até para os restantes. Um jogo delicioso, desafiante sem ser frustrante, com momentos de originalidade, brilhante visualmente e que ainda nos vai fazer dar umas boas gargalhadas. E num ano estranho como estes, apesar de ser um brilhante metroidvania, nem sequer foi o melhor que joguei. Apesar de ser muito, muito bom.
12 – Hyperparasite
A nossa aprendizagem vai-se fazendo a cada morte, na forma como conhecemos cada vez melhor os inimigos e nos vamos conseguir esgueirar das saraivadas de tiros que preenchem o ecrã.
HyperParasite não é perfeito, mas consegue dar um toque diferente aos twin stick shooters roguelite. Nem que não seja por ser – acredito eu – o único jogo que nos permite controlar um vagabundo a conduzir um carrinho de compras de supermercado. E isso merece logo respeito.
Mal sabia eu quando escrevia o artigo que, a meio da pandemia, teria a oportunidade de jogar este jogo em co-op, em stream, com o autor, o simpático Saverio Caporusso, durante o Indie X 2020. HyperParasite é uma das joias escondidas de 2020.
11 – Cloudpunk
Cloudpunk foi um daqueles jogos que desde o primeiro anúncio que nos ficou queimado na retina, pela sua brilhante utilização de uma mistura de ambiente tridimensional com texturas de pixel art. Mas depois de mergulharmos nele percebemos que há muito, muito mais do que aparenta à superfície. Este é um jogo brilhante, onde a densidade e a qualidade da história nos fazem querer percorrer cada canto, e conhecer cada personagem.
Foi também com Cloudpunk que tive o prazer de fechar o Indie X 2020, com o seu argumentista a acompanhar-me nesta deambulação por um dos mas interessantes mundos cyberpunk que já conheci.
10 – Assassin’s Creed Valhalla
Assassin’s Creed Valhalla: o tributo dourado aos deuses em Asgard
Assassin’s Creed Valhalla é, até agora, o apogeu da série, com um equilíbrio difícil entre manter uma interligação com as suas origens, com o seu reboot, e com a inovação. Nesta passagem de geração, Assassin’s Creed Valhalla é um excelente jogo a surgir numa época permeável a muitos lançamentos concorrentes.
Reitero esta afirmação hoje, como a indiquei na altura: este é, ainda assim, não só um excelente título, como possivelmente o melhor AC que a Ubisoft já lançou.
9- Fall Guys
Fall Guys não precisa de apresentações. O melhor party game deste ano, que soube agarrar a comunidade online e mostrar-lhes que não é preciso um jogo como Fortnite para unificar pessoas de várias gerações.
Aqui em casa teve outro condão: fez-me rever Takeshi’s Castle de uma ponta à outra com o meu filho mais velho. Ele, que é o verdadeiro Rei do Fall Guys cá de casa, e que encontrou nele o primeiro jogo online competitivo a sério. Ainda que, felizmente, Fall Guys de sério tenha pouco. E ainda bem que nos trouxe toda esta salutar loucura e diversão em meses tão negros.
8 – Röki
Röki é provavelmente o melhor jogo que quase ninguém vai jogar este ano. Uma pérola escondida no mercado indie, e uma grande entrada nesta nova década em termos de jogos point ‘n click. E principalmente com uma história que ombreia com o que de mais emocionante o género já teve, lembrando-nos os tempos áureos da escrita do Benoît Sokal.
7 – Ori and the Will of the Wisps
Com a chegada de Ori and the Will of the Wisps, decidi finalmente mergulhar no primeiro jogo. Joguei os 2 sem sequer uma pausa entre eles, e na azáfama de dezenas e centenas de lançamentos percebi finalmente o porquê de toda a gente me dizer que estava a passar ao lado de uma das melhores séries de um dos meus géneros de eleição: os metroidvanias.
Como joguei os dois de forma ininterrupta, na minha mente Ori and the Will of the Wisps e o seu antecessor são uma obra única. Uma obra cuja segunda parte demonstra a evolução e a afinação em relação á primeira, denotando toda a qualidade de um jogo brilhante.
6 – The Pedestrian
Em Janeiro de 2020 indicava que este era dos melhores e mais criativos puzzle games que já joguei. Coeso, inventivo, brilhante nos seus desafios e enquadramento, The Pedestrian é mais do que um mero gimmick com sinalética: é o Portal desta década. E afirmei, relembro: “(…) Em ano de lançamento de novas consolas e com muitos bons jogos na calha, poucas razões manterão The Pedestrian afastado do meu top de melhores jogos do ano, e possivelmente de muitas listas de encerramento de 2020. E com todo o mérito, admita-se. (…)”
Tinha razão.
5 – Airborne Kingdom
Há sempre um jogo que me surpreende quando o jogo está a terminar e que entra directamente para o top. Neste caso foi outro dos melhores jogos que a maior parte das pessoas não vai jogar este ano: Airborne Kingdom.
A direcção de arte de Airborne Kingdom foi a minha conquista imediata com este jogo, que comprei se quer ter a mínima ideia da profundidade mecânica. Este é sobretudo um jogo original para o género, com menos tensão que os seus congéneres, com um mundo único e deslumbrante. Com uma identidade artística tão única que é impossível não nos rendermos à sua beleza.
4 – Final Fantasy VII Remake
O tempo, esse que é o grande juiz de tudo e de todos, acaba por confirmar aquilo que todos sabíamos: que aquele mundo criado em exclusivo para a PS1 é uma peça de arte da Humanidade. O que faz deste Final Fantasy VII Remake um elemento obrigatório para todos os possuidores da PS4. E que deve ser saboreado ou devorado. Quem somos nós para dizer como devem aproveitar a vida, em qualquer altura, especialmente numa fase em que ela parece suspensa, lá fora, nas incertezas de uma pandemia.
3 – Hades
Hades é um dos melhores jogos do ano e possivelmente o mais original e sólido roguelite que vamos jogar em muitos anos. Uma prova cabal da genialidade da Supergiant Games que parece não saber fazer jogos maus. Demorei meses até conseguir encontrar a janela de tempo para o jogar. Ainda bem que o fiz.
2 – Spiritfarer
Spiritfarer, mais do que uma viagem doce pelo pós-morte com um elenco de personagens altamente memorável, é sobretudo uma obra metafórica sobre a morte e a sua aceitação. Sem qualquer religiosidade anexa, Spiritfarer é um debate interno com a nossa postura perante a morte. E apesar de o tom final ser sempre agridoce, e de ter muitas vezes relativizado o tema, a realidade é que apesar de toda esta reflexão, terminamos o brilhante Spiritfarer com a mesma certeza que tive antes de o começar a jogar: nós nunca aprenderemos a aceitar a morte, apesar da sua inevitabilidade.
Spiritfarer é das experiências mais memoráveis e arrebatadoras que alguma vez joguei. Merecia ser o meu jogo do ano. Mas algo me diz que vai ser um daqueles que ficará para sempre impresso na minha memória.
1 – Ghost of Tsushima
Ghost of Tsushima é um jogo obrigatório pela carta apaixonada que é à influência do mestre Kurosawa (podemos até ligar o “filtro Kurosawa” para jogar a preto-e-branco com grão), daqueles que qualquer fã da sua filmografia ou que os apaixonados pelo Japão feudal, mas é sobretudo um excelente canto de cisne dos open worlds numa consola que foi palco para alguns dos momentos mais marcantes do género na última década.
Já deveria ter aprendido com Horizon Zero Dawn que rastejar as expectativas pelo chão em torno de um jogo do qual pouco sabemos pode resultar numa das mais avassaladoras surpresas. Conhecendo bem o trabalho da Sucker Punch, Ghost of Tsushima deixava-me uma antecipação de tudo aquilo que provou não ser quando o pude jogar.
Ghost of Tsushima é um jogo obrigatório pela carta apaixonada que é à influência do mestre Kurosawa (podemos até ligar o “filtro Kurosawa” para jogar a preto-e-branco com grão), daqueles que qualquer fã da sua filmografia ou que os apaixonados pelo Japão feudal, mas é sobretudo um excelente canto de cisne dos open worlds numa consola que foi palco para alguns dos momentos mais marcantes do género na última década.
Magistral, sóbrio e o melhor canto do cisne de uma geração que pôde encontrar nas suas escarpas a melhor forma de gritar um adeus.
Jogo mais Importante do Ano – Animal Crossing: New Horizons
Animal Crossing: New Horizons. Há uma luz ao fundo da realidade
Pode parecer batota, mas não é. Animal Crossing: New Horizons é um bom jogo, mas não lhe sinto a originalidade ou inventividade para poder ser o melhor jogo do ano. Mas num ano emocional e psicologicamente tão duro quanto 2020, não poderia deixar de fazer uma menção especial não ao melhor jogo do ano, mas o jogo mais importante do ano.
Porque no meio das 300 e muitas horas que dediquei à minha ilha virtual, foi em Animal Crossing: New Horizons que encontrei todas as forças para ir recuperando de uma depressão e angústia tremendas. Foi para a minha ilha virtual que escapei mentalmente, enquanto o meu corpo físico se debatia com a incerteza de um confinamento forçado com uma pandemia que nos assaltou de rompante.
Animal Crossing: New Horizons é o jogo mais importante do ano. Esta luz ao fundo da realidade que ele representou para mim, acredito que tenha sido igual para muitas das 26 milhões de pessoas que o compraram. Por muitas décadas que venha a viver, e nunca conseguirei agradecer o suficiente aos seus criadores pelo oportuno timing com que o jogo chegou e a forma como tanto contribuiu para me afastar das sombras onde eu me refugiei.
Melhor Jogo Mobile
Num ano em que joguei muitos jogos mobile graças à subscrição do Apple Arcade, é fácil indicar The Pathless (que apesar de ser multiplatforma demonstra sobretudo ter sido criado para um ambiente mobile), e é um dos melhores jogos a saírem para dispositivos móveis em 2020. Não podemos também esquecer o regresso de Charles Cecil a um mundo que tanto nos entusiasmou com Beyond a Steel Sky, para além de Pokémon Café Mix, que me parece um dos mais interessantes jogos da Nintendo a chegarem a este mercado dos free-to-play.
Surpresa do Ano
Ghost of Tsushima pelas baixas expectativas que tinha na capacidade da Sucker Punch de desenvolver um jogo desta qualidade. Em termos de indies, Spiritfarer e Airborne Kingdom são as duas grandes supresas do ano.
Melhor jogo familiar
Com tanto tempo de confinamento e com tão bons títulos familiares a saírem em 2020, diria que Moving Out foi possivelmente aquele que mais gargalhadas nos deu aqui por casa, seguido de perto por Bake ‘n Switch. Não poderia fechar o ano sem referir outros excelentes jogos familiares que tantas alegrias nos deram em 2020, como Animal Crossing: New Horizons, Minecraft Dungeons, Good Job! e Riverbond.
Melhor jogo competitivo
Num ano estranho em que eu passei para segundo lugar como jogador que mais jogos competitivos joga aqui por casa, tive de conferenciar com o meu filho, e apesar de Fall Guys merecer o destaque, ficou muito empatado com Captain Tsubasa: Rise of New Champions. No campo dos novos potenciais esports, Legends of Runeterra foi para mim o grande lançamento do ano, e aquele que mais tenho pena de não dedicar o tempo que sinto que o jogo merece.
Melhor jogo deste ano que afinal não é deste ano
Planet Zoo: mais que um brilhante tycoon, um alerta sobre conservação animal
Acontece-me todos os anos, mergulhar em jogos que penso que são deste ano e afinal, ou saíram ali nas últimas semanas do ano anterior, ou muito mais distante do que isso. Tenho, porém, de declarar um empate técnico entre 2 jogos: Planet Zoo e Transport Fever 2, ainda que o jogo da Frontier tenha uma ligeira vantagem.
Desilusão do ano
Snack World podia ser muito melhor do que é. Enfureceu-me sentir que os pontos de qualidade do jogo e o talento da Level-5 tinham todas as hipóteses para chegar bem mais longe que isto. Infelizmente não chegaram.
No campo das desilusões ainda há espaço para as sofríveis Expansões de Pokémon Sword & Shield, Yooka-Laylee and the Impossible Lair e Paper Mario: The Origami King, com mais um lançamento que nos lembra dos tempos em que Paper Mario era sinónimo de genialidade. Mas já não é.
Pior Jogo do Ano
Se puderem, fujam de Goosebumps: Dead of Night a sete pés. Não que ele seja aterrorizante pelo seu conteúdo, mas sim pela sua falta de qualidade. Um jogo terrível num pódio infame seguido de perto por outros três pedaços de ignomínia: Tamarin, Arboria e Lumberjack’s Dynasty.
Melhor Board Game
Num ano em que jogámos muitos board games, mas menos do que gostaríamos de ter jogado, há um destaque para jogos familiares, ainda que o melhor, e mais criativo, seja mesmo Pendulum. Here to Slay, Tapestry, Duendes Voadores e My Little Scythe – Pie in the Sky foram alguns dos melhores que jogámos e que foram lançados este ano.
Melhores álbuns:
E já que quase todos os episódios do Split-Chicken trago sugestões de álbuns de música, deixo-vos o meu top 11 do ano, repleto de prog metal/rock.
11 – The Tangent – Auto Reconnaissance
10 – The Pineapple Thief – Versions of the Truth
9 – Tim Bowness – Late Night Laments
8 – Magenta – Masters of Illusion
7 – Haken – Virus
6 – Gazpacho – Fireworker
5 – Lazuli – Le fantastique envol de Dieter Böhm
4 – Katatonia – City Burials
3 – Pain of Salvation – Panther
2 – Caligula’s Horse – Rise Radiant
1- Pure Reason Revolution – Eupnea
Música do ano:
Leprous – Castaway Angels
Melhores séries de TV:
Já que este foi o ano em que subscrevi todos os serviços e no qual passei mais tempo a ver séries de TV, fazendo jus ao Split-Chicken aqui fica o meu top 15 de séries de Tv de 2020:
15 – The Great
https://www.youtube.com/watch?v=hJGedvRfHYg&ab_channel=Hulu
14 – Unorthodox
https://www.youtube.com/watch?v=-zVhRId0BTw&ab_channel=Netflix
13 – Devs
12 – Sex Education
11 – The Boys
10 – The Queen’s Gambit
https://www.youtube.com/watch?v=CDrieqwSdgI&t=1s&ab_channel=Netflix
9- The Mandalorian
8 – Mythic Quest
https://www.youtube.com/watch?v=pMaPCYRPhY0&ab_channel=AppleTV