Caçada Semanal #246

Quem é que estava desejoso de um ano novo para esquecer rapidamente o anterior? Quem o fez, enganou-se redondamente: quanto muito este vai ser um ano mediano. Há uma charneira psicológica, mas pouco mais. Aliás, o ano vai com 8 dias e anteontem foi um dos dias mais negros da democracia norte-americana. Coisa pouca.

Tenho esperança que 2021 seja um ano mediano. Nem preciso que seja bom, já me contento com um ano assim-assim. E por isso esta primeira caçada do ano traz 3 jogos assim-assim para vos apresentar.

Star Shaman [Oculus Quest]

Star Shaman não é o primeiro jogo de VR a utilizar os gestos como forma de lançar feitiços. Só no ano passado nos chegaram às mãos meia dúzia de jogos precisamente com esta premissa, a de utilizar os nossos próprios gestos como forma de conjurar feitiços, penso que todos eles a desejarem ser o sucedâneo VR de Hogwarts.

Na sua essência, este é um wave shooter com feitiços, com elementos de roguelike (quase obrigatórios nos dias de hoje) onde vamos desbloqueando feitiços permanentes que nos vão facilitando a progressão.

Os problemas em torno de Star Shaman são eminentemente técnicos, com demasiados tempos mortos em transições de níveis. Saltamos de planeta em planeta até chegar aos bosses, e se morrermos, começamos tudo de novo. Nada de diferente num roguelike, mas Star Shaman não tem a diversidade necessária para que não nos aborreçamos rapidamente. 

Algo que o estúdio parisiense Ikimasho deveria ter em conta para que conseguíssemos usufruir do seu jogo como ele merecia.

Ray’s the Dead [PS4, PC, Switch, PS Vita]

Olha, um jogo lançado para PS Vita. Brutal, não é? O ano de 2020 foi mesmo surpreendente, não foi? Depois de anos no limbo do desenvolvimento e dos crowdfundings, Ray’s the Dead viu finalmente a luz do dia. Metaforicamente falando.

É que neste jogo o protagonista, Ray, morreu recentemente, mas reergueu-se da sua campa, apenas para descobrir que o mundo está invadido por zombies. Não sabemos de início porque é que ele é consciente enquanto os outros zombies não, mas Ray tem o poder de matar os inimigos e depois ressuscitá-los para criar uma horda de zombies sob o seu controlo.

Mecanicamente, este é um Pikmin com zombies, onde estes têm “classes” e forças diferentes, num jogo recheado de bom humor.

A adaptação da genialidade de controlo de um colectivo como em Pikmin parece perder-se num jogo onde o combate tem mais peso do que a resolução de puzzles. 

Double Pug Switch [PS4, Nintendo Switch, PC, Xbox One]

Não é incomum vermos chegar ao mercado indie alguns jogos que pegam numa ideia ou uma mecânica bem conhecida e a exploram até à exaustão. Há casos em que isso corre bem, como o magnífico Braid, que retirou a sua inspiração do que de melhor o Mario já fez em 2D e levou-o para um excelente patamar, e depois temos casos como Double Pug Switch.

Double Pug Switch é um platformer que aproveita uma mecânica conhecida e leva-a à exaustão: a de trocarmos de dimensões para podermos progredir em sequência de plataformas, ultrapassando obstáculos e completando os níveis. Nada de novo a Oriente do prato de comida de cão.

Mesmo a tentativa de criar um enquadramento interessante para ele, com a história do nosso protagonista e do seu inimigo, o gato Lord Sker, a serem vítimas de um acidente de laboratório e a ganharem o poder de oscilar entre dimensões. Lord Sker, mais astuto que o cão (que há quem diga que é um dos tipos de cães menos inteligentes que existem), decide dominar essas duas dimensões enchendo-as de picos que se movem. Porquê? Porque sim. Por que é que havemos de estar a questionar um jogo protagonizado por um cão?

Apesar do tom estranho desta luta de cães e gatos (e eu sou uma dog person), Double Pug Switch não é especialmente bom, e rapidamente demonstra a exaustão tremenda a que leva a sua ideia. Num endless runner onde só controlamos dois botões: o de salto e o de shift de plataformas, mas em que nada é suficientemente inspirado para não nos lembrar que estamos a jogar a mesma ideia ad nauseam.