Numa tarde de Outono, ali no início do liceu, um amigo passou-me uma cassete com um dos álbuns mais emblemáticos da música extrema, To Mega Therion, dos Celtic Frost. Curiosamente um álbum lançado no meu ano de nascimento, e que viria a cimentar as bases do black metal. Poucas semanas depois esse mesmo título To Mega Therion, agora como uma das faixas mais importantes do magnífico Theli dos Therion chegava aos meus ouvidos. “Para o Grande Therion”, traduzi sempre eu na minha cabeça, num mix de inglês com grego. Seria apenas ao ter conhecimento da assinatura do escritor e esotérico Aleister Crawley quando iniciei a minha devoção por Fernando Pessoa que descobriria que a frase na sua assinatura é toda em grego e significa: “a Grande Besta”. 

Com um deslize tremendo neste preâmbulo, já muitos dos que leem devem pensar: “mas o que raio é que isto tem a ver com Turrican?”. Eu explico. É que desde que joguei Mega Turrican no Amiga de um primo uns anos valentes depois do lançamento do jogo, que criei uma resposta pavloviana ao jogo. Não lhe consigo chamar apenas Mega Turrican. Na minha cabeça tenho de lhe chamar To Mega Turrican.

Depois desta viagem até ao Café do Barbosa sem passar no cruzamento mas a contornar o Centro Cultural, tenho de admitir que o mergulho em Turrican Flashback foi um banho de nostalgia portátil. 

As versões de Amiga de Turrican mereceram os prémios que receberam e a influência que espalharam nos anos subsequentes. Com o contexto devido, olhar para os hiper-aprimorados controlos desenvolvidos ainda nos anos 1980 (tão contemporâneos e sólidos que envergonham jogos desenvolvidos hoje que se encontram a anos-luz) e com a excelente direcção artística da série, é também olhar ao mesmo tempo para um dos mais emblemáticos shooters dos 1980s (e 1990s).

Num pacote completo lançado para Switch e PS4, Turrican Flashback traz-nos os dois primeiros Turrican, para além de Mega Turrican e Super Turrican. A dificuldade continua tão dura quanto nos lembramos dela, ainda que com um deslize do dedo para o botão ZL na Switch rapidamente tenha descoberta a forma de fazer rewind ao tempo. Uma “batota” suave que nos permite fazer CTRL+Z a dano que recebemos, e recalcular saltos, quedas, ou desvios de balas.

Os cheat codes originais ainda andam por aqui, e é engraçado para as gerações mais novas depararem-se com este ecrã para os seleccionar, e muitos deles a descobrirem pela primeira vez o que raio são cheat codes. 

A brilhante banda-sonora comprovou a sua genialidade com o grande teste do tempo, contribuindo para o ambiente de acção futurista de Turrican.

Esta não seria uma colectânea de época se não nos permitisse emular visualmente os CRTs da altura, com customização da apresentação, adição de scanlines e afins. 

Rejogar estes Turrican após décadas é redescobrir alguns elementos que ainda hoje o destacam de tantos outros congéneres. O primeiro é o grande factor de exploração que ele possui, muito mais complexo que a mera deslocação lateral (ou vertical) de outros shoot’em ups. Ainda ontem a rejogar Turrican II fui encontrando algumas zonas secretas pelo mapa. Quantos shoot’em ups enveredavam por este caminho? Não me lembro de mais nenhum.

São quatro jogos excelentes numa compilação obrigatória… não fosse o seu preço. Não querendo desvalorizar os brilhantes contributos históricos de Turrican, mas 29,99€ parece-me um valor excessivo para uma antologia que não traz conteúdo novo. E do ponto de vista de mercado tenho sérias dúvidas que haja uma procura assim tão grande que justifique um preço destes. 

https://www.youtube.com/watch?v=s8eqQa8SSkM&ab_channel=Corilo