Dizer que Snowtopia é um jogo fresquinho, fresquinho, é um duplo eufemismo. Primeiro porque é tão fresco como um pão acabadinho de sair forno, já que saiu ontem em Early Access. (Aproveito um interlúdio para reflectir sobre a contradição de um pão quentinho ser um pão fresco. Já pensaram nisso?). O outro eufemismo é que Snowtopia – não fosse o título enganar – é um tycoon sobre estâncias de ski.

Já foram a uma estância de ski? Eu não. E nunca quis especialmente por ter medo de partir todo na neve. Temor esse que não melhorou quando Michael Schumacher, um piloto de F1 que conseguiu sair ileso de uma carreira perigosa, mas que viria a ter um grave acidente durante as suas férias, precisamente a esquiar. Eu sei que o argumento aplica-se a tudo, inclusivamente a média de 450 pessoas que morrem no mundo anualmente por caírem da cama, ou as cerca de 24 que morrem todos os anos com acidentes com rolhas de champagne. Agora convençam o hipocondríaco em mim a aceitar isso.

Como ainda há dias dizia, um bom tycoon ou city builder tem o condão de nos prender quase indefinidamente ao ecrã. Snowtopia está no caminho para ter essa potencialidade, mas ainda tem demasiadas afinações para fazer até chegar a esse estado. Quero acreditar que com o feedback dado pelos jogadores que o estúdio vai conseguir corrigir muitos dos problemas que limitam este Snowtopia de alcançar o seu potencial.

Há uma decisão mecânica em Snowtopia que, apesar de estar dentro de uma série de princípios dos management games (e até dos city builders), acaba por ter aqui um dos seus exemplos mais mal aplicados. Partindo de um edifício base que é a entrada da estância, vamos criando teleféricos pelas escarpas das montanhas, e a partir delas desenhamos os troços de esquiagem. A dificuldade destes troços apelam a públicos diferentes, e o desafio vai sendo definido não só pelos declives que apanham, mas também pela proximidade com obstáculos como árvores.

Todos os edifícios e teleféricos têm de estar ligados por troços de ski, o que nos faz uma alusão às mecânicas base de Settlers. O problema aqui é a verticalidade do jogo. Com a necessidade de construirmos teleféricos que utilizem a geografia do nível, cedo vamos reparar que estamos impedidos de construir devido ao choque entre elementos: um teleférico pode estar no caminho do desenho de um novo troço. 

A impossibilidade de criarmos teleféricos e demais construções ora em declives acentuados, ora em pontos verticais que permitam diversos níveis de redes de transporte limita, e muito, o espaço disponível. 

Uma solução que encontrei na minha primeira playthrough foi a de estabelecer teleféricos bem distantes da estância, alargando a área desta. O problema é que não tenho mecanismos para distribuir o fluxo dos esquiadores, e enquanto eles fazem filas nos teleféricos próximos da entrada da estância, não existe forma de distribuir a movimentação para a periferia, onde existem teleféricos completamente vazios.

Os bugs esperados andam por aqui mas são facilmente desculpáveis. O mais estranho que tive foi uma casota dos rangers no meio da montanha, que ficava a meio de um troço de ski, que albergou 348 esquiadores (todos os visitantes, à época). Ficaram lá presos o que começou a baixar a satisfação e o rating da minha estância.

Tenho algum receio que a limitação temática de Snowtopia se venha a reflectir num curto loop mecânico. Que quando comparado com tycoons como Planet Coaster e afins que representa apenas uma pequeníssima fracção do seu conteúdo, mesmo tendo em conta as diferenças de dimensão e experiências das equipas que o desenvolvem. Tudo isto são perguntas que só terão resposta quando Snowtopia estiver finalizado. Só não sabemos é quando.