Primeiro tivemos Baldur’s Gate. Depois veio Dragon Age. Agora vem… The Waylanders?

Em early access no Steam desde Junho de 2020, o título dos espanhóis da Gato Selvaje está a dar passos cautelosos com vista a ser um digno sucessor dos RPGs ocidentais da Bioware. Importa dizer que nunca joguei nenhum dos dois, mas consigo bem entender o apelo e inspiração em The Waylanders.

Pegamos numa de quatro raças – umas mais místicas que outras – e criamos o nosso personagem, seguindo-se o seu arquétipo: guerreiro, mago, curandeiro, escudeiro, por aí fora. Rapidamente formamos a nossa Irmandade do RPG, munidos de uns mais hérois, outros mais proscritos, progredimos através de pequenos mas visualmente ricos mapas (tocou-me na nostalgia de Final Fantasy X) cheios de loot para recolher e inimigos para despedaçar com as nossas habilidades. Voltamos ao nosso navio, optamos por desembarcar em side quests ou progredir na história principal ao longo dos diferentes mapas.

Soa um bocado genérico, não soa?


Para um estúdio indie como a Gato Selvaje, importa agarrar pela familiaridade. É que se fosse só pela ambição, nunca mais este jogo veria a luz do dia. Com campanha lançada no Kickstarter desde meados de 2018, propunha-se atingir os 150 mil dólares e na altura em que esta antevisão é escrita, já vai quase nos 170 mil, com tiers para todos os gostos, como qualquer projecto apetitoso da plataforma. Tem neste momento perto de dez horas de conteúdo (joguei metade disso), se tudo correr bem andará acima das 40. E se tudo correr muito bem, aquilo que nos fará relembrar este jogo não será o meu terceiro parágrafo, mas todas as boas ideias que pretende concretizar.

Celtas. Os do basquetebol? Não, aqueles tipos que andaram pela Península Ibérica e da qual também o lusitano tem algum ADN. Não me lembro de nenhum RPG baseado nesta cultura que nos é tão próxima, o que o torna um excelente factor de diferenciação. Se ao início do enredo principal achei que, pese a solidez, faltava sentido de urgência e alguma pujança épica, todo o lore envolvente é profundo e espero que culmine com uma história à altura, entrelaçando estes elementos em redor do desfecho. Para já, a promessa já anunciada pelos developers de uma alternância temporal entre o período Celta – onde tanto temos cenários ibéricos como irlandeses – e o seu próximo, algo distópico futuro Medieval onde a magia se tornou contaminada, deixa as bases para grandes coisas acontecerem.


Para nos levar através de todo este universo, as personagens trazem culturas de diversas zonas e períodos Europeus, com especial destaque para a Grécia Antiga (e o seu submundo) a complementar a cultura celtibera. Com um tom mais ligeiro, têm por vezes tiques juvenis contemporâneos que não colam bem no tom épico, com algum vernáculo caidinho do céu. The Waylanders tem exploração e combate em doses iguais, com a possibilidade de alternar a câmara isométrica com a terceira pessoa, através das quais podemos combater de forma tradicional num RPG ocidental, ou assumir uma postura mais estratégica com antigas formações militares, que também permitem incorporar personagens mais místicos na mesma filosofia. Nunca senti que tivesse passado tempo suficiente no sistema, tendo falhado as minhas missões algumas vezes antes de entender qual a melhor forma de abordar certos inimigos.

Tamo junto

The Waylanders será um early access a ter em atenção a um lançamento definitivo. Da terra de onde já nos chegaram RiME, Invizimals e mais recentemente Call of the Sea, e de onde TemTem ainda está por chegar em 1.0, há sem dúvida ambição de fazer algo de memorável. Por ora ainda restam alguns bugs, cutscenes mal amanhadas e alguma falta de profundidade de um produto que se sabe inacabado, mas que aponta grande parte das fichas na componente narrativa, com escritores de créditos firmados como Mike Laidlaw (Dragon Age, Neverwinter Nights 2), Josué Monchan (Mass Effect, Batman: The Telltale Series) ou Emily Grace Buck (Fallout: New Vegas, Guardians of the Galaxy: The Telltale Series).

Se daqui sai um glorioso Renascimento ou uma tenebrosa Era Medieval, a ver vamos.