Já lá vão tantos anos
Quando me juntei ao Rubber Chicken em finais de 2017 após ser voluntário no Indie Dome, tinha muitas aspirações. Felizmente posso dizer que a maior parte, senão a totalidade, foram atingidas e muitas outras foram superadas. Tive oportunidades ridículas que nunca pensei vir a ter e vivi momentos inesquecíveis. Poupo esses momentos para um potencial artigo nº 100 (sim, sou muito lento a escrever) e escolho focar-me agora só numa das aspirações, uma das mais importantes na altura: queria jogar muitos mais jogos, de todo o género e tamanho. Como sempre fui um grande forreta, custava e ainda me custa muito gastar dinheiro em mim mesmo. Sou um verdadeiro Tio Patinhas no que toca a dar prendas a mim próprio e os jogos sempre foram uma coisa que jogava pouco por essa mesma razão. Daí veio a minha predilecção por jogos grandes e com muito sumo. Gastava uns quantos paus e tinha jogo para vários meses, ou mesmo vários anos, se gostasse muito e o jogasse múltiplas vezes. Fiquei muito feliz quando o Ricardo Correia me disse que uma das missões do Rubber era tentar avaliar todo e qualquer jogo que nos enviassem, por respeito aos criadores. Isto encaixava perfeitamente nos meus objectivos de abrir os horizontes e de educar o meu palato lúdico.
Sim, caro leitor. Eu sou um daqueles que começou nesta coisa para “ter jogos de graça”. No entanto, muitas vezes eu olho para a lista de jogos que temos para analisar e vou atrás do mais estranho, do que ninguém quer, da ovelha negra. Por cada Shadow of the Colossus ou Kingdom Hearts 3, existem vários The Barbarian and the Subterranean Caves, ou Boreal Tenebrae, ou um sem fim de outras coisas menos mainstream, mas não menos valiosas e interessantes. Acaba por ser com estes jogos menos óbvios que eu desenvolvo mais a minha escrita e raciocínio, muitas vezes acabando por gostar deles por razões inesperadas e tendo de pensar mais e melhor sobre o que vou escrever.
Este preâmbulo todo foi criado pura e simplesmente para introduzir o jogo de hoje, um caso inevitável, que acho que até tardou mais do que esperava a acontecer. O jogo de que vou falar hoje é Mosaique Neko Waifus 4, a quarta entrada num franchise com pouco mais de um ano. O franchise Mosaique Neko Waifu trata-se de um jogo de puzzles hentai (com versões para menores e maiores de 18 anos) com alegações de usar mecânicas RPG e opções de diálogo com consequências. Ah! E tem miúdas-gato.
Cada nível do jogo é um puzzle com uma imagem animada em loop. O nosso objectivo é alinhar todas as peças corretamente para revelar a imagem. Inicialmente, os puzzles têm poucas peças e apenas precisamos de utilizar os dois botões do rato para rodar as peças num ou noutro sentido. À medida que progredimos, o número de peças aumenta. Além disso, começam a aparecer peças que não estão no eixo de simetria, tendo de ser rodadas com um clique do botão do meio o rato para as espelhar e poder colocar com a orientação correcta. Finalmente, MNW4 insere uma mecânica que segmenta o puzzle em blocos diferentes compostos por muitas peças que tem de ser rodados para a posição correcta. Para nos ajudar a concluir os puzzles temos habilidades passivas e ativas com diferentes efeitos. Algumas rodam ou resolvem peças aleatoriamente, outras são mais direccionadas e específicas. À medida que completamos puzzles vamos amealhando experiência que, após convertida em níveis, nos permite melhorar as habilidades. O sistema é divertido, mas a quantidade de intencionalidade e envolvimento que o mesmo acarreta é muito reduzida. Qualquer jogador pode escolher umas habilidades quaisquer e evoluí-las aleatoriamente e será recompensado com um belo jogo de luzes e sons que o ajudará a concluir os níveis mais rapidamente. O jogo é suposto ser fácil, mas entra no território de acéfalo, o que acaba por reduzir a diversão que podemos extrair do mesmo. O que vale é que o jogo pode ser completado a 100% em cerca de duas horas, por isso não há grande hipótese de nos aborrecermos.
Após concluirmos um puzzle, somos presenteados com uma bela peça de arte animada e uma curta cena com uma ou duas oportunidades para escolher diferentes opções de diálogo. Estas opções resultam na obtenção de itens que dão diferentes boosts às nossas habilidades. Podemos fazer replay aos níveis para obter os itens todos, mas não o recomendo, a não ser que não tenham mesmo nada melhor para fazer.
Nestes jogos o que interessa no fim de contas é a arte e a história, sendo que a jogabilidade acaba por ser apenas um veículo secundário para estender a durabilidade e variar o ritmo do jogo. Enquanto a arte é bonita e variada, as animações são bastante rudimentares e repetitivas, sendo baseadas em poucas poses distintas. A história também é não-existente, com quatro raparigas diferentes para conhecer. As conversas ficam pelo mais superficial possível, com quase nenhuma caracterização e nenhum conflito ou desenvolvimento.
Em conclusão, para o primeiro jogo hentai que avaliei, dou um NÃO RECOMENDO pesadíssimo. O único interesse que posso ver neste jogo será curiosidade artística, pois o traço usado nas personagens é bonito. Mesmo assim, de certeza qua qualquer artista consegue ver todas as imagens no google e usá-las como referência, por isso nem por aí vale a compra. Em suma, mesmo sendo um total noob no mercado de jogos puzzle hentai, de certeza que existem opções muito melhores ao mesmo preço. Pelo vistos muita gente discorda de mim, pois este é o quarto jogo da série e de certeza que vêm aí mais.