O género das plataformas não é certamente o mais eficaz para jogos de horror, mas Little Nightmares consegue captar na perfeição todos os arrepios e saltos na cadeira, típicos de formatos na primeira ou terceira pessoa. 

O primeiro jogo foi uma excelente surpresa, misturando elementos de plataformas, com resolução de puzzles e sequências furtivas. E para esta sequela a Tarsier Studios mantém a mesma fórmula, mas expandia-a com mestria. É um jogo ainda mais negro, com muito terror psicológico, sequências típicas de “pernas para que te quero” e ainda mais aberrações. 

O gameplay continua no centro deste Little Nightmare 2. Os saltos entre as plataformas, agarrando-se em esforço, a manipulação de objetos para alcançar lugares mais altos. Ou outros elementos como o uso de uma lanterna para imobilizar certos inimigos ou um comando de televisão que permite o teletransporte. São elementos que o estúdio vai introduzindo em cada um dos cinco cenários temáticos disponíveis no jogo. Uma escola, um hospital ou uma zona residencial em que os inimigos são aberrações viciadas em televisão, como uma crítica ao tempo despendido frente aos aparelhos. 

Nesta sequela controlamos uma nova personagem, desta vez um rapaz chamado Mono, mais uma vez, em fuga num mundo populado por adultos aberrantes. Só na escola lidamos com outras crianças, com cabeça de porcelana, salientando o bullying como crítica social. A professora é provavelmente a maior aberração do jogo, mas existem outros inimigos verdadeiramente arrepiantes ao longo da aventura. 

O jovem não tem armas, mas utiliza a sua agilidade e alguns itens para superar o percurso, e a maior parte dos níveis está acompanhado de outras crianças, neste caso a própria Six, protagonista do primeiro capítulo. Há puzzles onde é necessário usar a força combinada dos dois para empurrar objetos ou dar uma mãozinha para puxar. E isto sempre no fio da navalha, e nem sempre esconder no canto escuro estamos imunes à sua descoberta. 

O ambiente sempre sombrio dos cenários ajuda a criar este momento de terror. O jogo de luzes e sombras, a chuva intensa dos cenários exteriores, e todos os elementos sem qualquer sentido contribuem para o sentimento constante que algo nos vai cair em cima a qualquer momento. E o estúdio nem sequer nos bombardeia com inimigos ou perigos. Por vezes o vazio, os diversos cenários sem ninguém, conseguem ser igualmente tensos. E isso é um exemplo do excelente design do jogo. 

Os puzzles são igualmente inteligentes, uns são extremamente óbvios e requerem empurrar caixotes para alcançar alturas. Mas outros requerem encontrar fusíveis e gerir tomadas elétricas para evitar choques e ao mesmo tempo eliminar inimigos. Mesmo nas poucas sequências de ação, parece mais a personagem a auto-defender-se, de forma tímida, do que propriamente uma mecânica de combate. As armas são sempre grandes para a personagem, como que de circunstância. 

Existem ainda outros puzzles mais elaborados, tais como encontrar e colocar peças de xadrez para ativar uma porta. Ou atrair inimigos para um lado e fugir pelo outro.  

Outro aspeto estético que eleva o horror deste jogo, é que mesmo com inimigos monstruosos, praticamente nada é orgânico. Somos atacados por manequins e próteses, crianças com cabeça de porcelana e outros elementos como se vivêssemos mesmo um pesadelo. E o título assenta que nem uma luva.  

E não existem textos, cut scenes com diálogos. A linguagem é toda visual e sem explicações para as mecânicas, tudo é feito na experimentação do momento na escola da Nintendo: um primeiro exemplo simples, e depois a dedução dos jogadores, sem os puxar pela mão. Apenas Six pode ocasionalmente dar uma dica, apontando para algo ou metendo-se em posição para ajudar a trepar.

Sendo um jogo de plataformas 2D na sua perspetiva, de scroll lateral na sua essência, os cenários também têm alguma profundidade para explorar melhor e procurar zonas secretas e itens escondidos como chapéus ou fantasmas.   

Little Nightmares 2 é tudo o que poderíamos esperar da sequela do excelente jogo que foi o primeiro. Melhores valores de produção, puzzles mais arrojados, e ainda mais terror psicológico. Para quem gostou do original, vale bem a pena. A única falha talvez seja a impossibilidade de um segundo jogador entrar na partida para assumir Six, e partilhar a cooperação.