O mercado continua a ser bombardeado com títulos indie apostados em replicar experiências das velhas arcades e das consolas de 16 bits. O conceito de pixel art disfarça os orçamentos limitados na construção de cenários mais elaborados e atuais, mas ao mesmo tempo desperta a nostalgia dos jogadores mais velhos. Obviamente quando os jogos são bem feitos. E Huntdown é daqueles que consegue com mestria manter-nos um sorriso na cara, de uma ponta a outra.
Não só consegue replicar o conceito de jogos de plataformas side scrolling 2D, com uma jogabilidade rápida e muito refinada; como o jogo em si pisca o olho a diversas referências dos anos 1980/90, dos videojogos ao cinema, desde filmes como Blade Runner, the Warriors, Back to the Future, entre outros clichés de Hollywood, metendo ninjas, samurais, Black Power e Michael Jackson. A cultura pop vai até onde estiver o conhecimento dos jogadores, sobretudo em áreas secretas onde podem encontrar referências a Escape From LA ou mesmo Gremlins.
Importa dizer que o jogo da Easy Trigger Games consegue ser desafiante sem ser frustrante, dependendo do nível de dificuldade que optarem, mas quanto mais jogarem, mais skill vão desenvolver com a personagem. Os níveis têm pontos de checkpoint bem colocados, pelo que não precisam começar todo o nível de novo quando gastam toda a energia.
Vão habituar-se a usar as suas habilidades, nomeadamente o precioso dash, para sair de apertos, como usar os elementos do cenário em favor, tais como carros, bidões e até refugiar em portas e aberturas no cenário lembrando o Blackthorn da Blizzard. O sistema de cobertura funciona muito bem e adiciona grande valor à ação, válido tanto para a personagem, como para os inimigos.
A história remete-nos para um futuro onde a tecnologia evoluiu, mas parece que a criminalidade mantém-se muito ativa. As ruas estão repletas de gangs de marginais que se agrupam nos vários pontos da cidade e a polícia corrupta não ajuda a colocar a lei. O jogador assume o papel de um dois três caçadores de recompensas, com o objetivo de encontrar e caçar os líderes de cada região. Claro que para isso terá de enfrentar hordas de inimigos e mini-bosses pelo caminho.
O jogo assume-se com um conceito próximo de um Metal Slug ou Contra, em que a personagem principal percorre os níveis matando tudo o que aparece à frente, até encontrar o boss final da área. São quatro cenários temáticos, inspirados também em diferentes géneros de filmes, nomeadamente o ambiente futurista de Blade Runner, não faltando carros voadores, ou Back to the Future, com inimigos a usarem hoverboards. Seguem-se ambientes negros dos esgotos e metropolitano inspirado por The Warriors. Há outros como a China Town ou no topo de arranha-céus.
É possível jogar com um amigo, na mesma plataforma, assim como escolher um dos três mercenários disponíveis, cada um com a sua arma principal e secundária com que começa o nível. Ao longo das missões terão acesso a um vasto arsenal, que incluem metralhadoras, caçadeiras, bazucas, snipers, entre outras pesadas como miniguns, lança-mísseis, laser e até catanas, para dar alguns exemplos.
Mas o combate é bastante dinâmico, com o botão de ação a assumir o melee quando os inimigos se aproximam, permitindo fazer alguns combos interessantes no meio dos tiroteios. A sensação de disparo é realmente impactante, permitindo sentir o poder das armas. Todas são descartáveis, pelo que estão sempre a trocar entre aquelas que mais gostam.
Apesar dos visuais terem um aspeto pixelizado, de 16 bits, estes são detalhados, repletos de pormenores interessantes e animações de fundo, nas suas diferentes camadas de paralaxe. Há sempre ecrãs de publicidade, neons, para além das aparatosas explosões coloridas no ecrã.
Aliás, todo o jogo tem valores de produção elevados no que diz respeito à jogabilidade muito refinada, e uma coisa muito rara neste tipo de produções: todos os diálogos seja durante o jogo, como nos briefings das missões são totalmente vocalizados com excelentes atores.
Destaque para as vozes das três personagens, que são diferentes, destacando-se a personagem John Sawyer que parece em tudo o Duke Nukem, debitando constantemente as suas one liners do mais cliché que há. Não fosse o ator Jon St John a não estar creditado no jogo e diria que se tratava dele mesmo a fazer homenagem ao velho badass.
Os 20 níveis, no geral, não são muito grandes, finalizando com um combate com um boss. Estes encontros são sempre uma surpresa, pois são completamente distintos uns dos outros, com padrões de ataque e transformações ao longo da batalha que temos mesmo de decorar.
Há lutadores de wrestling, motoqueiros, punks, gémeas, cantores de rock, mestres do shaolin. Talvez a minha favorita seja mesmo o soldado afetado psicologicamente com os horrores da guerra. Mesmo os inimigos ao longo dos níveis são variados, atacando a pé ou montados em carros e motas, que torna a ação frenética e sempre divertida.
No geral, Huntdown não é apenas uma homenagem aos jogos de plataformas de ação dos anos 1980/90, mas toda a cultura pop da altura, com diversos easter eggs para descobrir das referências constantes. É um jogo explosivo, divertido e repleto de adrenalina, que é ainda melhor quando jogam com um amigo na mesma plataforma.