Poucas coisas na vida são certas, mas algo que serve como um pilar que sustenta todo o meu gosto por jogos é o facto de que a saga XCOM nunca será má ou terá um mau lançamento. Atenção que não estou a falar se há mais ou menos pessoas que gostam ou não do género, o que quero dizer é que independentemente do jogo ser de estratégia com elementos de base-building e gestão de recursos, a fórmula sobre a qual todas as mecânicas assentam está tão bem conceptualizada e trabalhada que não dá para a estragar sem fugir completamente ao conceito básico do jogo ou cometendo um erro gravíssimo durante o desenvolvimento.

Depth of Extinction viu exatamente o mesmo isso e pensou que talvez seria melhor não copiar a fórmula XCOM descaradamente mas sim acrescentar uma pitada de FTL para apurar o sabor. Então depois dessa decisão estratégica temos um jogo de estratégia por turnos com elementos de management à la FTL.   

100% mesmo assim deixa-me a desconfiar se acerto.

E este foi o ponto que me vendeu o jogo no início. Peguei no jogo (ou antes, olhei para a key porque hoje já não se usam cópias físicas) e assim que comecei a jogar estavam lá presentes todos os passos da fórmula XCOM tal como se tivesse sido executado a partir de uma receita. Passo 1: Largar o jogador numa missão de tutorial em que aprendemos as mecânicas enquanto somos contextualizados do que se está a passar no universo do jogo. Passo 2: Depois de completar o tutorial, voltamos à base e somos informados que temos de ir buscar um certo objeto para progredir na história. Passo 3: Partir em missões com uma equipa treinada e artilhada ao nosso gosto. Passo 4: Repetir o passo 2 e 3 até concluir o jogo.

Há mais que escolha no que toca ao equipamento e habilidades para evoluir os personagens!

Eu sei que há mais que se diga sobre o que se faz no jogo, mas o core game loop é este e é o que está bastante bem reproduzido em Depth of Extinction. A parte que todos esperavam para saber de como é que neste loop se consegue meter FTL informo-vos já que é algures no passo 3. Em vez de irmos em missões isoladas, vamos em expedições que, como no FTL, tem um ponto de partida, um ponto de chegada e pelo meio imensas possíveis paragens com imensas combinações de eventos que podem acontecer quando lá chegamos, resultando em combate, recompensas ou possibilidade de fazer compra e venda de equipamento em mercadores. Toda esta exploração é limitada por um contador de combustível que pode sempre ser abastecido consoante se tenha em atenção ir apanhando os contentores de combustível que vão surgindo nos níveis.

No que toca à jogabilidade está bem replicada também, uma coisa que aplaudo é terem-se lembrado de dar oportunidade ao jogador de poder ter a experiência plena do jogo apenas com o rato (porque todos nós temos aqueles dias em que só apetece recostar na cadeira e ir dando ordens com o rato em vez de estar debruçado sobre o teclado a antecipar uma possível curvatura da coluna como o corcunda de Notre Dame).

Cá está o toque de FTL que os devs tentaram acrescentar para apimentar a fórmula.

A parte que me desencanta em Depths of Extinction é a opção dos developers de irem para um estilo de pixel art muito desinteressante, isto porque todo o cenário, personagens e interação entre eles é feito sem grande encanto e feedback visual para nós que estamos do outro lado do ecrã. Falta aquele crescendo de quando vamos dar um tiro que tem 60% de chances de acertar culminar num falhanço monumental (os veteranos saberão que qualquer tiro abaixo dos 99% de probabilidade de acertar vai falhar garantidamente o alvo) ou aquele espetáculo de dança contemporânea quando se vê um inimigo a voar pelos ares depois de uma granada bem colocada aos seus pés. O som e a história são outros aspetos igualmente pouco impressionantes, pelo que ainda bem que ao menos se basearam no gameplay com provas mais que dadas de ser entusiasmante, mas como numa equipa, não pode ser só um a puxar a carroça.

Vale pela experiência e num mercado difícil de entrar com sucesso como é o dos videojogos há que dar os parabéns por Depth of Extinction estar bem feito mas na minha opinião foi demasiado conservador e não procurou a sua identidade, deixou que a de outros lhe dessem forma e robustez, que acaba por ser o seu ponto forte mas também o seu ponto fraco.