Há qualquer coisa de delicioso nesta nova vaga de jogos voxel que aplicam texturas em pixel art tornando-se uma espécie de jogos bidimensionais extrudados de forma tridimensional. Mayhem in Single Valley é o novo jogo publicado pela tinyBuild e que traz esta nova estética para um mundo de aventura repleto de resolução de puzzles.
É curioso que o tom inicial do jogo deixava antever algo mais profundo do que Mayhem in Single Valley se viria a tornar. Acordamos no nosso quarto com uma lista de tarefas para resolver antes de deixarmos a nossa casa para trás e viajarmos para a Universidade. A nossa casa não é de todo um local feliz: entre o pai bêbado no sofá cujos autores deixam antever um passado de violência doméstica, a mãe, submissa e distinta, e ainda um bebé que ninguém parece ligar nenhuma. Cabe-nos a tarefa de o levar para o berço antes de nos despedirmos dele e daquela casa, com o protagonista a demonstrar que o único arrependimento na sua saída de casa é mesmo o futuro do bebé.
E depois… zombies.
Não que a mudança de tom seja negativa, como um todo, mas depois de um mergulho sério como este, Mayhem in Single Valley decide abraçar uma mudança de cenário para um mundo absurdo repleto de zombies, onde temos de ir resolvendo puzzles para avançar.
Nos primeiros minutos de aventura percebemos que tudo nos quer matar. Desde esquilos famintos, a vizinhos que hoje são apenas mortos-vivos a gritarem na nossa direcção.
Antes de termos uma arma para os derrotar, podemos atirar-lhes qualquer coisa, seja para os atrasar (como bolotas e cachorros-quentes) seja material mais pesado para os tentar “matar”.
Para além de ter uma direcção artística estrondosa, Mayhem in Single Valley é surpreendente na capacidade de podermos interagir – pegar, atirar, mover – praticamente tudo o que existe no cenário.
Como seria de esperar o tom de toda esta sobrevivência ao apocalipse é mais humorístico e colide um pouco com o tom inicial. Sinto que houve uma oportunidade perdida em ter Mayhem in Single Valley a embarcar num caminho mais sério. Entre ficar a meio caminho entre uma história mais profunda e a um vislumbre de Shaun of the Dead.
Mas isso não lhe tira a excelência que tem enquanto jogo de aventura e puzzle.