Into the Nexus, lançado em 2013 para a PlayStation 3 foi o último jogo original na série Ratchet & Clank, seguindo-se um período um pouco mais conturbado na relação da Insomniac Games e a Sony, que levaria o estúdio a deixar a exclusividade com as consolas PlayStation, para se dedicar a multiplaformas com o medíocre Fuse, e mesmo o exclusivo para a rival Xbox 360, Sunset Overdrive

Como se costuma dizer, bom filho à casa torna, e o estúdio acabou por voltar a trabalhar com a Sony no remake do primeiro Ratchet & Clank, em 2016, naquele que é o único jogo da série na PlayStation 4, servindo para promover o filme de animação que estreou em simultâneo. O sucesso reacendeu a relação das empresas, acabando por ser escolhida pela Marvel para produzir Spider-Man, e a Insomniac acabou por ser finalmente adquirida pela Sony como um dos seus estúdios principais. 

Assim, Rift Apart é a primeira nova aventura da série em quase uma dezena de anos, tornando-se um dos títulos mais aguardados do ano para a PlayStation 5. O jogo foi um dos primeiros a demonstrar o potencial da nova consola da Sony, sobretudo ao nível dos carregamentos rápidos entre cenários que estavam ligados pelos tais buracos entre dimensões. E tudo parecia ser bonito, detalhado, colorido e claro, muito fluído. 

E bastam os primeiros minutos de comando na mão para confirmar esses mesmos elogios. E fazendo já o spoiler: Ratchet & Clank: Rift Apart é um dos jogos mais bonitos dos últimos anos. Um verdadeiro desenho animado que ganha vida nas mãos dos jogadores, desde os diálogos, o humor, as personagens, as sequências de ação. Tudo aquilo que os fãs poderiam esperar de uma aventura da série na nova geração. E é de longe, visualmente mais bonito que o próprio filme de animação lançado em 2016. 

E o estúdio não se fez rogado em expandir o leque de personagens que podem fazer toda a diferença no futuro da série, incluindo a adorável Rivet, uma Lombax que vive na nova dimensão onde tem lugar a aventura. E a forma como a Insomniac criou todo um novo universo, com muitas das personagens a receberem uma sua contraparte, é de elogiar. Incluindo Kit, um pequeno robot que serve como uma espécie de versão alternativa de Clank.

E outras personagens como o Captain Quantum, a versão de Captain Quark desta dimensão, Phantom que é a versão de Skidd McMarx ou o hilariante pirata Pierre Le Fer, que claro, é a versão alternativa de Rusty Pete. O pirata é mesmo um dos melhores segmentos de comic relief da aventura, sempre que está presente. E obviamente, que se o eterno arqui-inimigo da dupla, Dr. Nefarious, despoleta toda a confusão da viagem interdimensional, do outro lado vamos encontrar o ainda mais temível Emperor Nefarious. 

E o melhor é que as personagens não são apenas versões alternativas, estas têm personalidades próprias e um papel ativo em toda a narrativa, havendo sempre espaço para piscar o olho aos velhos fãs da série. Embora a história pareça cliché, é bastante boa, obrigando-nos a alternar entre Ratchet e Rivet, viajando entre os diferentes planetas. 

Como seria de esperar, esta aventura joga-se do início ao fim sem um único ecrã de carregamento. As excelentes cinemáticas intercalam com a jogabilidade sem pausas, oferecendo uma verdadeira experiência de nova geração, uma das premissas das novas consolas, neste caso a PlayStation 5. E depois é daqueles jogos em que continuamos a olhar para o ecrã depois de uma sequência, pois não se notam as transições para o gameplay

Quando aterrei em Sargasso, um dos planetas da aventura, estive alguns minutos só a contemplar a paisagem. O sistema de partículas, as texturas, os materiais orgânicos, tudo apresentado num tom colorido, mas ao mesmo tempo credível, num jogo criado nativamente em 4K. E isto sem falar em Nefarious City, que vimos nos trailers, uma metrópole futurista com centenas de veículos aéreos, típica de filmes de ficção científica como Blade Runner.  Os efeitos de iluminação e ray tracing, as explosões e a quantidade de elementos e efeitos especiais no ecrã durante a ação é fenomenal. E as personagens também estão detalhadas, expressivas, dando vontade de passar a mão no pelo dos Lombax por parecerem ser mesmo macios. 

E mesmo os badalados rifts, em que entramos numa dimensão paralela, como se fossem portas, estão presentes no jogo, mas não são mundos completos, como pensávamos. Mas sim, pequenas áreas perdidas associadas a desafios de parkour para encontrar peças de armadura para Ratchet e Rivet. Temos uma pequena demonstração das viagens interdimensionais, mas é um teasing, e não como parte recorrente da aventura. Ainda assim, Ratchet consegue navegar entre pequenos rifts nos mapas, que servem como pequenos teleportes entre localizações próximas.  

Já o jogo em si é bastante familiar para quem jogou os anteriores capítulos da série, ao nível da ação, exploração dos mapas de cada planeta, procurar colecionáveis, e claro, enfrentar os diversos inimigos que aparecem, incluindo alguns bosses. 

As armas continuam a ser as grandes protagonistas, sendo desbloqueadas e adquiridas ao longo da aventura. Existem umas 16 armas e granadas com efeitos bastante exóticos como é apanágio da série. Todas podem ser melhoradas em cinco níveis, mediante o seu uso, mas também podem ser atualizadas com cristais Raritanium recolhidos pelos mundos, melhorando as suas estatísticas individuais. 

Mais que efeitos tresloucados, senti que algumas delas podem ser combinadas para efeitos bem eficazes. Por exemplo, as granadas de cogumelos Mr. Fungi podem ser plantados e funcionam como canhões estacionários, enquanto o repuxo tóxico paralisa os inimigos transformados em verduras. Mudar rapidamente para outra arma explosiva, como o Lightning Rod permite eletrificar todos os inimigos por perto. E depois há armas que congelam, rockets, chuva de buracos negros, snipers que abrandam o tempo ou também ricochete, em que as balas saltitam entre os inimigos. Todas as armas são divertidas e devem ser utilizadas com maior efeito em determinados inimigos. 

O novo comando DualSense expande a experiência de utilização das armas. Vão sentir nas mãos cada disparo, cada impacto e outros elementos como já começa a ser habitual. As sensações hápticas expandem-se às ações das personagens nas cut scenes, ao estado do tempo, e outros elementos. Há uma grande sutileza no uso do comando, durante os combates, tal como já tínhamos visto em Returnal

Os movimentos que podemos fazer entre os habituais deslizar pelos carris, combinados com o correr pelas paredes, ganham novas dinâmicas pela capacidade de dash, ou mesmo deslizar pelas botas a jato que as personagens utilizam. Não faltam sequências especiais, como voar nas costas de um dragão ou de um caracol veloz, e outras dinâmicas de jogabilidade. 

Existem ainda dois tipos de níveis especiais, um em que controlamos Clank em cenários de puzzles em que temos de ativar elementos para conduzir réplicas do robot até ao destino. E outras onde controlamos um pequeno bot chamado Glitch, em que temos de limpar os vírus dos computadores. 

Além disso, cada planeta tem quests alternativas, que oferecem recompensas, tais como armaduras, compostas por capacete, tronco e botas, que além de mudar a aparência da personagem, oferecem bónus adicionais, tais como mais dano melee, redução de dano ou bónus na recolha dos parafusos e raritanium. 

Ratchet and Clank: Rift Apart é um jogo maravilhoso. Tecnicamente impressionante, sobressaindo-se a experiência da Insomniac a criar mundos intensos, histórias cativantes e personagens memoráveis. Este é sem dúvida um dos melhores jogos do ano, e daqueles que me fariam comprar uma consola para jogar. Talvez o único problema é que nem damos pelo tempo passar enquanto jogamos, e fica-se com a sensação de que é uma aventura curta, ainda que dure uma boa dezena de horas. Um filme animado com 10 horas de duração, leia-se.