Destroy All Humans! sempre me chamou a atenção. Não consigo particularizar uma razão, creio que sobretudo por juntar muitas coisas que gosto como o humor, a temática alienígena, a palete de cores muitíssimo similar à dos desenhos animados e uma tentativa de emular os anos 1950 nos States. Quando joguei a primeira vez não achei o jogo particularmente interessante e o tempo não lhe fez nenhum favor, quanto mais até acho que o facto de ter ficado mais velho só me fez ficar mais aborrecido perante todos estes clichés.

Em Destroy All Humans! jogamos como Crypto, um clone alienígena da raça Furon que há muito que só se consegue multiplicar por clonagem. Infelizmente esse processo tem feito com que gradualmente se tenham tornado mais burros, numa espécie de consanguinidade extraterrestre, sendo agora necessário colher ADN fresquinho para inverter esse processo. É aqui que entra o nosso parceiro, o cientista meio maluco Orthopox, possivelmente o último Furon inteligente e também o personagem que nos passa o jogo todo a debitar ordens e enviar em missões.

Nesta invasão ao nosso planeta as missões são curtinhas e repetitivas. Duma forma genérica temos missões de acção ou combate em terceira pessoa, missões de camuflagem ou missões em que controlamos o disco voador e temos de destruir coisas. De todas as que gostei mais foram aquelas em que controlava o disco voador, mesmo tendo de admitir que eram bastante redutoras no seu propósito. Nas missões de combate tínhamos de usar uma de 4 armas, sendo a que mais gostei a que mandava um raio que depois de desenvolvida transmitia para diversos alvos, e aquela que mais me decepcionou foi a sonda anal, que depois do primeiro sorriso associado à evidente piadola se assumiu como uma arma inútil e que raramente usei sem ser obrigado. As missões de camuflagem envolviam termos de assumir uma qualquer pessoa da rua sendo que o catch era que para mantermos a forma humana tínhamos que ir fazendo scan a diversas pessoas. Esse mecanismo envolvia ouvirmos os seus pensamentos, porém o número de frases era tão curto que rapidamente se tornaram repetitivas e dum aborrecimento atroz.

Crypto tem poderes e armas bastante divertidos de usar

Talvez numa tentativa de dar algum replay value ao jogo cada missão tem um objectivo principal e pelo menos um objectivo acessório. Embora sem serem muito difíceis, nem sempre conseguimos atingir os objectivos acessórios logo à primeira e acabamos por tentar novamente depois de desbloquearmos cada cenário. Eu tive de fazer isso um par de vezes para poder desbloquear umas evoluções para derrotar o boss final, e não porque queria repetir o nível.

Está sempre presente a sensação de poder no nosso personagem, muitas vezes de forma abusiva e pouco enquadrada, já que dá sempre a impressão que apenas um alienígena chega para conquistar todo um planeta, logo nem se percebe bem porque se tem de andar para trás e para a frente em missõezinhas quando nos sentimos tão overpowered perante quase tudo. Isso nem é a única coisa mal enquadrada, já que não faz sentido, por exemplo, Crypto ser mais inteligente do que o clone anterior quando eles estavam a ficar cada vez mais burros.

Os nossos inimigos são o exército e a versão decalcada dos Men in Black deste jogo, os agentes da agência Magestic. Tirando o seu líder todos os bonecos parecem iguais, apenas com skins diferentes e esse é só mais um dos pontos que torna o jogo pouco interessante para o potencial que aparenta no primeiro par de horas onde nos explicam como se joga e nos vão dando todo o nosso arsenal de armas e poderes.

Os níveis onde controlava o disco voador foram os meus favoritos.

Começando com uma história gira e um punhado de diálogos promissores Destroy All Humans! cedo cai na repetição, nos diálogos forçados com piadas datadas e pouco ou nada engraçadas, uma história que cedo deixei de ouvir e num mundo aberto vazio e sem grande coisa para explorar para além de procurar alguns coleccionáveis. Arrisco-me a dizer que após o primeiro choque o que, para mim, salvou este jogo foi o facto de as missões serem muito curtas, o que me permitiu jogar uma ou duas por dia antes de jogar o jogo que verdadeiramente queria jogar. Também notei uma assimetria grande nos níveis, muitas vezes até dentro da mesma missão, já que a generalidade delas era bastante fácil, mas aqui e ali existiam partes com uma dificuldade absurda (quando comparado) e mesmo o boss final teve uma dificuldade que nem parecia do mesmo jogo.

Destroy All Humans! é um jogo já com 16 anos e isso nota-se bem aqui. A THQ veio ocupar, e muito bem, o espaço que lentamente se estava a apagar dos jogos AA, e nesse aspecto este é um excelente espécime desse legado em extinção, contudo há sempre algo em cada uma das suas vertentes que me impede de o recomendar sem reservas, há sempre um senão. Embora divertido e mexidote, fica curto quando pensamos em todo o potencial, parece inexplorado quando olhamos para os nossos poderes, o combate parece unidimensional quando olhamos para as nossas armas, os diálogos parecem pouco divertidos para um jogo satírico e todo o pacote é repetitivo a rodos. É um mau jogo? Não. Faz aquilo a que se propõe, mas provavelmente há maneiras melhores de passar 15 horas quando temos tanto jogo novo a sair todos os dias.