Caçada Semanal #275

Malta já entradota: puxem lá pela cabeça e lembrem-se daquela fase dos anos 1980 e início dos anos 1990 quando os clubes de vídeo estavam cheios de cassetes para alugar de filmes de Kung Fu. Filmes asiáticos (alguns com actores americanos) mas dobrados em inglês, em que a voz parecia vir com delay em relação aos movimentos dos lábios.

Uma verdadeira febre pelas artes marciais que herdámos do malogrado Bruce Lee, e que se sente até hoje. Os dois indies de hoje, coincidentemente, são sobre Kung Fu.

Kung Fu Jesus and the Search for Celestial Gold [PC]

É impossível não jogar Kung Fu Jesus and the Search for Celestial Gold sem ter a ideia de que alguém andou a meter ácidos e esqueceu-se de desligar o Unity enquanto o fazia. Que raio de trip psicotrópica é que iria fazer alguém lembrar-se de colocar Kung Fu e Jesus na mesma frase, numa mistura que só posso apelidar de explosiva, para ser simpático.

Na sua essência este é um side-scrolling beat’em up fraco, que em cada minuto de jogo nos lembra que há 30 anos já muitas das empresas históricas faziam melhores jogos do género do que este. Há um desnível entre o muito dano que damos e o muito dano que recebemos que tornam este jogo por vezes injustamente difícil. 

Mas no fundo, no meio de todo o psicadelismo e esquizofrenia deste Kung Fu Jesus and the Search for Celestial Gold, o título é uma paródia a todos os adeptos das teorias da conspiração, já que este Kung Fu Jesus passa muito tempo a ver programas tipo Infowars e acredita em todo o tipo de teorias estranhas. Provavelmente é negacionista da Covid.

Para justificar as dezenas de GBs que o jogo ocupa, há uma promessa de mais de 60 horas de conteúdo em diversas runs distintas e em diversas linhas de enredo diferentes, que ainda assim, no meio de toda a bizarria deste Kung Fu Jesus and the Search for Celestial Gold, continuam a não ser apelativas para toda a estranheza que ele nos traz.

KungFu Kickball [PC, PS4, Switch, Mac, Xbox One]

Falando em estranheza e o vício ocidental do Kung Fu, lembram-se quando em 2001 o realizador Stephen Chow decidiu pegar nessa febre que o mundo viveu com o Kung Fu (e que chegou com delay a Portugal) e juntá-la ao futebol, criando o filme Shaolin Soccer? KungFu Kickball, recém-lançado em Early Access é uma espécie de conversão em jogo indie.

Com uma direcção artística entre a pixel art e a estética de Steven Universe, em KungFu Kickball é fruto do one-man show Jonah Wallerstein. Um sports game misturado com brawler onde temos de marcar golos em sinos colocados nas extremidades dos níveis.

Em KungFu Kickball os combates em duelo ou em dois para dois, envolvem pontapés, murros, cabeças e ataques especiais, tudo com um objectivo em mente: marcar golo.

Os diversos níveis têm elementos distintos de level design que transformam as arenas, obrigando-nos a adaptar-nos, um pouco à semelhança do que pai de todos estes jogos de luta e festa, o Super Smash Bros. faz. 

Estando em alpha é normal que existam algumas falhas, e uma delas é o óbvio input lag que existe, e que em alguns aspectos prejudica um jogo que se quer tão intenso e ao mesmo tempo preciso.

Aproveito também para deixar uma sugestão e uma dúvida a Jonah: será que vai haver um lutador/jogador do Bruno Alves?