Por acaso perderam tempo de vida a jogar Dungeons and Dragons Dark Alliance no GamePass? Tenho pena. Gastaram dinheiro para comprar o jogo? Tenho ainda mais pena. Sabem onde podiam ter gasto esse dinheiro como deve ser e ter aventuras bem mais interessantes na companhia de Drizzt Do’Urden, Regis, Wulfgar, Cattie-Brie, Bruenor e ocasionalmente Guenhwyvar a pantera? Dungeons and Dragons The Legend of Drizzt. E sim, vou escrever sobre um jogo de tabuleiro com 10 anos.
Seguindo os passos de Castle Ravenloft e Wrath of Ashardalon, The Legend of Drizzt (LoD) é o terceiro jogo da série da Dungeons and Dragons que pode ser chamado um gateway para Dungeons and Dragons. LoD segue as aventuras de Drizzt Do’Urden o Drow criado por R.A. Salvatore que ainda hoje é provavelmente dos personagens mais conhecidos do universo de Dungeons and Dragons. O jogo permite-nos encarnar não só este personagem mas também dos seus companheiros numa campanha de 15 capítulos/aventuras de co-op em vários níveis. Mas vamos por partes, começando por o que está na caixa?
Montes de coisas. Mesmo montes. Um manual de instruções, um livro de campanha com as 15 aventuras, 45 minifiguras que podemos pintar desde os heróis a vários inimigos de tamanhos e espécies diferentes. Mais de 200 cartas de jogo, cartões de personagens, tokens e cartas de terreno tipo puzzle e um D20 (para quem não sabe é um dado com 20 lados). A caixa tem alguns espaços de arrumação mas especialmente depois de meter tudo em sleeves o espaço não está muito bem aproveitado especialmente para as minifiguras. Mesmo assim, não é o pior caso de arrumação, ou falta dela, que já vi. Em relação à qualidade, é tudo resistente e bem feito, a arte é muito boa e se puder levantar falhas maiores seria nas figuras. Os moldes são decentes mas o material tende a ser um pouco maleável demais que pode fazer com que tomem formas mais invulgares se não forem guardadas com cuidado.
Como jogar?
Primeiro é preciso amigos, ou família, ou na pior das hipóteses para os forever alones do mundo dos boardgames ter vontade de controlar vários personagens ao mesmo tempo. Faz-se mas não é ideal. Bonito, bonito é ter pelo menos mais três pessoas para jogar o boardgamezito. Tirando a primeira missão que é feita para aprender onde apenas um jogador controla Drizzt. O jogador escolhe as cartas de acção que mais se adequam à maneira que quer jogar com o personagem e coloca a figura numa carta inicial semelhante a uma peça de puzzle gigante. Ao chegar a uma extremidade da peça movendo-se no seu limite máximo de quadrados pega numa peça do monte e coloca onde quer. Estas peças podes espoletar um inimigo ou um acontecimento. O jogador retira a carta respectiva e segue as suas instruções, quando um herói ou vilão estão em casas adjacentes (ou dentro de range para alguns) combatem em estilo de D&D, rola-se um D20 se o número for superior à defesa do alvo (AC) faz-se o dano respectivo, se for inferior erra-se o ataque. Simples e eficaz.
A maior parte dos inimigos é derrotado com um ou dois golpes enquanto é necessário os heróis sofrerem mais dano por uma questão de equilíbrio mas também de celeridade porque o jogo é focado em movimento e acção e não tanto em Role Playing. Mesmo assim há inimigos que podem dar cabo dos jogadores num instante, é necessário ter cuidado. A cada turno, cartas de evento ou terrenos vão sendo colocadas em jogo e os personagens avançam nas masmorras, numa espécie de roguelike de tabuleiro. Algures a meio do monte de peças de terreno foi colocada previamente uma peça do objectivo da missão, quando esta é encontrada coloca-se também uma peça especial, apresenta-se o “boss” dessa missão e o objectivo final e tenta-se acabar a sessão.
Tenta-se é a expressão chave aqui porque ao contrário da primeira missão todas as outras são cooperativas querendo dizer que ou ganham todos ou não ganha ninguém. Se algum dos heróis for derrotado acaba o jogo. Esta é, para mim, a verdadeira diversão do jogo. É a maneira como conseguiram colocar num jogo de tabuleiro a sua génese do mundo de D&D em que temos que trabalhar em equipa e muitas vezes sacrificar os nossos interesses pessoais para todos ganharem. Onde temos que perceber como os personagens e as suas habilidades se complementam uns aos outros, como podemos tirar partido delas e fazer boas combinações de ataques numa espécie de um por todos e todos por um de high fantasy. Enquanto é a maior arma de The Legend of Drizzt é também a sua maior fraqueza porque embora tenha alguns cenários que podem ser jogados a solo, não são minimamente divertidos.
A saga de jogos de tabuleiro de Dungeons and Dragons acaba por ter uma história na minha história de jogos. O primeiro jogo desta grande série é Castle Ravenloft. O meu primeiro jogo de Advanced D&D foi Ravenloft: Strahd’s Possession que me levou a descobrir Dungeons and Dragons e o mundo dos TTRPGs. The Legend of Drizzt foi a minha primeira compra destes jogos de D&D e Dark Alliance que tem como personagens principais Drizzt e os seus companheiros foi o último jogo com o selo de Dungeons and Dragons que tentei jogar e me ajudou a perceber que nesta fase estou mesmo muito mais virado para o análogico do que para o digital. Não posso dizer que tenha fechado o círculo mas ajudou bastante a tomar algumas decisões neste momento.
É um jogo perfeito? Não
É o melhor da série de jogos da Dungeons and Dragons? Provavelmente também não, até porque quem conhece bem os livros de Salvatore é que irá tirar mais prazer deste jogo pelas referências a personagens, locais e até nomes de armas.
É divertido? Sem dúvida se gostam de dungeon crawlers. É bom para quem está a começar neste estilo de jogo de tabuleiro e é bom como um Dungeon and Dragons-lite, uma gateway drug para os mundos de Tabletop Role Playing Games. Tem a particularidade de poder ser combinado com os outros jogos da série: Castle Ravenloft, Wrath of Ashardalon, The Legend of Drizzt, Temple of Elemental Evil, Tomb of Annihilation e Waterdeep – Dungeon of the Mad Mage. Com o avançar de cada um há pequenos ajustes e melhorias mas no seu geral tendo dois ou três, podem combinar personagens, terrenos, tesouros, inimigos para manter as coisas mais diversificadas. Outro bónus, é que se avançarem deste para o terreno para o de D&D mais avançado já têm minifiguras e até peças para fazerem mapas.